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Rio 2016/Paralimpíadas

Abertura das Paralimpíadas teve emoção do público e vaias a Temer

Apesar de um espetáculo bem mais simples e com menos efeitos especiais do que o das Olimpíadas, a cerimônia de abertura das Paralimpíadas na noite desta quarta-feira (7) teve muita emoção dentro e nas arquibancadas lotadas do Maracanã. A presença do presidente Michel Temer na tribuna de honra do estádio provocou reações de protestos.

Queima de fogos durante a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio.
Queima de fogos durante a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio. REUTERS/Ricardo Moraes
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Enviado especial ao Rio de Janeiro,

A coragem e a determinação dos atletas com deficiências inspiraram os três diretores de criação do espetáculo: o artista plástico Vik Muniz, o designer Fred Gelli e o escritor Marcelo Rubens Paiva. Eles trabalharam sob a direção artística de Paula Mello e contaram com a opinião e sugestões de deficientes visuais para compor o espetáculo que teve como lema: “O Coração não conhece limites”.

Nos telões, o vídeo de abertura trouxe imagens de Stoke Mandeville, berço do movimento paralímpico, e mostrou o presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), Philip Craven, passeando de cadeira de rodas por algumas das inúmeras paisagens do Brasil.

Situações inusitadas e divertidas tiveram como objetivo dar as boas-vindas de maneira simpática e acolhedora, concluindo a primeira parte com a entrada do presidente do IPC no Maracanã,  dando início à contagem regressiva para o início do show diante do estádio do Maracanã lotado.

O treinador de atletas com deficiências Aaron Wheelz desceu a Mega Rampa de 17 metros de altura, o equivalente a um prédio de seis andares, em alta velocidade, atravessando o círculo representando o número 0.  Assim, eledeu a largada para mais de três horas de uma festa não tão espetacular como na abertura das Olimpíadas, mas igualmente vibrante, com muita criatividade e emoção.

O treinador de esportes para deficientes, Aaron Wheelz desceu uma mega rampa de 17 metros em cadeira de rodas na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016.
O treinador de esportes para deficientes, Aaron Wheelz desceu uma mega rampa de 17 metros em cadeira de rodas na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. aron

A segunda fase do espetáculo lembrou uma das mais importantes engenhosidades criadas pelo homem: a roda. A escolha por uma roda de samba no meio do gramado, fazendo um “pot pourri” de um rico repertório de compositores cariocas, foi uma clara homenagem à cidade anfitriã dos Jogos.

Objetos cênicos lúdicos desenvolvidos para que cadeirantes pudessem dirigir entraram em cena como rodópticas, biciclópticas e locomotópticas, esta última inspirada em uma brincadeira de Marcelo Rubens Paiva com seu filho.

Outro efeito visual, desta vez com a ajuda da tecnologia, transformou o palco em uma piscina virtual. Nela, as braçadas foram de um dos maiores nomes do esporte paralímpico do país, o nadador brasileiro Daniel Dias, vencedor de 15 medalhas em Jogos, sendo 10 de ouro.

Na sequência, a entrada de um menino com bolas coloridas gigantes e pássaros deu início à transformação do cenário em uma praia gigante ao som de “Aquele Abraço” de Gilberto Gil. Personagens típicos e frequentadores das praias cariocas como vendedores de mate dividiram espaço como portadores de deficiência física que participam do projeto “Praia para Todos”.

A bandeira brasileira foi trazida por Roseane Miccolis, filha do pioneiro do esporte paralímpico brasileiro, Aldo Niccolis, que divulgou o esporte e o direito à cidadania para as pessoas com deficiências nos anos 1950 e 1960. O hino nacional executado ao piano pelo maestro João Carlos Martins foi o primeiro grande momento de emoção do público.

O hasteamento da bandeira foi ao som do hino nacional executado no piano pelo maestro João Carlos Martins, um dos momentos marcantes da cerimônia de abertura.
O hasteamento da bandeira foi ao som do hino nacional executado no piano pelo maestro João Carlos Martins, um dos momentos marcantes da cerimônia de abertura. REUTERS/Jason Cairnduff

 A seguir, a equipe de atletas independentes abriu o desfile das 164 delegações participantes da 15ª edição das Paralimpíadas. Junto aos porta-bandeiras, os nomes dos países foram escritos em peças de um quebra-cabeças. Enquanto as bandeiras dos países subiam ao palco, um grupo de voluntários montava no centro do gramado um gigantesco quebra-cabeça em forma de coração com imagens dos rostos dos para-atletas.

