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Tentativa de golpe em São Tomé e Príncipe foi promovida "pelos que não respeitam as urnas”, diz ativista

Uma tentativa de golpe de Estado fracassou na manhã desta sexta-feira (25) em São Tomé e Príncipe, ilha lusófona considerada um modelo de democracia parlamentar na África. Conforme o primeiro-ministro Patrice Trovoada, o golpe fracassado começou por volta da 00h40 e terminou pouco depois das seis da manhã.

Delfim Neves, que perdeu recentemente a presidência da Assembleia, está entre os presos na tentativa de golpe de Estado em São Tomé e Príncipe. (arquivo)
Delfim Neves, que perdeu recentemente a presidência da Assembleia, está entre os presos na tentativa de golpe de Estado em São Tomé e Príncipe. (arquivo) © rfi/Neidy Ribeiro
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"As Forças Armadas sofreram um ataque em uma caserna", acrescentou Trovoada. As autoridades prenderam quatro homens. Entre eles, estão o ex-presidente da Assembleia Nacional em final de mandato, Delfim Neves, e um ex-mercenário que já havia tentado dar um golpe de Estado em 2009.

Segundo a agência de notícias Lusa, quatro pessoas morreram durante a ação e pelo menos um militar ficou ferido. O grupo tentou atacar o quartel-general do Exército, disse Trovoada em um vídeo enviado à AFP pela ministra da Justiça, Ilza Maria dos Santos Amado Vaz. O chefe de Governo quis "tranquilizar" a população e a "comunidade internacional”, garantindo que “as Forças Armadas têm a situação sob controle”.

"As pessoas envolvidas são aqueles políticos que não aceitam os resultados das urnas. Às vezes ganha-se, outras vezes é preciso saber perder e os políticos descontentes com a derrota nas urnas vão tentar a todo o custo conquistar o poder”, disse o ativista de direitos humanos são-tomense Oscar Baía, em entrevista a Catarina Falcão, da RFI. "Se assim for, eu espero que os envolvidos sejam severamente punidos para que não haja mais atos como estes”, salientou.

Um morador contatado pela AFP por telefone, que preferiu não revelar sua identidade, afirmou ter ouvido "disparos de armas automáticas e armas pesadas, bem como detonações, durante duas horas no interior do quartel-general do exército" na capital são-tomense. O primeiro-ministro anunciou uma investigação em andamento e explicou que o exército "tem a obrigação de esclarecer a situação, se houver outras ramificações dentro das Forças Armadas".

Soldados foram mobilizados durante a noite para vigiar as residências de membros do governo e do presidente da República, testemunhou também o morador contatado pela AFP.

Tentativas anteriores

Delfim Neves perdeu as funções de presidente da Assembleia no último dia 11, depois que o partido de centro-direita de Trovoada, Independente Ação Democrática (ADI), venceu as eleições de 25 de setembro. Neves também havia sido eliminado no primeiro turno da eleição presidencial de 18 de julho de 2021, vencida por Carlos Vila Nova, do ADI.

Desde então, Neves tentou por várias formas contestar as eleições presidenciais e legislativas e originou um novo movimento, “Basta", após a votação em setembro. "Se ele realmente quer governar a qualquer custo, acho que ele passou a linha vermelha e terá que prestar contas à justiça. Eu sempre acusei políticos que se refugiam na imunidade para fugir da Justiça, e parece que ele agora vai passar por um momento crítico. Se estes problemas todos que ele têm com a justiça vierem, ele responderá não só pela tentativa de comandar um golpe de Estado, como a todos os outros processos pendentes", explicou Baía.

Democracia frágil 

O Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), maior partido da oposição são-tomense, condenou nesta sexta-feira (25), de forma veemente, a tentativa de golpe. Em um comunicado, a sigla criticou uma “ação covarde de alteração da ordem constitucional” e manifestou “solidariedade aos militares que, em defesa da pátria, foram feridos”.

O partido liderado por Jorge Bom Jesus exortou a população “a se manter calma e serena para que este acontecimento não venha a afetar” a democracia e “a paz social que sempre foram características dos são-tomenses”.  O MLSTP-PSD, de centro-esquerda, e o ADI têm disputado a liderança do país desde a sua independência, em 1975.

O pequeno e pobre país está habituado às alternâncias no poder destes dois partidos que dominam a cena política desde a instauração do multipartidarismo em 1991, após 15 anos de regime marxista de partido único da ex-colônia portuguesa. Após várias tentativas de golpe, as últimas em 2003 e 2009, o regime parlamentar se afirmou e permitiu várias alternâncias entre o ADI e o MLSTP.

(Com informações da AFP)

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