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Equador: Guillermo Lasso busca recuperar popularidade com vacinação obrigatória contra Covid-19

A vacinação contra a Covid-19 será obrigatória no Equador, primeiro país da América Latina e um dos primeiros no mundo a adotar a decisão de forma generalizada para toda população acima de 5 anos de idade. Apenas Tayikistão, Turcomenistão e o Vaticano adotaram a medida até agora. Alemanha, Áustria e Grécia também podem adotar a obrigatoriedade nos próximos meses.

Enfermeira vacina mulher nesta quinta-feira (23) em Quito, no Equador
Enfermeira vacina mulher nesta quinta-feira (23) em Quito, no Equador AP - Carlos Noriega
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

"Queremos proteger a saúde de todos os equatorianos e nos baseamos nas leis", anunciou a ministra da Saúde, Ximena Garzón. A decisão foi publicada através do documento "Lineamentos de obrigatoriedade da vacinação contra SARS-CoV-2" e é justificada pela situação epidemiológica atual e o risco de emergência de novas variantes. A  disponibilidade e acesso de vacinas e as evidências científicas atuais também são citadas.

A base legal para a decisão é a Lei Orgânica de Saúde, que atribui ao Ministério da Saúde a responsabilidade de "declarar a obrigatoriedade das imunizações contra determinadas doenças, nos termos e nas condições que a realidade epidemiológica requer", além de "definir as normas e o esquema básico nacional de imunizações" e de "prover, sem custo à população, os elementos necessários para o cumprimento".

O texto esclarece que "a vacinação não será obrigatória para as pessoas que apresentarem alguma condição médica ou alguma contraindicação certificada".

Argumentos técnicos

Para justificar a medida, o Ministério da Saúde detalha que a tendência de queda nos contágios observada até meados de outubro inverteu-se, passando a uma alta lenta e constante. A positividade registrada nos exames de PCR passou de 4,26% a 13,3% nos últimos dois meses.

O número de óbitos também voltou a crescer, depois de uma queda brusca. Nos primeiros quatro meses do ano, houve uma média semanal de 378 mortos. A partir de maio, quando a campanha de vacinação acelerou, a média semanal caiu para 129 vítimas fatais, gerando pelo menos 11 mortes até o começo de novembro, quando voltou a aumentar até os atuais 23 falecimentos em média por semana.

A alta tende a aumentar com a presença da ômicron no país desde o dia 14 de dezembro.

"A decisão de obrigatoriedade de vacinação leva em conta o estado epidemiológico de aumento de contagiados e à circulação de novas variantes como ômicron", indica a nota do Ministério da Saúde.

Com 17,7 milhões de habitantes, o Equador traçou como objetivo vacinar 16 milhões de pessoas (a partir dos cinco anos de idade). Desses, 77,2% já foram vacinados com duas doses. O governo garante que há vacinas para todos. O país acumula 539 mil casos e 33 mil mortes.

Idosa recebe vacina contra a Covid-19 em Quito.
Idosa recebe vacina contra a Covid-19 em Quito. AP - Dolores Ochoa

Objetivo político

A decisão do governo equatoriano acontece com o Parlamento unicameral em recesso. Os governistas representam apenas 8,7% do total. São 12 dos 137 legisladores.

"A vacinação obrigatória tem duas finalidades: uma sanitária e outra política. O presidente Guillermo Lasso quer reverter a queda da sua imagem, recorrendo ao sucesso de vacinação que obteve em agosto, quando atingiu o máximo de aprovação. Ele quer estender esse tempo e essa memória coletiva e precisa desse apoio popular para aumentar o seu capital político", explica à RFI o cientista político equatoriano Fernando Carrión, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO).

"Por outro lado, Lasso sabe que o contágio tende a aumentar, complicando a economia. E o bolso é o órgão mais sensível do corpo humano. Se a economia cair, o governo não terá chances de avançar com as suas reformas estruturais e aumentar o apoio popular é fundamental para um governo em minoria no Parlamento", aponta Carrión.

Imunizar metade da população em 100 dias

No dia 24 de maio passado, Guillermo Lasso assumiu o poder com uma das suas promessas de campanha: vacinar, em apenas 100 dias, o equivalente à metade da população: 9 milhões de pessoas. "Assumir essa responsabilidade foi uma loucura. Era muito complexo cumprir essa promessa porque a herança recebida do governo anterior era complicada. A área de Saúde estava totalmente desarticulada", recorda Fernando Carrion.

No entanto, para surpresa geral na nação, no começo de setembro, a meta foi cumprida, catapultando o presidente a 74,1% de popularidade.

No entanto, ao longo dos meses seguintes, o governo enfrentou crises que desgastaram esse capital político. Uma crise de insegurança, três motins em presídios com centenas de mortos, protestos sociais, um constante embate contra o Parlamento de maioria opositora e o seu nome envolvido na investigação jornalística Pandora Papers. Aqueles 74,1% caíram, paulatinamente, a 28,3%, uma queda de quase 46 pontos, segundo a consultora Perfiles de Opinión.

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