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Rio 2016

Olimpíada do Rio exacerba rivalidade entre Brasil e Argentina

O cruzamento de brasileiros e argentinos nas Arenas e instalações dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro tem sido motivo de apreensão para as autoridades locais. Um esquema especial de segurança está sendo usado para evitar novos confrontos entre torcedores dos dois países.

Torcedores brasileiros e argentinos lotaram a Arena Carioca 1 para o jogo de basquete entre as duas seleções.
Torcedores brasileiros e argentinos lotaram a Arena Carioca 1 para o jogo de basquete entre as duas seleções. Foto:REUTERS
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Do enviado especial ao Rio de Janeiro,

O primeiro episódio de tensão foi no dia 9 de agosto, no Centro de Tênis, quando um torcedor do Brasil e outro da Argentina trocaram socos e pontapés. As cenas de violência chegaram a interromper o duelo entre Juan Martín Del Potro e João Souza.

No dia seguinte, o secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento do Brasil, o ex-nadador Luiz Lima, e o secretário de Esportes, Educação Física e Recreação da Argentina, Carlos Javier Mac Allister, lançaram uma campanha para a convivência pacífica entre as duas torcidas durante o evento.

“Não podemos deixar que nada prejudique esse momento especial para o Brasil e para toda a América do Sul. Por isso estamos aqui lançando essa campanha para que brasileiros e argentinos se abracem “, disse Luiz Lima durante a entrevista coletiva no Rio Media Center.

O secretário argentino lembrou que o “distanciamento” no campo esportivo entre os dois países aumentou depois da Copa do Mundo de 2014, quando a seleção deu um vexame na derrota de 7 a 1 para a Alemanha. A seleção argentina foi à final e foi a vice-campeã do torneio.

Para dissipar a rivalidade fora dos locais de competição, Mac Allister afirmou que os atletas argentinos foram orientados a mostrar uma convivência amistosa com os brasileiros e até estimulados a tirar selfies dos encontros e divulgá-las nas redes sociais. “Estamos no meio de um acontecimento grandioso, histórico, para a América do Sul, e a forma de ajudarmos é com um comportamento impecável de nossos atletas e de nossa torcida”, afirmou.

Partida do basquete teve esquema reforçado de segurança

Uma das demonstrações da promoção dessa convivência harmoniosa entre países rivais foi dada na tarde desta sábado (13) na Arena Carioca 1, palco de um jogo importante para as duas seleções no torneio de basquete masculino. Os capitães das duas equipes entraram com a bandeiras do país adversário e fizeram um apelo para o público torcer com respeito mútuo.

Para evitar novos episódios de violência entre torcedores, como o do tênis, a Força Nacional destacou um número maior de policiais e agentes para garantir a segurança dentro e fora da Arena.

Nas arquibancadas, predominantemente verde-amarela, grupos de argentinos vestidos com as camisetas da seleção de futebol estavam espalhados no ginásio e aguentaram muitas provocações. Com o time à frente do placar, brasileiros empurravam a seleção aos gritos de “Brasil, Brasil”, e também gritavam refrões surgidos durante a Copa do Mundo de 2014, com referência ao Rei Pelé e ao problema de Maradona como as drogas.

As duas torcidas vibraram e sofreram durante um jogo equilibrado, que terminou empatado no tempo regulamentar e mais duas vezes no tempo extra, até os argentinos fecharem em 111 a 107. O placar e a liderança do grupo, fizeram os torcedores argentinos sair da Arena cantando a vitória a plenos pulmões. Apesar das provocações, o clima de rivalidade ficou apenas na quadra.

