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Rio 2016/Judô

Ouro olímpico, Rafaela Silva lembra ter sido vítima de racismo

Ao comemorar a conquista do ouro olímpico nesta segunda-feira (8), depois de vencer a final da categoria peso-leve (até 57 kg), Rafaela Silva ressaltou a superação da infância difícil na favela, a ajuda de profissionais que a fizeram voltar atrás da decisão de abandonar o judô e também fez questão de lembrar os insultos racistas que sofreu durante sua carreira.

2016 Rio Olympics - Judo - Victory Ceremony - Women -57 kg Victory Ceremony - Carioca Arena 2 - Rio de Janeiro, Brazil - 08/08/2016
2016 Rio Olympics - Judo - Victory Ceremony - Women -57 kg Victory Ceremony - Carioca Arena 2 - Rio de Janeiro, Brazil - 08/08/2016 REUTERS/Toru Hanai
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Do enviado especial ao Rio de Janeiro,

Aos 24 anos, a menina pobre da favela Cidade de Deus atraiu os holofotes do mundo inteiro ao pisar no lugar mais alto do pódio. Mas a conquista também revelou uma faceta menos conhecida da trajetória e dos obstáculos que Rafaela Silva teve que enfrentar até a sonhada medalha de ouro na Rio 2016.

Não muito longe do tatame que a consagrou, no Parque Olímpico da Barra, na zona oeste do Rio de Janeiro, fica a favela Cidade de Deus, local da infância pobre e cheia de riscos devido à violência. Desde cedo, aos 8 anos, ela foi encaminhada ao Instituto Reação, criado pelo ex-judoca Flávio Canto, onde encontrou seu primeiro instrutor de judô, Geraldo Bernardes.

“Meu professor sempre falava que eu tinha uma agressividade, uma habilidade diferente. Eu subia muro, entrava na casa dos outros para pegar pipa, jogar bola. Ele queria transformar toda essa agressividade para o esporte, o que me ajudou bastante”, lembrou.

“Dentro da comunidade eu era uma menina que ficava no meio dos meninos e para poder jogar bola tinha que brigar com alguém, sempre fazer alguma coisa para poder brincar, para ninguém mexer nas minhas coisas. Desde pequena eu aprendi e cresci me superando. Isto foi fundamental na conquista da minha medalha”, destacou.

Rafaela também fez questão de ressaltar a persistência de seu primeiro técnico. “Foi o professor (Geraldo) que acreditou em mim quando eu comecei o judô, aos cinco anos. Eu ganhava competição mas não podia viajar pois minha família não tinha dinheiro. O professor pegava o cartão escondido da esposa para pagar as viagens e a minha alimentação. Tudo que ele fez por mim em 16 anos estou pagando hoje com essa medalha”, disse.

A judoca Rafaela Silva.
A judoca Rafaela Silva. Foto:REUTERS

Quase desistência

A carioca também lembrou que por pouco não desistiu do judô, após o fracasso nos Jogos de Londres e por causa dos insultos racistas. “Depois da derrota de 2012, falaram que o judô não era para mim, que lugar de macaco era na jaula, e não na Olimpíada. Agora, olhando esses quatro anos que se passaram, eu vejo que não posso ligar para esses comentários. O ícone desse esporte para mim, o francês Teddy Rinner é negro. Então ele também não teria que praticar esporte por ser negro? Esses comentários são desnecessários. Hoje eu provei que estou entre as melhores da minha categoria”, afirmou.

“Me sinto bem competir dentro de casa, a torcida me acolhe e incentiva bastante. Para todas as crianças que vivem nesta comunidade meu recado é que se tem um sonho, mesmo que ele demore para chegar ele pode se realizar. Em Londres, quatro anos não consegui. E hoje meu sonho se realizou. Seu eu puder servir de exemplo para essas crianças da comunidade, é com essa medalha. Eu saí da comunidade e hoje sou campeã olímpica”, finalizou.

 

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