A delegação brasileira, última a entrar, levantou o público durante seu desfile. A mais longa etapa do espetáculo foi concluída com a entrada de Vik Muniz para colocar a última peça no centro do quebra-cabeça, finalizando o coração gigante que começou a bater com efeitos visuais e sonoros.

Vaias e xingamentos a Temer

Os discursos protocolares provocaram reações de entusiasmo e protestos do público. Primeiro a falar, o presidente da Rio 2016, Carlos Nuzman, foi muito aplaudido ao citar o exemplo inspirador dos atletas e elogiar a realização do evento. “Celebramos hoje um grande desafio, mais acessível para todos, mais fraterno, onde todos podem andar lado a lado, sem obstáculos”, declarou. “Quando todos duvidam, nós brasileiros crescemos, somos de realizações impossíveis”, afirmou.

Mas Nuzman foi vaiado quando mencionou a parceria envolvendo os governos federal, estadual e a prefeitura do Rio para a realização do evento. Ao aguardar o silêncio do público, deu margem a mais manifestações que incluíram vaias, xingamentos e aplausos que ecoaram pelo Maracanã.

Roteiro parecido aconteceu com o presidente do IPC. Depois de ser aclamado ao homenagear os cariocas e os brasileiros, e até ao lembrar dos dois competidores refugiados, Philip Craven provocou uma estrondosa vaia no estádio ao mencionar o presidente Michel Temer. A reação do público abafou completamente a tradicional declaração de abertura oficial dos Jogos do chefe de Estado.

Rapidamente o constrangimento deu lugar à sequência artística do espetáculo, com uma coreografia usando efeitos luminosos para questionar o predomínio e a complexidade da visão. Um par formado por bailarinos deficientes visuais fez uma coreografia para mostrar o desenvolvimento de outros sentidos quando se é privado da visão.

Amy Purdy dança com um robô durante a cerimônia de abertura dos Jogos.
Amy Purdy dança com um robô durante a cerimônia de abertura dos Jogos. EUTERS/Sergio Moraes

A entrada de painéis gigantes apresentando os pictogramas paralímpicos também encantou o público, assim como a coreografia que formou os três Agitos - correspondentes aos aros olímpicos-, e que representam a expressão “eu movo”, em latim.

Um grupo de crianças portadoras de deficiências acompanhadas de adultos trouxe a bandeira paraolímpica para ser hasteada e ser usada para os juramentos de atletas, juízes e treinadores.

Os milhares de expectadores voltaram a se emocionar com a entrada em cena da superatleta Amy Purdy, amputada das pernas do joelho para baixo. Medalhista de bronze em Sochi, na Rússia, Amy aprendeu a gingar especialmente para a cerimônia e protagonizou um dos momentos fortes do espetáculo com uma coreografia em dois tempos com um robô. Primeiro ela dançou com uma par de próteses, e depois as substituiu por sua “Blade”. A experiência quis mostrar a harmonia entre ser humano e máquina.

Emoção no revezamento da tocha

Um vídeo com imagens da tocha paralímpica percorrendo diversas cidades do país introduziu a entrada no Maracanã de um dos maiores símbolos esportivos pelas mãos do atleta Antonio Delfino. A chuva já caia forte no estádio quando na segunda etapa do revezamento, a medalhista Marcia Malsar, se locomovendo com um andador, caiu durante o percurso. Ela se levantou, emocionou o público e foi aplaudida de pé até entregar a tocha para outra atleta, Adria Rocha dos Santos.

Coube ao nadador potiguar Clodoaldo Silva, também conhecido como “Clodoágua”, maior medalhista de ouro do Brasil, a honra de acender a pira criada pelo escultor americano Anthony Howe, que trabalha com esculturas cinéticas impulsionadas pelo vento.

Sob muitos aplausos e debaixo da chuva forte que não dava trégua, o “Tubarão Paralímpico” subiu uma rampa móvel até fazer o gesto que manterá a pira paralímpica acesa até 18 de setembro, dia de encerramento dos Jogos.

O nadador Clodoaldo Silva acendeu a pira no Maracanã.
O nadador Clodoaldo Silva acendeu a pira no Maracanã. REUTERS/Sergio Moraes

Um show do cantor Seu Jorge seguido da tradicional queima de fogos de artifício pôs ponto final de uma cerimônia sem muito luxo, mas que ficou gravada na memória e encheu os olhos dos participantes e do público.

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