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Radar econômico

Alta do custo de vida no Brasil motiva onda de greves

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Com a aproximação da Copa do Mundo, dezenas de categorias profissionais em todo o Brasil aproveitaram o momento favorável para pedir aumento. A greve dos metroviários que atinge os transportes em São Paulo às vésperas do Mundial é mais um exemplo que deixa o governo e a organização do evento em alerta máximo sobre os transtornos para os turistas que irão ao país. A alta do custo de vida no Brasil nos últimos anos ajuda a explicar a recusa dos trabalhadores às propostas de reajuste salarial.

REUTERS/Stringer/Brazil
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No caso dos metroviários, o aumento oferecido pelo Metrô é de 8,7%, acatado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT-SP). O índice é superior ao acumulado da inflação, de 5,8%. Mas para Ricardo Antunes, professor titular de sociologia do trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), faz muito tempo que a categoria recebe um salário desproporcional ao custo de vida em São Paulo. O piso para os funcionários da companhia é de R$ 1.323,25.

“O aumento é acima da inflação, mas a questão real é a baixa dos salários. Não há como sobreviver em uma cidade como São Paulo com um salário desses. O aluguel de um barraco em uma favela está R$ 1.000”, explica. “Houve aumento do custo de vida, aumento da inflação e da percepção de que a economia brasileira está mais próxima de uma economia global, que está em um quadro crítico recessivo.”

Os movimentos sociais tinham ficado ausentes das manifestações de junho de 2013. Mas ao longo do último ano, os sindicatos perceberam que a Copa seria uma ocasião excepcional para reivindicar melhores salários, depois de anos de apatia sindical, durante o governo Lula e metade do governo Dilma Rousseff.

“O número de greves nas últimas semanas é incontável. Já passou da centena, afinal estamos vivendo um momento excepcionalmente diferente, porque os trabalhadores sabem que o mundo inteiro está olhando para o Brasil”, observa Antunes. “É a primeira vez, na história brasileira, que a Copa traz um momento espetacular para a politização do descontentamento social brasileiro. Quando o governo Lula conseguiu trazer a Copa para o Brasil, ele tinha a ideia de que a Copa iria coroar um ciclo virtuoso magistral. Mas a Copa consolidou um ciclo de profundo descontentamento.”

Mais empregos, mas salário baixo

O professor destaca que o desenvolvimento da economia brasileira no período foi relativo. A oferta de empregos foi e permanece alta – mais de 20 milhões postos abertos. Mas a qualidade das vagas é limitada.

“São empregos com salários de no máximo 1,5 salário-mínimo, com muita vulnerabilidade e rotatividade. Os jovens pobres trabalham para fazer uma faculdade privada para ter um emprego melhor. Mas a faculdade privada não lhes dá um capital cultural que lhes permita ascender socialmente”, destaca o pesquisador, especialista em sindicalismo.

No domingo, o Tribunal Regional do Trabalho ordenou o fim da paralisação dos metroviários em São Paulo. Nesta segunda-feira, quinto dia de greve, eles suspenderam o movimento por 48h, mas prometeram retomá-lo se o governo não voltar atrás na decisão de demitir 42 funcionários grevistas.

 

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