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EUA/Papa

Papa condena pena de morte, defende imigrantes e desafia conservadorismo nos EUA

O papa Francisco cumpre uma agenda frenética nesta sexta-feira (25) em Nova York. No discurso previsto para hoje na Assembleia Geral das Nações Unidas, ele deve defender ações contra a pobreza e o aquecimento global. O papa também participa de uma cerimônia ecumênica no Museu do 11 de Setembro, de uma procissão no Central Park e de uma missa no Madison Square Garden.

Forte esquema de segurança marca passagem de Francisco pela Quinta Avenida, em Nova York. 24 de setembro de 2015.
Forte esquema de segurança marca passagem de Francisco pela Quinta Avenida, em Nova York. 24 de setembro de 2015. REUTERS/Richard Drew/AP/POOL
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Quem estará na plateia do papa na ONU será o presidente cubano Raúl Castro, que faz a primeira visita de um chefe de Estado da ilha à entidade desde o seu irmão Fidel, no ano 2000. Além da Assembleia Geral, que começa na segunda-feira (28), Castro também participará da Cúpula do Desenvolvimento Sustentável Pós-2015, que contará ainda com a presença da chanceler alemã Angela Merkel entre outros chefes de Estado. A visita do papa a Cuba, antes dos EUA, demonstra a importância que Francisco atribui ao fim do embargo americano à ilha.

Fervor nas ruas de Nova York

Milhares de pessoas saudaram a passagem do papamóvel pela Quinta Avenida, ontem, em Nova York. O discurso histórico que Francisco havia feito mais cedo no Congresso, em Washington, em que pediu mais ações em favor dos imigrantes, do combate às mudanças climáticas e a abolição da pena de morte, marcou os americanos.

Na missa que ele celebrou na catedral de Saint Patrick, o papa enviou uma mensagem de solidariedade aos muçulmanos pela "tragédia" provocada por um tumulto durante a peregrinação em Meca, no qual morreram 717 pessoas e outras 863 ficaram feridas. A igreja estava lotada com cerca de 2.500 convidados, a maioria membros do clero local, além do governador de Nova York, Andrew Cuomo, do prefeito Bill de Blasio e do arcebispo da cidade, Timothy Dolan.

Emoção no Congresso

Primeiro líder da Igreja Católica a participar de uma sessão das duas câmaras do Congresso americano, Francisco fez um discurso de forte tom político para mais de 500 deputados e senadores, magistrados da Suprema Corte e membros do Executivo, entre os quais estava o vice-presidente, Joe Biden.

Diante de "uma crise de refugiados sem precedentes desde os tempos da Segunda Guerra Mundial" e do drama dos latino-americanos que "se veem obrigados a viajar para o norte", o papa, "filho de imigrantes", pediu uma resposta "justa e fraterna" dos governantes.

"Não devemos nos deixar intimidar pelos números, melhor olhar para as pessoas, seus rostos, ouvir suas histórias, enquanto lutamos para assegurar-lhes nossa melhor resposta à sua situação. Uma resposta que sempre será humana, justa e fraterna", acrescentou em seu discurso de pouco menos de uma hora e proferido em inglês com forte sotaque.

Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos discutem o destino de milhões de imigrantes em situação irregular procedentes do México e de países da América Central, o primeiro papa nascido no continente americano afirmou: "Vamos evitar uma tentação contemporânea, a de descartar tudo o que incomoda".

Diante de uma maioria de parlamentares favoráveis à pena capital, em um país que pratica várias execuções ao ano, o jesuíta argentino exigiu "a abolição mundial da pena de morte".

"Ações corajosas"

O sumo pontífice pediu "ações corajosas" no combate às mudanças climáticas, tema que havia abordado na quarta-feira (23) com o presidente Barack Obama, mas que divide os congressistas.

"Estou convencido de que podemos marcar a diferença e não tenho nenhuma dúvida de que os Estados Unidos e este Congresso são chamados a ter um papel importante", disse Francisco, referindo-se à necessidade de implementar o que denominou de uma "cultura do cuidado".

Os conservadores, maioria no Congresso, o receberam com cortesia e demonstraram em poucas ocasiões seu desacordo, como quando se negaram a aplaudir os comentários do papa sobre o meio ambiente. Mas saudaram de forma veemente suas palavras sobre a família, "ameaçada", e sua defesa da vida "em todas as etapas de seu desenvolvimento", uma alusão ao aborto.

"A família está talvez ameaçada como nunca antes", destacou Francisco, ovacionado de pé, uma das muitas vezes durante sua fala, para a qual os congressistas receberam pedidos dos eleitores para obter um cobiçado convite.

Em tom conciliador, Francisco saudou esta "terra dos sonhos", evocando grandes personalidades americanas, como Abraham Lincoln e Martin Luther King, cuja mensagem "continua ressoando nos nossos corações".

Riscos do fundamentalismo

O pontífice advertiu os legisladores para o risco do fundamentalismo, religioso ou não, e pediu para que se evite a tentação do "reducionismo simplista" de dividir a realidade entre bons e maus.

Também apoiou "a coragem" de encontrar soluções para tensões internacionais, uma alusão indireta aos diálogos abertos pelos Estados Unidos com Cuba e o Irã. Pediu, ainda, o fim do comércio de "armas letais vendidas àqueles que pretendem infligir um sofrimento indescritível".

"Rezem por mim"

Em seguida, Francisco se dirigiu a uma sacada, onde falou para mais de 50 mil pessoas reunidas desde a madrugada aos pés da colina do Capitólio. Saudando a multidão com "buenos días" (bom dia, em espanhol), o papa arrancou aplausos e pediu em espanhol: "rezem por mim, desejem-me coisas boas". Francisco já recebeu várias ameaças de morte de fundamentalistas islâmicos.

Após a visita ao Congresso, o papa teve um encontro com pessoas sem-teto em uma igreja de Washington, onde criticou a "injustiça" da falta de alojamento.

"Não encontramos nenhum tipo de justificativa social, moral ou do tipo que fosse para aceitar a falta de alojamento. São situações injustas, mas sabemos que Deus está sofrendo conosco, está vivendo do nosso lado. Ele não nos deixa sós", disse.

Com informações da AFP

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