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Morte de Desmond Tutu: África chora a partida de um ícone do continente

A partida do Prêmio Nobel da Paz, símbolo da luta contra o apartheid, deixa o continente africano órfão de uma de suas vozes mais influentes. O arcebispo Desmond Tutu faleceu no domingo (26), aos 90 anos, na Cidade do Cabo.

Pessoas depositam flores para Desmond Tutu na catedral de São Jorge, na Cidade do Cabo. (26/12/2021)
Pessoas depositam flores para Desmond Tutu na catedral de São Jorge, na Cidade do Cabo. (26/12/2021) AP
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A África do Sul iniciou nesta segunda-feira (27) uma semana de luto pela morte de Tutu. Há anos ele estava afastado da vida pública, mas as lembranças da sua tenacidade e seu empenho em denunciar as injustiças sociais e reconciliar os sul-africanos estão na mente de todos.

“Ele representava, para nós, uma grande voz para a África, por tudo que fez pelo seu país”, disse o cardeal Fridolin Ambongo, da arquidiocese de Kinshasa, no Congo. “A sua morte cria um vazio. Eu via nele um modelo de homem completamente dedicado à causa dos seus irmão e irmãs, e simbolizava o homem que a África precisa. Dói ver a sua partida”, disse o líder religioso, à RFI.

Tutu também é um ícone para diversos líderes políticos do continente, a exemplo do opositor do Chade Succès Masra, presidente do partido Transformadores. “Guardarei dele o riso contagioso que ele tinha, mas sobretudo o seu engajamento e determinação pela justiça. Tive a sorte de encontrá-lo em 2016. Era um destes líderes que são servidores do seu povo, e acho que ele tinha razão”, comentou.

Semana de homenagens

O funeral de Tutu acontecerá em 1º de janeiro na catedral de São Jorge da Cidade do Cabo, sua antiga paróquia, onde os sul-africanos depositam flores em homenagem a um dos grandes nomes da história do país.

"Quando éramos jovens militantes, se o arcebispo Tutu estava presente, a polícia e o exército nunca atiravam. Por quê? Realmente não sabemos. Mas ele servia de escudo", tuitou Panyaza Lesufi, uma das líderes do Congresso Nacional Africano (ANC), partido que atuou para acabar com o apartheid e governa a África do Sul desde 1994.

O "Arch", diminutivo de arcebispo em inglês, como ele era chamado de maneira carinhosa no país, "é o último de uma geração extraordinariamente notável de líderes africanos", escreveu nesta segunda-feira a viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, ao lamentar "a perda de um irmão”. "Do alto de seu púlpito, utilizando com habilidade sua autoridade moral, Arch condenou com paixão o apartheid e exigiu com eloquência sanções contra o regime racista", recordou a militante moçambicana.

Desmond Tutu foi aliado de Nelson Mandela no combate ao apartheid, coroado com a presidência do primeiro homem negro na África do Sul, em 1994.
Desmond Tutu foi aliado de Nelson Mandela no combate ao apartheid, coroado com a presidência do primeiro homem negro na África do Sul, em 1994. © AFP/Alexander Joe

Com a "coragem indescritível" que tinha para lutar, "permanecia decidido e sem medo, liderando as manifestações, com sua roupa clerical e seu crucifixo como escudo", descreveu, antes de revelar que Tutu estimulou "Madiba (Mandela) e ela" a oficializar sua união com o casamento.

A igreja anglicana anunciou uma semana de homenagens. De segunda-feira a sexta-feira, os sinos da catedral de São Jorge tocarão por 10 minutos a partir do meio-dia para recordar o símbolo da luta contra o apartheid. O arcebispo da Cidade do Cabo pediu que, aqueles que desejarem, "façam uma pausa em suas tarefas" para pensar em Tutu.

Na quarta-feira, a diocese de Pretória e o Conselho de Igrejas da África do Sul organizarão uma cerimônia na capital. Na quinta-feira à noite está programada uma cerimônia íntima para a viúva de Tutu, Nomalizo Leah Shenxane, conhecida como "Mama Leah", a família e os amigos. Na sexta-feira, o corpo será levado para a capela da catedral, antes do enterro.

Religioso e ativista

As homenagens continuam chegando de todo o mundo, de chefes de Estado a líderes religiosos. O papa Francisco destacou o papel do sul-africano na "promoção da igualdade racial e da reconciliação". O Dalai Lama, velho amigo de Tutu, elogiou "um grande homem, totalmente dedicado ao serviço de seus irmãos e irmãs".

Desmond Tutu ganhou notoriedade nos momentos mais obscuros do apartheid, quando liderou passeatas pacíficas contra a segregação e para defender sanções contra o regime de supremacia branca de Pretória.

Ao contrário de outros ativistas da época, a posição de líder religioso o salvou de ser preso e sua luta pacífica foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz em 1984. Após a chegada da democracia em 1994 e da eleição de seu amigo Nelson Mandela como presidente, Desmond Tutu, que criou o termo "Nação Arco-Íris" para a África do Sul, presidiu a Comissão da Verdade e da Reconciliação, criada com a esperança de virar a página do ódio racial.

Com informações da AFP

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