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Golpe militar no Níger: Cedeao convoca nova reunião para discutir saída diplomática

Os dirigentes da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) anunciaram nesta segunda-feira (7) uma nova reunião na quinta-feira (10) para discutir a situação no Níger. O encontro acontece duas semanas depois de um golpe de Estado no país africano e do fim do ultimato no domingo (6) para exigir o retorno à ordem constitucional, sob pena de uso da "força".

Os dirigentes da África Ocidental tinham dado um ultimato de uma semana aos militares que tomaram o poder no Níger para devolver o cargo ao presidente Mohamed Bazoum, sob pena de intervenção armada.
Os dirigentes da África Ocidental tinham dado um ultimato de uma semana aos militares que tomaram o poder no Níger para devolver o cargo ao presidente Mohamed Bazoum, sob pena de intervenção armada. © AP - Chinedu Asadu Chinedu Asadu
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"Durante esta reunião, os diretores da organização da África Ocidental discutirão a situação política e os recentes desenvolvimentos no Níger", informa um comunicado da Cedeao. A cúpula será realizada em Abuja, capital da Nigéria, dirigida por Bola Tinubu, presidente em exercício da organização regional.

Para Vincent Hiribarren, pesquisador do Kings College de Londres, o presidente da Nigéria “é um combatente pela democracia e um defensor da liberdade”. Em entrevista à RFI, o professor explica que a “Nigéria quer se impor na região, apesar de uma longa crise econômica e dos ataques do grupo extremista Boko Haram” em seu território. “A Nigéria é o país mais populoso da Cedeao, o mais rico da região e já interferiu, no fim dos anos 1990, na Libéria, tendo experiência para isso”, acrescenta especialista.   

Em 30 de julho, durante uma cúpula anterior em Abuja, os dirigentes da África Ocidental tinham dado um ultimato de uma semana aos militares que tomaram o poder no Níger para devolver o cargo ao presidente Mohamed Bazoum, sob pena de intervenção armada. O ultimato terminou domingo às 22h pelo horário universal de Londres.

Segundo uma fonte próxima da Cedeao, uma intervenção não é adequada nesta fase e o caminho do diálogo parece, portanto, ainda estar sobre a mesa de negociação. Os Estados Unidos, aliados do Níger, poderiam participar, segundo esta mesma fonte.

Nos últimos dias, várias vozes africanas rejeitaram a opção militar. Os senadores da Nigéria, peso pesado da Cedeao, apelaram ao reforço da "opção política e diplomática".

A Argélia, outro vizinho do Níger e um ator importante no Sahel, estimou por meio de seu presidente Abdelmadjid Tebboune que uma intervenção seria uma "ameaça direta" contra seu país.

Nesta segunda-feira, a Alemanha também se mostrou favorável ​​a uma solução diplomática, considerando que os esforços de mediação estão "apenas no início".

O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, disse que "espera" que o ultimato da Cedeao seja "prorrogado". "Devemos adiar ao máximo a opção pela guerra", disse ele em entrevista ao jornal La Stampa.

Apoio aos insurgentes

O Exército do Mali anunciou o envio para Niamey de uma delegação oficial conjunta Mali-Burkina Faso para "mostrar a solidariedade dos dois países ao povo irmão do Níger".

Burkina Faso e Mali, também governados por militares e enfrentando a violência de grupos jihadistas, enfatizaram que uma intervenção armada seria vista por eles como "uma declaração de guerra".

No domingo, os soldados do Níger voltaram a atacar a França sem nomear o país europeu. Eles alertaram a Cedeao, que consideram "vendida" a uma potência estrangeira, contra qualquer ingerência nos assuntos internos do país, bem como as possíveis consequências desastrosas de uma aventura militar sobre a segurança da região.

Voos cancelados

Pouco antes do fim do ultimato dado pela Cedeao, o militares que tomaram o poder no Níger anunciaram o fechamento do espaço aéreo do país até segunda ordem, citando uma "ameaça de intervenção". "Qualquer Estado envolvido será considerado cobeligerante", acrescentaram. A medida interrompeu a ligação de certos destinos africanos operados por empresas europeias.

Apoiadores do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP) do Níger agitam bandeiras russas enquanto se manifestam em Niamey, em 6 de agosto de 2023. Milhares de apoiadores do golpe militar no Níger se reuniram em um estádio de Niamey no domingo. (Foto da AFP)
Apoiadores do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP) do Níger agitam bandeiras russas enquanto se manifestam em Niamey, em 6 de agosto de 2023. Milhares de apoiadores do golpe militar no Níger se reuniram em um estádio de Niamey no domingo. (Foto da AFP) AFP - -

Na manhã de segunda-feira, a situação era calma na capital do Níger, Niamey. Um clima diferente do visto no domingo, quando cerca de 30.000 apoiadores dos militares deram uma demonstração de força ao se reunirem no maior estádio do país.

Bandeiras do Níger, mas também dos vizinhos Burkina Faso e Rússia, foram erguidas. Já a França e a Cedeao foram vaiadas.

Integrantes do Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP, que assumiu o poder) compareceram ao local e foram ovacionados pela multidão. O general Mohamed Toumba, número três do CNSP, tomou a palavra para denunciar aqueles "que espreitam nas sombras". Sem citar nomes, ele criticou os que tentam conter "marcha adiante do Níger". "Estamos cientes de seu plano maquiavélico", disse, sem dar detalhes.

O presidente Mohamed Bazoum, derrubado em 26 de julho, é mantido prisioneiro desde então.

(Com informações da RFI e AFP)

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