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Escândalo de dinheiro escondido em sofá pode levar a impeachment de presidente da África do Sul

O futuro político do presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, é incerto nesta sexta-feira (2). Os líderes de seu partido, o Congresso Nacional Africano (CNA), convocaram uma reunião de "emergência" para tratar de possíveis "violações e faltas" do presidente, após a descoberta de grandes quantias de dinheiro em sua casa.

Oposição da África do Sul pede demissão do Presidente Cyril Ramaphosa
Oposição da África do Sul pede demissão do Presidente Cyril Ramaphosa AP - Nardus Engelbrecht
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Cerca de 80 lideranças do partido Congresso Nacional Africano (ANC), cuja imagem já está manchada por divisões internas, estão reunidos em Joanesburgo para discutir o futuro do presidente. Com maioria no Parlamento desde 1994, o ANC de Nelson Mandela elege o chefe de Estado desde o fim do apartheid e da instauração da democracia na África do Sul.

Ex-sindicalista que se tornou empresário, Cyril Ramaphosa foi eleito presidente em 2018 com um programa centrado na luta contra a corrupção. Na quinta-feira (1), o seu porta-voz informou que Ramaphosa, de 70 anos, faria um anúncio "iminente", acrescentando, no entanto, que a situação era complicada demais para decisões "precipitadas".

No mesmo dia, pessoas próximas do presidente disseram à imprensa local que ele não lutaria para se manter no cargo. Contudo, à noite, os rumores de uma possível renúncia se acalmaram, depois que parte do partido e o setor empresarial saíram em sua defesa.

"As pessoas à frente do ANC não querem que ele saia", resumiu à AFP um líder partidário, que pediu anonimato.

Nesta sexta-feira, até o chefe da Igreja Anglicana se pronunciou em seu favor. "Ninguém deve estar acima da lei, mas fazer um julgamento de uma pessoa com base em uma comissão de inquérito preliminar pode levar à anarquia", declarou o arcebispo Thabo Makgoba, sucessor de Desmond Tutu, Nobel da Paz.

O presidente do ANC, Gwede Mantashe, também rejeitou, nesta sexta-feira, as informações publicadas na imprensa segundo as quais Cyril Ramaphosa considerou renunciar após a publicação deste relatório. "Na minha opinião, seria prematuro para o presidente pedir demissão", declarou ele em entrevista à rede de televisão local Newzroom Afrika. Para Mantashe, atual Ministro de Minas e Energia, o relatório contém muitas falhas que podem ser contestadas.

Outro apoiador do presidente, o ministro das Finanças Enoch Godongwana, também disse à Reuters que esperava que Cyril Ramaphosa permanecesse em seu cargo e pediu aos investidores que ficassem tranquilos.

Até agora, vários membros influentes do ANC já se posicionaram a favor de Ramaphosa. "Vamos ao Parlamento e rejeitaremos este relatório e a vida continuará como antes", declarou o parlamentar Mathole Motshekga, outro apoiador do presidente.

Dinheiro seria da “venda de gado”

Duas semanas antes, Ramaphosa aparecia como o favorito para conquistar o apoio do partido e tentar o segundo mandato em 2024.

Porém, na quarta-feira (30), uma comissão parlamentar publicou o relatório sobre o escândalo Phala Phala, nome de uma fazenda do presidente, onde ele cria gado, a sua segunda grande paixão depois da política.

Ramaphosa "pode ter cometido violações e contravenções" descobertas em um assalto, em 2020, nesta fazenda. Na ocasião, foram encontrados US$ 580.000 em maços escondidos sob as almofadas de um sofá, em um "quarto de hóspedes pouco usado", de acordo com o relatório.

O escândalo estourou em junho, quando um ex-oficial de inteligência, próximo aos críticos de Ramaphosa no ANC, entrou com uma ação judicial. Segundo ele, ladrões invadiram a fazenda e acabaram revelando o dinheiro escondido, mas o presidente não denunciou o fato à polícia e nem ao fisco.

Ramaphosa sempre negou qualquer crime, alegando que o dinheiro era procedente da venda legítima de animais de sua fazenda. Um funcionário teria achado que seria mais seguro colocar as notas nas almofadas do que em um cofre.

O presidente pode ser alvo de um processo de impeachment. O Parlamento se reúne na terça-feira (6) para votar se inicia ou não o procedimento.

(Com informações da RFI, AFP e Reuters)

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