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Venezuela/Eleição

Vitória da oposição acaba com hegemonia do chavismo na Venezuela

A oposição conquistou neste domingo (6) o controle do Parlamento da Venezuela com a eleição de pelo menos 99 de 167 deputados. Além de um revés para o governo do presidente Nicolás Maduro, a vitória acaba com 16 anos de hegemonia chavista no país.

Partidários da coalizão de oposição Mesa da Unidade Democrática festejam a vitória nas legislativas em Caracas, na madrugada de 7 de dezembro de 2015.
Partidários da coalizão de oposição Mesa da Unidade Democrática festejam a vitória nas legislativas em Caracas, na madrugada de 7 de dezembro de 2015. REUTERS/Nacho Doce TPX IMAGES OF THE DAY
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O governo conquistou 46 cadeiras e outras 22 ainda estão indefinidas, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Assim, não está descartado que a oposição, que já tem maioria simples, alcance a maioria absoluta (101 deputados).

Pouco depois do anúncio dos resultados oficiais, Maduro reconheceu a derrota em um pronunciamento nacional de rádio e televisão. "Viemos com nossa moral, com nossa ética, reconhecer esses resultados adversos, aceitá-los e dizer para a nossa Venezuela que triunfou a Constituição e a democracia", declarou o presidente venezuelano.

No governo desde abril de 2013, após a morte de seu mentor, Hugo Chávez,  Maduro disse que a derrota foi provocada por uma "guerra econômica" contra o país, em meio ao descontentamento da população com o alto custo de vida e a escassez de produtos básicos, o que provoca filas imensas nos supermercados.

O secretário executivo da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, afirmou, por sua vez, que "a mudança na Venezuela começou" neste domingo. O opositor adotou um tom conciliador e descartou "revanchismos". Depois de apaziguar as divisões internas, a MUD sempre apareceu como a favorita nas pesquisas para obter a maioria em uma Assembleia dominada pelo governo desde 1999, quando Hugo Chávez chegou ao poder.

Moradores de Chacao, região nobre na zona leste de Caracas e reduto da oposição, festejaram a derrota do chavismo com fogos de artifício. Já na Praça Bolívar, próxima ao comando da campanha chavista, os simpatizantes do governo abandonaram o local durante a noite.

Eleição teve taxa de participação elevada

A votação ocorreu sem incidentes de violência e contou com uma "extraordinária participação" de 75% dos 19,5 milhões de eleitores, segundo a presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena. O CNE divulgou os primeiros resultados oficiais somente seis horas e meia após o horário do fechamento das seções eleitorais.

Nas redes sociais, internautas denunciaram a reabertura de alguns centros de votação, por causa da chegada inesperada de um relevante número de votantes. Embora as urnas eletrônicas tenham sido as mesmas de outras eleições, muitos eleitores, por equívoco, anularam o voto. Material de propaganda eleitoral, proibido em dia de votação, foi distribuído em diversas regiões do país, como destacou a correspondente da RFI em Caracas, Elianah Jorge.

Venezuelanos demonstram cansaço com crise econômica

Usando o legado de Chávez, o governo de Nicolás Maduro apostou, sem sucesso, em uma votação garantida ao chavismo para aprofundar as medidas econômicas do sistema socialista.

A Venezuela - o país com as maiores reservas de petróleo do mundo e que obtém 96% de suas divisas graças ao combustível - encerrará 2015 com uma contração econômica de 10% e uma inflação de 200%, segundo economistas. Um rígido sistema de controle de divisas, com três taxas de câmbio, convive com um mercado paralelo onde o dólar tem cotação 145 vezes maior que o mínimo legal. O país também é o segundo mais violento do mundo, atrás de Honduras, com uma taxa de homicídios de 62 para cada 100.000 habitantes, segundo a ONU.

Derrota é um "castigo" para Maduro

"Este é um voto castigo muito importante da população à gestão de Maduro", disse o analista Luis Vicento León, presidente da empresa de pesquisas Datanálisis.

Para o cientista político John Magdaleno, a vitória da oposição nas legislativas representa possibilidade de um "contrapeso" em um Estado cujos poderes "estão totalmente controlados pelo governismo".

Apesar de as eleições legislativas terem impacto limitado no regime presidencialista, em comparação com o sistema parlamentarista, especialistas concordam que a votação provocará uma recomposição das forças políticas na Venezuela. O governo terá que negociar com a nova Assembleia e fazer concessões.

Com maioria simples, a oposição poderá buscar uma anistia para 75 "presos políticos", designar as autoridades da Assembleia, aprovar leis ordinárias, assim como uma emenda constitucional para reduzir o mandato presidencial, mas esta questão deve ser submetida a referendo.

"Eu não vou descansar até libertar todos os presos políticos", declarou Lilian Tintori, esposa do líder opositor radical detido Leopoldo López, que teve permissão do governo para votar na prisão.

O novo parlamento toma posse no dia 5 de janeiro de 2016.

Esquerda em dificuldades na América Latina

O triunfo da oposição na Venezuela é o mais recente de uma série de derrotas eleitorais da esquerda na América Latina, revertendo a tendência iniciada com a eleição de Hugo Chávez no final de 1998.

Na Argentina, o candidato de centro-direita Mauricio Macri venceu a eleição presidencial e encerrou 12 anos de governo kirchnerista, grande aliado do chavismo venezuelano. Macri disse que vai evocar a "cláusula democrática" na próxima reunião do Mercosul, um mecanismo que pode levar à exclusão do país do bloco devido às perseguições à oposição.

No Brasil, a presidente Dilma Rousseff foi reeleita no ano passado, mas enfrenta uma forte queda de popularidade e a possibilidade de um julgamento político que pode resultar no impeachment.

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