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Prisão de filho de ex-presidente angolano marca o “fim dos intocáveis”, diz cientista político

A prisão de José Filomeno dos Santos, ex-chefe do fundo soberano de Angola e filho do ex-presidente José Eduardo dos Santos, representa “um novo marco para a política” do país, de acordo com a análise do cientista político angolano Augusto Báfua Báfua. A condenação por participação em esquema de desvio de verbas públicas pode contribuir, segundo o analista, na redução do sentimento geral de que o país é dominado por “corrupção, impunidade e nepotismo”.

José Filomeno dos Santos foi acusado de desvio de fundos
José Filomeno dos Santos foi acusado de desvio de fundos DR
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Com informações de Cristiane Soares

De acordo com Augusto Báfua Báfua, a luta contra a corrupção era uma das promessas do novo presidente angolano, João Lourenço. “Foi somente com sua posse que começamos a sentir a mão pesada da lei. Durante muito tempo houve os ‘intocáveis’, os indivíduos que não sentiam a mão pesada da lei, acabando por violar muitas delas, muitas vezes até ligadas à ética e à deontologia no trabalho”.

A corrupção desenfreada no país, segundo Báfua, levou à perda de bilhões dólares para a verba pública angolana. A prisão de José Filomeno dos Santos é, até hoje, a mais marcante para a história do país, por ter atingido, finalmente, uma personalidade do alto escalão. Angola já viu a condenação do ex-ministro dos Transportes, Augusto Tomás, e do ex-governador do Banco Central, Valter Filipe da Silva, mas elas não se compararam à do filho do ex-presidente em termos de atenção midiática e de reação na população, afirma Báfua.

“A prisão de José Filomeno dos Santos já está mudando a percepção das pessoas em relação ao sistema político de Angola. Pela primeira vez, há um grande número de representantes a serem chamados para prestar contas, coisa que nunca tinha sido feita”, diz. “Mas é preciso ter cautela, porque pode ser que isso não dure”.

“Já devia estar na prisão há muito tempo”

O jornalista angolano Rafael Marques, diretor do site Maka Angola, que já foi acusado de “injúria e ultraje a órgão de soberania” por seu trabalho como repórter, disse que José Filomeno dos Santos já devia estar sob prisão preventiva há mais tempo por atos contínuos de “criminalidade e conspiração para roubar o Estado angolano”.

O empresário angolano-suíço, Jean-Claude Bastos de Morais, que administrava parte do fundo soberano, também foi colocado em prisão preventiva. Para Rafael Marques, tanto ele quanto José Filomeno dos Santos “são figuras altamente perigosas pela forma como têm estado a saquear o país, que durante muitos anos contaram com o apoio e proteção total de José Eduardo dos Santos e devem aguardar julgamento na cadeia”.

O ativista diz também que no país “a corrupção é endêmica e institucional”, mas que “a detenção de José Filomeno dos Santos é um passo importante para acabar com a cultura de impunidade no seio da administração do Estado e ao nível da elite angolana”

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