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Rio 2016/Torcida

Torcida brasileira nas Olimpíadas é vibrante e polêmica

Nas arenas, estádios, ginásios e todos os outros locais de competição dos Jogos Olímpicos da Rio 2016, é notória e bem audível a presença da torcida brasileira. Na maioria vestidos de verde-amarelo, principalmente com a camisa da seleção de futebol, os torcedores demonstram euforia na hora de incentivar os atletas brasileiros, mas também não hesitam em encher os pulmões e vaiar os adversários dos compatriotas.

Torcedores brasileiros no Estádio Olímpico apoiaram Thiago Braz e vaiaram o saltador francês Renaud Lavillenie.
Torcedores brasileiros no Estádio Olímpico apoiaram Thiago Braz e vaiaram o saltador francês Renaud Lavillenie. REUTERS/Kai Pfaffenbach
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Do enviado especial ao Rio de Janeiro

O comportamento, para alguns polêmico, da torcida brasileira virou um dos principais assuntos desde o início das competições e voltou aos holofotes da mídia com as reclamações do francês Renaud Lavillenie. Recordista do salto com vara e favorito ao título olímpico, o atleta foi vaiado na hora de fazer seu salto, na segunda-feira (15).

Perdeu a medalha de ouro para Thiago Braz e acusou a torcida de desrespeitosa, sem espírito esportivo e falta de “fair play”. Os comentários inflamaram as redes sociais e, na cerimônia de entrega de medalhas, no dia seguinte, Lavillenie voltou a receber uma estrondosa vaia antes de subir ao pódio para receber a medalha de prata e derramar muitas lágrimas durante a execução do hino brasileiro.

Presente no Estádio Olímpico onde presenciou a vitória de Thiago Braz, o turista francês Pierre Legat não concordou com seu compatriota famoso: “Quando você compete fora e tem 45 mil, 50 mil pessoas torcendo para seu adversário, você tem que estar preparado mentalmente para isso. Faz parte do esporte”, declarou. “Na França, seria a mesma coisa”, garante.

A remadora alemã Marie-Catherine Arnold adotou um tom mais ameno, mas também criticou os torcedores brasileiros. “Algumas vezes, eles vaiam apresentações de atletas de outros países. Não é justo. Quando é um competidor brasileiro, o clima é silencioso”, observou. “Me parece que a multidão brasileira é a mais barulhenta”, emendou.

Torcedores tiram selfies com a jogadora Marta, do futebol feminino.
Torcedores tiram selfies com a jogadora Marta, do futebol feminino. REUTERS/Bruno Kelly

Em defesa

Vestindo a camisa da seleção, Leandro Silveira, engenheiro civil de Niterói, é um defensor incondicional do jeito brasileiro de torcer: “A gente tem bastante gás, bastante ânimo. É uma torcida muito animada. Europeu é mais frio e não está acostumado com esse calor. Sou a favor de aplaudir quem a gente gosta, vaiar quem a gente não gosta, para fazer uma pressão mesmo. Acho que é típico do brasileiro”.

A turista maranhense Clareiane Dias também não vê exagero algum em gritar e pular nas arquibancadas e vaiar o oponente. “A reclamação faz parte, mas a torcida está dando conta do recado. Afinal, a torcida é quem traz animação e faz a festa”, afirma.

“Tem muitos jogos em que as torcidas são paradas, não falam, eu não vejo incentivo aos atletas, aos times. Eu prefiro ficar como brasileiro mesmo, torcendo e fazendo barulho, mesmo sendo criticado. É a nossa cultura, temos que berrar mesmo”, defende o professor universitário Paulo Márcio Menezes.

As diferenças culturais também foram ressaltadas pelo colombiano Gustavo Murcia, que veio passar 15 dias no Rio para ver de perto as Olimpíadas. “A cultura europeia é, vamos dizer, mais tranquila, muito diferente da nossa. Nós, latinos, somos mais impetuosos, temos mais ginga, ânimo e somos mais alegres”, opina.

Torcedores australianos torcem para seus atletas em confronto no basquete contra a Lituânia.
Torcedores australianos torcem para seus atletas em confronto no basquete contra a Lituânia. REUTERS/Jim Young

Vários turistas americanos encontrados pela RFI Brasil também apoiaram o jeito brasileiro de se expressar em jogos e competições. “São as Olimpíadas e os brasileiros devem estar muito contentes de sediar o evento. Por que não aplaudir e torcer? É o grande espetáculo do esporte”, diz o turista americano Jordan MacLaren.

“Vocês têm que fazer barulho, torcer pelo seu time, por isso estão aqui, senão é melhor ficar em casa. Nos Estados Unidos é igual. Torçam!”, diz sua compatriota, Karen Wilstach.

Intalações temporárias ajudam no barulho

“Posso entender tanto barulho, é a paixão pelo esporte. Mas se alguém tiver que criticar, tem que ser os construtores dessas estruturas que permitem fazer tanto barulho”, brincou Kamp Kraits, da delegação tailandesa.

“Esses estádios e ginásios influenciam as pessoas a fazer ainda mais barulho”, disse, em referência às arquibancadas temporárias de metal, usadas por muitos torcedores para pular. “De qualquer forma, os atletas têm que estar preparados para enfrentar essas situações. Uns vão aplaudir e outros vaiar, faz parte do esporte”, completa.

Torcedores tiram a camisa no pavilhão do Riocentro durante uma partida de Badminton.
Torcedores tiram a camisa no pavilhão do Riocentro durante uma partida de Badminton. REUTERS/Jeremy Lee

Seja nos esportes coletivos ou individuais, atletas precisam de concentração, e, às vezes, de estímulo. Por isso, pedem ajuda para torcida para se motivarem. Diante dessa constatação, a advogada carioca Célia Santos acha que o que vale é o bom senso.

“Eu acho que o certo é você respeitar, ficar em silêncio e ver se o atleta pede ou não o calor humano”, diz a carioca, que já visitou três arenas e locais de competições e viu diferentes modalidades, da ginástica ao vôlei, passando pela canoagem. “Pelo que vi, a maioria dos atletas gosta. Quem perde, vai sempre reclamar de alguma coisa e achar uma desculpa”, concluiu.
 

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