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Radar econômico

Tabu na França, abertura do comércio aos domingos volta a ser debatida

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Todo brasileiro que chega na Europa estranha os horários de funcionamento do comércio. Na França, a maioria das lojas fecha por volta das 19 horas, mesmo em regiões bastante movimentadas. Encontrar um estabelecimento aberto no domingo é um verdadeiro desafio. Mas este tabu está começando a ser quebrado. Por pressão dos lojistas, o governo francês abriu um grupo de trabalho sobre o tema, para eventualmente flexibilizar a legislação trabalhista em alguns setores.

Muitos franceses reivindicam a abertura das lojas no domingo, mas tema divide a população.
Muitos franceses reivindicam a abertura das lojas no domingo, mas tema divide a população. captura vídeo france24
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Neste final de semana, duas grandes lojas de decoração e materiais de construção desafiaram as regras e abriram no domingo, para protestar contra o excesso de restrições. Os clientes aproveitaram para fazer as compras que não conseguem durante a semana.

Um estudo realizado na Holanda mostrou que a liberalização dos horários do comércio no país, em 1997, elevou em 26 minutos o tempo de compras dos holandeses. Além disso, a flexibilidade tem efeitos positivos sobre o desemprego. Nos países onde a abertura das lojas é permitida nos domingos, houve um aumento de 2 a 12% das vagas.

O economista Antoine d'Autume, especialista em mercado de trabalho da Paris School of Economics, é favorável a uma maior flexibilização, mas apenas em alguns setores da economia, como os ligados ao turismo e as grandes lojas de departamentos. “Nós vivemos em um sistema de mercado e a sua força é ser dinâmico, é estar sempre em busca de novas possibilidades de produção e de comercialização, ou seja, aumentar o encontro entre as pessoas dispostas a vender alguma coisa e com as pessoas dispostas a compra-las por um determinado preço. Portanto aumentar as possibilidades de troca aumenta, a priori, os postos de trabalho. Isso é mais do que verdadeiro: é fundamental”, afirma.

A flexibilização parece ser uma tendência na Europa. Enquanto no Reino Unido e no norte da Europa a liberdade é quase completa, Espanha, Itália e Portugal promoveram mudanças para melhor atender os visitantes das zonas turísticas. Antoine d'Autume confirma este direcionamento do mercado de trabalho e lembra o caso emblemático da Alemanha, país que custou a ceder ao novo modo de vida. “O melhor exemplo é a Alemanha, onde há cerca de 10 anos quase todo o comércio fechava não só no domingo, como a partir do sábado pelas 16 horas. A Alemanha, conhecida potência comercial, funcionava com horários de abertura muito restritos, mas isso se liberalizou bastante”, recorda-se. “Acho que o argumento econômico é forte, mas há outro tipo de análise que é: que sociedade nós queremos? Não podemos reduzir a sociedade ao seu mercado e a sociedade pode, com razão, querer manter o domingo um dia diferente dos outros dias da semana.”

Na França, os consumidores vão continuar concentrando as suas compras de segunda a sábado pelo menos até novembro, quando sairão as primeiras conclusões do grupo de trabalho sobre o tema.
 

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