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Devolução de tesouros ao Benim pela França é apenas simbólica, diz jornal francês

O jornal Libération desta sexta-feira (12) traz uma reportagem sobre a entrega dos 26 tesouros roubados do Benim pela França, que chegaram a Cotonou nesta quarta-feira (10). "Um orgulho para os beninenses, mas uma gota d'água em um oceano em relação às obras que ainda se encontram fora do país", diz o jornal.

Na imprensa o jornal Libération traz reportagem feita no Benin sobre a devolução dos tesouros roubados pela França ao país.
Na imprensa o jornal Libération traz reportagem feita no Benin sobre a devolução dos tesouros roubados pela França ao país. © Fotomontagem RFI/ Adriana de Freitas
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Os tesouros reais de Abomei, que contam com objetos como tronos, estátuas e outras relíquias, foram roubadas do Benim pelas tropas francesas no século XIX e devolvidas após anos de negociações entre os países. Com a devolução, o presidente Emmanuel Macron cumpre uma promessa feita em 2017, em visita a Ouagadougou, em Burkina Faso. 

Para celebrar a devolução, as ruas de Cotonou foram decoradas com cartazes com fotos das estátuas dos reis Beanzim, Guezô e Glelê, as três peças mais emblemáticas da restituição. Milhares de beninenses aplaudiram a chegada dos tesouros e acompanharam o cortejo até o palácio presidencial da Marina, onde foram recebidas pelo presidente Patrice Talon em uma cerimônia.

Os tesouros serão conservados durante dois meses no palácio presidencial e em seguida serão expostos temporariamente na casa do governador de Uidá, cidade histórica e antigo porto de venda de escravos, situada a 40km de Cotonou.

Em três anos as peças chegarão a seu destino final: o futuro museu da Epopeia das amazonas e dos reis de Daomé, financiado pela Agência francesa de desenvolvimento, em 35 milhões de euros.

Conservação e restituição simbólica

Em Cotonou, as opiniões se dividem entre os que acreditam que a França devolveu as obras porque tem interesses escondidos e os que se perguntam se o Benin teria conseguido conservá-las durante este tempo. Como muitos países africanos, o Benin foi acusado de não reunir todas as condições necessárias para receber e conservar as obras, lembra o jornal.

"A discussão sobre a capacidade dos países de saber conservar é antiga. É verdade que é necessário dispor de recursos técnicos e profissionais suficientes para poder fazê-lo corretamente", diz Alain Godonou, diretor do programa de Museus da Agência nacional de promoção de patrimônios e desenvolvimento do turismo do Benin, que tem a responsabilidade de relançar o turismo no país, objetivo do atual governo.

Ele explica que o Benin empreendeu um projeto que correponde aos padrões internacionais e não deixa nada a desejar aos existentes nos países ocidentais. Além disso, foi criada a Escola de patrimônio africano, na capital Porto Novo, para formar profissionais competentes. Por isso, para ele, as críticas e objeções sobre as capacidades do país não são válidas. 

Ele lembra que a restituição é apenas simbólica, já que 90% do patrimônio africano está fora do continente. O presidente Patrice Talon lamentou, na terça-feira, que ainda estejam retidas na França a estátua do deus Gou e a tablette du fâ.

Ouro negro

Outras ex-colônias da França, como o Camboja ou o Vietnã, têm outras regras relativas à devolução das obras. De acordo com Libération, a troca entre museus é mútua e a instituição francesa continua sendo proprietária da peça, deixando de lado questões de como foram adquiridas.

As espoliações na Ásia foram menores que na África e os museus contam com grandes coleções. Por isso, os pedidos de devolução são inexistentes, explica o jornal. 

Ao menos 88 mil objetos originários da África estão expostos em museus franceses, 70 mil somente no museu do Quai Branly, em Paris. Devido ao caráter inalienável das coleções francesas, somente leis de exceção podem garantir a restituição de um objeto ou de um conjunto de peças.

A votação da lei que permitiu a devolução dos tesouros reais de Abomei e o sabre de El Hadj Omar Tall ao Senegal, foi decidida durante uma acalorada discussão no Parlamento francês, em dezembro do ano passado.

De acordo com Philippe Baqué, autor da obra “Un nouvel or noire, pillage d'oeuvres d'art en Afrique”, (Em tradução para o português “Um novo ouro negro, roubo de obras de arte na África”, Agone, 2021) o lobby dos marchands de arte e conservadores se opõe totalmente à devolução, já que algumas obras rendem milhões de euros.

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