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Dois manifestantes são mortos em mais um dia de protestos no Sudão

Dois manifestantes contrários ao poder militar no Sudão foram mortos neste domingo (2) em Cartum durante protestos que, mais uma vez, reuniram milhares de pessoas, apesar do corte total das comunicações e um destacamento maciço de soldados armados.

Militantes no Sudão pedem que 2022 seja "o ano da resistência", exigindo justiça para os manifestantes mortos desde o golpe, em 25 de outubro. Cartum, 25 de dezembro de 2021.
Militantes no Sudão pedem que 2022 seja "o ano da resistência", exigindo justiça para os manifestantes mortos desde o golpe, em 25 de outubro. Cartum, 25 de dezembro de 2021. © Marwan Ali, AP
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Os dois manifestantes morreram em Omdourman, nas proximidades da capital Cartum, elevando para 56 o número de vítimas fatais desde o início dos protestos. De acordo com um sindicato de médicos pró-democracia, uma das vítimas foi baleada no peito e a outra sofreu "uma violenta pancada na cabeça que partiu seu crânio".

Como em todos os protestos, que se tornaram frequentes desde o golpe de Estado do general Abdel Fattah al-Burhane, em 25 de outubro, as autoridades tentaram, mais uma vez impedir a mobilização erguendo barreiras “físicas e virtuais”.

Cartum está isolada há muitos dias por contêineres colocados nas pontes sobre o Nilo. A internet e redes de telefonia foram cortadas na manhã deste domingo, e nas principais estradas membros das forças de segurança em veículos blindados com metralhadoras vigiavam os passantes.

Apesar da forte repressão, milhares de sudaneses responderam ao apelo dos militantes para se manifestarem "em memória dos mártires", depois que 54 pessoas já haviam morrido e centenas ficaram feridas desde o golpe. O país vivenciou um novo pico de violência nesta quinta-feira (30), com seis manifestantes mortos em Cartum, também de acordo com o sindicato de médicos.

Violência a portas fechadas

A quinta-feira também foi marcada por atos de violência “a portas fechadas”, quando as forças de ordem, além de isolarem o país do mundo e Cartum de sua periferia, prenderam e espancaram jornalistas de dois canais sauditas.

Neste domingo, milhares marchavam aos gritos de "os soldados no quartel" e "poder ao povo", enquanto jovens em motocicletas cruzavam a multidão, prontos para socorrer feridos, pois a cada mobilização as ambulâncias são bloqueadas pelas forças de segurança.

Os militantes pedem que 2022 seja "o ano da resistência", exigindo justiça para os manifestantes mortos desde o golpe, mas também para os mais de 250 civis mortos durante a "revolução" de 2019, quando a pressão popular obrigou o exército a destituir o ditador Omar al-Bashir, que estava no poder há 30 anos.

Na ocasião, generais e civis entraram em um acordo sobre um cronograma de transição que exigia a entrega do poder aos civis antes de eleições livres em 2023. Mas em 25 de outubro o general Burhane estendeu o prazo com o que chama de "correção do curso da revolução", mantendo seu mandato à frente do país por dois anos e reinstalando, um mês depois, o primeiro-ministro civil Abdallah Hamdok.

Hamdok não é visto em público há dias, enquanto aumentam os rumores de demissão. O poder ainda luta para apresentar aos 45 milhões de sudaneses o governo civil que havia prometido no final de novembro ao libertar Hamdok da prisão domiciliar.

“Nem parceria, nem negociação”

Em um país que esteve quase sempre sob o domínio militar, desde sua independência há 65 anos, os manifestantes proclamam: "nem parceria, nem negociação com o exército".

Além das mortes e dos cortes de telecomunicações, as forças de segurança também são acusadas de terem recorrido em dezembro a uma nova ferramenta de repressão: o estupro de pelo menos 13 manifestantes, de acordo com a ONU. E todos os dias os Comitês de Resistência - pequenos grupos que organizam manifestações - anunciam novas prisões ou desaparecimentos.

Neste domingo, mais uma vez as autoridades sudanesas foram alvo da atenção da comunidade internacional, que denuncia a escalada de violência.

Os europeus já expressaram indignação, assim como o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e a ONU. Todos defendem o retorno ao diálogo como pré-requisito para a retomada da ajuda internacional, que foi cortada após o golpe.

(Com informações da AFP)

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