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Ultraliberal Milei larga com vantagem nas eleições argentinas, mas disputa segue aberta

Javier Milei, aliado de Jair Bolsonaro, deixou os canais de TV e as redes sociais para surpreender nas urnas, impondo a maior derrota da história ao peronismo. Se as eleições de outubro fossem hoje, dois opositores disputariam o segundo turno. Porém, Milei gera incertezas nos mercados, que devem reagir negativamente nesta segunda-feira (14).

O candidato presidencial argentino Javier Milei, da aliança La Libertad Avanza, fala durante o evento de encerramento de sua campanha eleitoral antes das primárias, em Buenos Aires, Argentina, em 7 de agosto de 2023.
O candidato presidencial argentino Javier Milei, da aliança La Libertad Avanza, fala durante o evento de encerramento de sua campanha eleitoral antes das primárias, em Buenos Aires, Argentina, em 7 de agosto de 2023. REUTERS - AGUSTIN MARCARIAN
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Um exultante Javier Milei subiu ao palco sob os gritos eufóricos de militantes, na sua maioria jovens: “Já se sente, Milei presidente”.

“Este é o fim do kirchnerismo e da casta política parasitária e ladra que afunda o país”, respondeu o ultraliberal, de 52 anos e de cabelos revoltos.

“Estamos em condições de vencer no primeiro turno”, afirmou quando a contagem dos votos apontava 32,1% para o liberal, 27,5% para a oposição liderada por Patricia Bullrich e para 25,6% do candidato do governo, Sergio Massa.

A distância diminuiria depois, mas Javier Milei performou muito bem. Sem nenhuma estrutura partidária, ganhou em 16 das 24 províncias argentinas. Ganhou, com muita vantagem, em províncias onde o peronismo nunca perdeu. Aliás, desde que o país recuperou a democracia em 1983, esta foi a maior derrota ao peronismo e à sua facção radical, o kirchnerismo, atualmente no poder.

Vitória inesperada

A façanha do candidato “anarco-capitalista”, como o próprio se define, chegou a 49,4% dos votos em Salta, a 47,9% em São Luis, a 44,8% em Mendoza e a 43% em Misiones. Números que nem mesmo partidos tradicionais obtiveram.

Prova do cansaço social da população com uma economia desesperadora, que com 115,6% de inflação em 12 meses (na terça-feira, o índice de julho deve somar outros 7%) eleva a pobreza a 42%.

Porém, na capital do país e na província de Buenos Aires, com 37% dos eleitores, o desempenho não foi o suficiente para superar os partidos tradicionais.

Apurados 97,4% dos votos, Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, somou 30,04%, dez pontos a mais do que qualquer sondagem indicou. Em segundo lugar, ficou Patricia Bullrich, da coligação Juntos pela Mudança, que somou 28,27%. Tanto Milei quanto Bullrich propõem profundas reformas, tendo pontos em comum entre as suas propostas.

Em terceiro lugar, o candidato governista, Sergio Massa, atual ministro da Economia, com 27,27%. O kirchnerismo, por trás da coligação União pela Pátria, arrisca ficar de fora do segundo turno.

Durante a madrugada, a diferença entre o primeiro e o terceiro colocado caiu de sete pontos a apenas três, o que pode ser um empate triplo. Assim, a disputa política vai continuar indefinida até as eleições gerais de 22 de outubro.

Expectativa nos mercados

Indefinição é sinônimo de incerteza. E os mercados costumam responder às incertezas com instabilidade financeira. A segunda-feira deve ser de volatidade nos mercados e de desvalorização do peso argentino diante de um candidato que promete alterar as regras do jogo.

Milei quer abandonar o desvalorizado peso argentino e dolarizar a economia. Também anuncia que vai “dinamitar” o Banco Central. O Estado passaria do atual déficit fiscal a um superávit ao recortar todos os gastos desnecessários da política, mas também ao reduzir a Saúde e a Educação gratuitas.

A sua bandeira anti-inflacionária de 'dolarizar' a economia, adotando a moeda norte-americana como a corrente, pode fazer com que o mercado se antecipe à medida como forma de se proteger.

“É um cenário muito mais incerto do que o esperado. O resultado gera incerteza sobre o desfecho. O bom desempenho de Milei pode induzir muita gente a ‘dolarizar’ a sua carteira de investimentos antes que isso se torne uma política pública”, adverte o analista Gustavo Marangoni, diretor da consultora M&R.

A surpreendente vitória de Javier Milei levou o chamado “dólar crypto” a subir 9%. O mercado das criptomoedas indexadas ao dólar é o único que funciona 24 horas, inclusive durante o final de semana.

O movimento antecipa o comportamento que o mercado cambial deve ter nesta segunda-feira contra a moeda e contra os ativos financeiros da Argentina.

Reação do governo

Outro foco de atenção será sobre Sergio Massa no seu duplo papel de candidato e de ministro da Economia. O terceiro lugar na corrida eleitoral levará Massa a assumir a função de ministro, corrigindo a economia? Ou a escassa diferença do terceiro para o segundo lugar levaria o candidato a distribuir dinheiro sem respaldo para tentar reverter o panorama, mesmo que isso alimente a inflação galopante?

A diretoria do FMI vai se reunir em 22 de agosto para aprovar o empréstimo de US$ 7,5 bilhões à Argentina, um dinheiro crucial para o país atravessar o período eleitoral. Em contrapartida, o ministro Massa deve fazer ajustes na economia. Ajustes que o candidato Massa pode sabotar, com o objetivo de evitar uma derrota histórica, que levaria o peronismo não apenas a ficar de fora do segundo turno, mas a perder uma expressiva bancada no Congresso.

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