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EUA: sob tensão, começa julgamento do policial acusado da morte de George Floyd

Em 25 de maio de 2020, o afro-americano George Floyd foi morto asfixiado pelo policial branco Derek Chauvin em Minneapolis, no norte dos Estados Unidos. Filmadas por pedestres, as cenas viralizaram na internet e incitaram uma onda de protestos sem precedentes contra o racismo nos Estados Unidos e resto do mundo. Nesta segunda-feira (8), a Justiça inicia o julgamento de Chauvin por homicídio.

Manifestantes saíram às ruas de Minneapolis no domingo (7), um dia antes do início do julgamento de Derek Chauvin, acusado de assassinar o afro-americano George Floyd.
Manifestantes saíram às ruas de Minneapolis no domingo (7), um dia antes do início do julgamento de Derek Chauvin, acusado de assassinar o afro-americano George Floyd. REUTERS - NICHOLAS PFOSI
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Eric de Salve, enviado especial da RFI em Minneapolis

O processo começa em meio ao temor de uma onda onda de violência, já que a revolta não deu trégua desde o ano passado nos Estados Unidos. Dez meses após a morte de George Floyd, os mesmos slogans voltaram a ecoar nas manifestações na cidade, palco da morte do afro-americano.

Nesta manhã, famílias de pessoas negras mortas pela polícia protestaram no bairro onde mora o governador do estado de Minnesota. No momento da abertura do julgamento do policial, os manifestantes pediram o fim da impunidade de agentes da polícia americana.

"Não aguentamos mais essas mortes. Queremos que as pessoas compreendam que George Floyd é apenas um entre tantos assassinados aqui em Minnesota e milhares pelos Estados Unidos. Vamos assistir a esse julgamento rezando e esperando que justiça seja feita, porque, para nós, isso não aconteceu", afirma Toshira, de 34 anos, cujo companheiro morreu em violências policiais em 2009. 

As estatísticas confirmam as declarações de Toshira. Cada ano, em média, a polícia americana é responsável por cerca de mil mortes, mas apenas 2% dos policiais são julgados. Para manifestantes como Rodj, que cobrem o rosto com uma máscara do movimento "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam), se o asfixiamento de George Floyd continuar impune, novas violências serão inevitáveis.

"As pessoas acordaram agora! Se esse crime continuar impune, vai atiçar ainda mais o ódio nas ruas. Esperamos não apenas que Derek Chauvin seja responsabilizado. Queremos um debate sobre a polícia de Minnesota e dos Estados Unidos. Porque Derek Chauvin não fez isso sozinho. Ele tinha todo o departamento de polícia e todo o sistema por trás dele", diz Rodj.

Temor de protestos violentos

Minneapolis teme ser palco novamente de cenas de violência que sacudiram os Estados Unidos no ano passado. Antes da abertura do processo, sob alta tensão, o centro da cidade foi cercado de barricadas.

A prefeitura gastou mais de US$ 600 mil para proteger os prédios administrativos. Imensos blocos de cimento foram instalados diante das delegacias e proteções de arame foram erguidas em torno do tribunal onde Derek Chauvin começará a ser julgado nesta segunda-feira.

"É bobo, nunca vi nada parecido com isso", afirma Jim, um morador que fotografava as grades diante do Palácio da Justiça de Minneapolis. Segundo o afro-americano, se a prefeitura investiu tanto em proteção é porque as autoridades planejam inocentar Derek Chauvin.

"Fico abalado quando vejo isso. Veja a que ponto chegou nosso Estado. Qual é o motivo de terem feito tudo isso a não ser para nos dizerem que, talvez, ele [o policial Derek Chauvin] não seja culpado? Na minha opinião, é porque eles esperam que ele seja inocentado. Esses arames, essas proteções, tudo isso mostra que há algo errado em nosso sistema. Quem viu a gravação sabe que está claro que ele é culpado", defende.

Derek Chauvin, de 44 anos, comparece ao julgamento livre, após ter pago uma fiança de US$ 100 mil. O processo está previsto para durar várias semanas, ao menos até o final de abril. 

Repercussão na imprensa francesa

A imprensa francesa cobre em peso o início do julgamento em Minneapolis. O jornal francês Le Parisien ressalta que o resultado desse processo é aguardado no mundo inteiro, devido à onda de choque provocada pelas imagens da agonia de Floyd, asfixiado até a morte, durante 8 minutos e 46 segundos, pelo joelho do policial em seu pescoço. 

O diário Libération relata que, na véspera do julgamento, milhares de pessoas foram às ruas de Minneapolis no domingo (7) atrás de um caixão coberto de rosas brancas exigindo "justiça". A multidão, muito diversa, se manteve quieta durante a maior parte do tempo, rompendo o silêncio apenas para lembrar que "se não há justiça, não há paz". Um dos cartazes visto entre os participantes repetia as últimas palavras de Floyd: "Não consigo respirar".

Le Parisien destaca que o policial comparece livre ao julgamento, mesmo depois da onda mundial de protestos gerada pela morte do afro-americano de 46 anos, interpelado por suspeita de ter utilizado uma nota falsa de US$ 20 para pagar uma compra. "A morte de Floyd fez dele um mártir da violência policial e do racismo", escreve o Le Parisien. As imagens chocantes provocaram a emergência do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) nos Estados Unidos e também no Brasil, entre outros países.  

Caso inédito

O caso de Chauvin promete ser inédito em muitos aspectos: contará com advogados famosos, será realizado sob forte segurança e será transmitido ao vivo. O escritório do Procurador-Geral do Estado de Minnesota convocou Neal Katyal, um ex-procurador-geral interino que argumentou perante o Supremo Tribunal, para ajudar com a acusação.

Três outros oficiais envolvidos na operação policial de Floyd - Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao - enfrentam acusações menores e serão julgados de forma separada. Todos os quatro envolvidos no caso foram demitidos pelo Departamento de Polícia de Minneapolis.

A audiência vai começar pela seleção de doze jurados titulares e quatro substitutos. Essa etapa deve durar três semanas, segundo Le Parisien. Tanto a defesa quanto a acusação têm o direito de rejeitar vários jurados. "Esta batalha tática é crucial", assinala o jornal francês, já que "uma condenação do júri requer a unanimidade dos jurados. 

 

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