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Radar econômico

Fortes incertezas trazem poucas razões para otimismo na economia em 2016

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O ano de 2016 se anuncia delicado para a economia mundial – não apenas para os países em crise, como para os que já davam sinais de recuperação nos últimos dois anos, em especial os Estados Unidos. Entre os países emergentes, a India é o que deve apresentar um melhor desempenho. A desaceleração na China vai seguir afetando a performance de outras potências em desenvolvimento que colocaram suas fichas nas trocas comerciais com Pequim, a exemplo do Brasil.

Telão mostra ações da bolsa de valores em queda em Jacarta, depois de forte turbulência financeira na China na segunda-feira (04/01/2016).
Telão mostra ações da bolsa de valores em queda em Jacarta, depois de forte turbulência financeira na China na segunda-feira (04/01/2016). REUTERS/ Garry Lotulung
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Não é de hoje que o crescimento menor da China impacta no restante do mundo, mas a mudança da conjuntura ainda não foi bem absorvida pelo restante do planeta. A novidade para o ano que se inicia é que o aumento da tensão nas bolsas chinesas pode se transformar em uma bola de neve muito mais perigosa, na opinião do economista Thomas Grjebine, do Centro de Estudos Prospectivos e de Informação Internacional (CEPII), de Paris. O especialista em macroeconomia internacional vê 2016 como um ano “muito preocupante”.

“Há grandes dúvidas sobre até que ponto a China poderá resolver essa crise. Os números do país não param de ser atualizados para baixo. Alguns centros estrangeiros de previsões avaliam que, na realidade, o crescimento do PIB chinês será de 3 ou até 2% neste ano”, observa. “Além disso, muitos dados são duvidosos: não se sabe exatamente o que é verdadeiro nos balanços dos bancos e empresas. Tudo isso faz com que exista um enorme risco de a turbulência atual se transformar em uma crise bancária e financeira na China, o que afetaria profundamente a situação econômica mundial.”

China investe em novo modelo de crescimento

O professor da UNB Jorge Arbache, ex-economista sênior do Banco Mundial, avalia que o crescimento chinês a dois dígitos era, em si, uma anomalia – e, como tal, não poderia durar muito mais tempo. Agora, Pequim se concentra em mudar o padrão de crescimento, investindo pesado em educação e tecnologia, mas deixando órfãos aqueles países que dependiam das exportações de commoditites à China para crescer, principalmente na América Latina e na África.

“A exceção da India, nos países emergentes, de uma maneira geral, a situação não é das melhores. E nos países desenvolvidos, embora eles estejam bem melhor do que pouco tempo atrás, a gente ainda passa por muitas incertezas. A previsão é de que não será um ano de grande arrancada dos países desenvolvidos”, afirma. “Têm muitas questões políticas importantes sobre a mesa, incluindo as eleições presidenciais nos Estados Unidos.”

Tensões internacionais impactam na retomada

As tensões geopolíticas internacionais, como a ameaça de novos conflitos no Oriente Médio, o risco crescente de terrorismo e o preço baixo do petróleo, também não ajudam a economia global a se reerguer de uma maneira mais sólida.

Além disso, os efeitos da mudança da política monetária americana recém começaram a ser sentidos. O maior risco, explica Thomas Grjebine, é que o aumento das taxas de juros gere uma bolha financeira especulativa no país. Nas nações emergentes, a ameaça é de uma fuga massiva de capitais, já que os investimentos nos Estados Unidos tendem a se tornar mais atraentes.

“Eu acho que há muitas áreas de incertezas, especialmente nos Estados Unidos, que não sabemos exatamente para onde vão. No fim de 2015, houve uma primeira alta das taxas dos juros americanos e a situação está bastante frágil”, ressalta o pesquisador do CEPII. “Não sabemos se não haverá uma repetição do ciclo, ou seja, após alguns anos de crescimento, desde 2012, agora vir uma nova fase recessão nos Estados Unidos. E se os americanos desacelerarem, o crescimento fraco na Europa pode demorar ainda mais para melhorar.”

Economia está mais imprevisível

Nesse contexto de mudanças relevantes em curso, um dos fatores mais importantes para o futuro da economia, a previsibilidade, está bastante afetado.

“Vivemos em um mundo mais instável, em que não podemos descartar hipóteses. E para quem se encontra em uma situação de maior fragilidade econômica e politica, é ainda pior”, indica e Arbache. “O Brasil talvez seja um dos casos mais simbólicos, que está claramente em uma situação de grande fragilidade e qualquer mudança internacional importante, seja no comércio, no fluxo de investimentos, no acesso ao crédito ou uma guerra, torna o impacto muito pior.”

Brasil terá ano difícil, mas novo ministro é esperança

A previsão para a economia brasileira não é nada boa: em plena recessão, o PIB pode se contrair cerca de 3% e a inflação deve bater os 6%. Uma das poucas fontes de otimismo pode ser a gestão do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que assume com a árdua missão de consertar as contas públicas, conter o aumento do desemprego e colocar o país de volta nos trilhos do crescimento econômico.

“Dada a urgência da situação e a necessidade de se apresentar alguma coisa, existe uma possibilidade – não sei se grande – de esse ministro vir com algumas reformas importantes. Isso já aconteceu no Brasil, como no início do governo Lula. Ninguém esperava que algumas medidas importantes fossem ser implementadas, mas foram”, relembra Arbache. “Uma situação assim também aconteceu com o Tony Blair, por exemplo. Quando ele chegou no governo britânico, a primeira medida que ele tomou foi dar independência ao Banco Central.”

Para o economista da UBN, uma medida fundamental seria o governo e o setor privado se comprometerem com o aumento da produtividade e da eficiência. Mudanças significativas teriam um potencial de crescimento “gigantesco” já a curto prazo, ressalta o professor.

 

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