Jogadores da Argentina comemoram a vitória contra o Brasil no basquete.
Jogadores da Argentina comemoram a vitória contra o Brasil no basquete. REUTERS/Jim Young

O prazer de vencer o Brasil, no Brasil

“A gente está na frente deles no quadro de medalhas. A Olimpíada é na nossa casa e quem manda aqui é o Brasil”, diz o contador carioca Jorge Augusto Monteiro, que balançava uma camiseta do time do Vasco numa tentativa bem humorada de ofuscar a festa argentina. “Eles vieram com tudo, mas a torcida do Brasil veio bem, curtiu, brincou, e o mais importante é estarmos na frente deles no quadro de medalhas”, continuou.

Seu amigo, o administrador de empresas Leandro Vanzelotta, também entrou na brincadeira e na ironia: “Acho que os argentinos fizeram muito esforço para vir aqui. Para juntar um real é preciso cinco pesos argentinos. Eles estão dando a vida para estarem aqui e, mesmo assim, no final, a gente vai ganhar mais medalhas que eles”.
“Esse clima é legal, acho ótimo. Eles estão valorizando mais ainda a primeira Olimpíada na América do Sul. Com a presença deles, aquece o clima, fica mais quente”, opinou.

“Se fosse lá, iríamos fazer a mesma coisa”, garantiu. A provocação é só dentro do ginásio. Aqui fora todo mundo faz festa junto, curte o clima, namoramos as argentinas e vamos que vamos”, concluiu.

A Força Nacional acompanhou a saída dos torcedores brasileiros e argentinos da Arena Carioca 1.
A Força Nacional acompanhou a saída dos torcedores brasileiros e argentinos da Arena Carioca 1. Foto: RFI Brasil

Rivalidade veio do futebol

Orgulhosos com uma geração conhecida pela ouro das Olimpíadas de 2004, em Atenas, argentinos admitem que ganhar do Brasil tem um sabor especial. “Tem rivalidade, é um clássico para nós. Comemoramos dobrado, mais do que quando ganhamos qualquer outra partida. Ganhar do Brasil em qualquer esporte, para nós é muito importante, ainda mais na casa do Brasil”, afirma Diego Texido, de Córdoba.

“Quando os argentinos saem de seu país, se sentem mais fortes, mais argentinos e ainda mais ganhar de uma país tão rival e grande como o Brasil é uma alegria”, explica. “Mas isso fica por aqui, no ginásio. Fora daqui as pessoas nos tratam muito bem”, afirma. Sobre as provocações de um lado e de outro, o turista de Córdoba tem a resposta na ponta da língua: “Um provoca o outro e quando se perde, tem que aguentar as provocações”, diz.

A turista Stefania, não deixou de reclamar do comportamento de alguns brasileiros durante outras partidas dos Jogos. “Muitos brasileiros paravam na frente dos argentinos para impedi-los de ver a partida”, disse.
“Há pessoas que vêm para causar confusão e ofuscam pessoas como a gente, que vem para se divertir”, admite.

“Nos locais das partidas é uma coisa, fora é outra. Encontramos pessoas no transporte público e nas ruas e nada acontece. Fica restrito nas arenas”, garante. “Hoje esteve muito controlado, com muitos policiais dentro e fora. E também controlavam pessoas que abusavam. Deu mais segurança”, completou.

Brasileiros e argentinos se confraternizam no final do jogo de basquete.
Brasileiros e argentinos se confraternizam no final do jogo de basquete. Foto: RFI Brasil

Com a camiseta do Brasil, mas o rosto pintado com as cores branca e azul da bandeira argentina, a educadora carioca Fabiana Martins atraiu a curiosidade do publicitário argentino Martin García. “Ele pensou que eu fosse argentina e se aproximou. Sou brasileira, mas torço para todos os times. É apenas um jogo, temos que ser todos amigos”, disse.

“Não entendo porque muitas pessoas pensam em brigar, tem que ser uma festa. Para a Argentina hoje foi uma festa, e para o Brasil uma festa diferente”, comentou García, sorrindo. Para amenizar a ironia, ele finalizou, simpaticamente: “Vim aqui para os Jogos para isso: sentir o calor dos irmãos brasileiros”.
 

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