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Mali: "civis cavavam valas comuns onde eram executados", denuncia Ong de direitos humanos

A ONG Human Rights Watch investiga um possível massacre orquestrado pelo Exército do Mali, com apoio de mercenários russos da empresa paramilitar Wagner, contra civis em Moura, no centro do país africano, numa região dominada por grupos extremistas islâmicos. As autoridades do Mali dizem ter matado 203 jihadistas, mas em um relatório publicado nesta terça-feira (5), a organização de Direitos Humanos questiona a versão oficial.

Veículo do Exército do Mali. (imagem ilustrativa)
Veículo do Exército do Mali. (imagem ilustrativa) AFP - MAIMOUNA MORO
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Os moradores dessa aldeia contam que foram surpreendidos pelo cerco de militares brancos, que falavam uma língua desconhecida e diferente do francês, e do Exército malinês, numa vasta operação que durou vários dias. Entre 23 e 31 de março, eles impuseram o terror aos habitantes, a maioria camponeses e criadores de animais.

De acordo com 27 testemunhos de sobreviventes coletados pela ONG Human Rights Watch, o massacre teria feito pelo menos 300 vítimas, a maioria civis desarmados. “Os militares chegaram de helicóptero durante um mercado de animais de Moura e bloquearam todas as saídas do vilarejo. Seriam aproximadamente 100 soldados russos e muitos soldados do Exército do Mali”, afirma Bénédicte Jeannerod, diretora do Human Rights Watch na França.

Em entrevista à RFI, ela conta que os militares “executaram diversos homens, fizeram muitos deles prisioneiros e os levaram para uma região ao leste de Moura”. Nesta região afastada, “40 deles receberam ordem de cavar três grandes valas comuns e a maior parte das execuções aconteceu nas proximidades ou dentro dessas valas”, completa Jeannerod. 

Presença jihadista

A cidade de Moura é frequentemente invadida por jihadistas ligados a Al-Qaeda que vêm comprar comida e vender carne de animais roubados dos criadores locais no mercado local. Os militares teriam trocado tiros com jihadistas, que se misturam no meio da população. Porém, de acordo com a ONG internacional, muitos homens civis foram submetidos aos horrores do massacre. Eles foram separados das mulheres e executados à tiros, antes de serem jogados em valas comuns, onde os corpos eram às vezes queimados.  

A ONG Human Rights Whatch denuncia a morte de centenas de pessoas que “foram executadas de maneira sumária, sem distinção”, de acordo com o relatório tornado público. Se os fatos forem confirmados, esta seria a pior atrocidade no conflito que abala o Mali há dez anos.

Para Bamako, trata-se de jihadistas que foram alvo de perseguição e então mortos numa “operação de limpeza” reivindicada pelo Exército que reconhece a morte de mais de 200 terroristas. A imprensa do Mali, favorável à junta militar no poder, saudou uma "grande vitória". Porém, frente aos questionamentos da comunidade internacional, o Estado Maior do Mali denunciou, nesta terça-feira, em um comunicado, “especulações difamatórias”.

Os serviços de inteligência ocidentais estimam que mil mercenários que falam russo estão em atuação no Mali. A junta militar que assumiu o poder no país promete retomar o território dos jihadistas, ao virar as costas para a França e aos ocidentais e se aproximando da Rússia.

Os Estados Unidos dizem estar preocupados com a situação e pedem a abertura de uma investigação nacional e internacional independentes. Contudo, as autoridades locais impedem representantes da ONU de se aproximarem do local do massacre.

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