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Primeira presidenta da Tanzânia assume sob pressão de clã do líder morto por suspeita de Covid-19

Pela primeira vez, a Tanzânia, país de 56 milhões de habitantes no leste da África, será governado por uma mulher. A vice-presidente Samia Suluhu Hassan, uma muçulmana de 61 anos, irá assumir o poder após a morte cercada de mistérios do chefe de Estado John Magufuli, anunciada na quarta-feira (16). Hassan vai liderar um país marcado pela gestão autoritária de seu antecessor. 

Samia Suluhu Hassan, uma muçulmana de 61 anos, será a primeira chefe de Estado da Tanzânia.
Samia Suluhu Hassan, uma muçulmana de 61 anos, será a primeira chefe de Estado da Tanzânia. AP
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O chefe de Estado tanzaniano tinha 61 anos e havia sido reeleito para um segundo mandato em outubro passado. Ele era conhecido por seu negacionismo em relação à pandemia do coronavírus. O anúncio de sua morte encerrou três semanas de ausência inexplicada da mídia e vários rumores. Seu principal opositor, Tindu Lissu, que considerou o óbito uma "justiça poética" depois que o presidente minimizou a dimensão da Covid-19, afirma que ele "morreu de coronavírus". Já a vice-presidente declarou que ele faleceu em consequência de "problemas cardíacos" que enfrentava há uma década.

Samia Suluhu Hassan, originária do arquipélago semiautônomo de Zanzibar, cujas relações com a Tanzânia continental são historicamente tensas, ocupará a presidência "pelo período restante do mandato de cinco anos", ou seja, até 2025, de acordo com a Constituição do país. Conhecida por encorajar as mulheres a perseguirem os seus sonhos, esta mãe de quatro filhos já era a primeira vice da história deste território africano, desde a chegada de Magufuli ao poder, em 2015.

"Posso soar educada e não grito quando falo, mas o mais importante é que todos entendam o que eu digo e que as coisas sejam feitas como eu digo", disse ela, no ano passado. Criada em uma família modesta, filha de pai professor e mãe dona de casa, Hassan tem mestrado em "desenvolvimento econômico comunitário" pela Universidade Livre da Tanzânia, em Dar-es-Salaam, e pela Universidade de Southern New Hampshire, nos Estados Unidos.

Ela começou sua carreira no governo de Zanzibar, onde trabalhou durante dez anos, entre 1977 e 1987, ocupando inicialmente funções administrativas e depois uma função de gestora de desenvolvimento. Na sequência, também em Zanzibar, ela ingressou no Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, onde permaneceu por quase uma década. Depois de deixar o PMA, dirigiu por dois anos a associação de ONGs do arquipélago, Angoza.

A carreira política de Hassan começou em 2000, quando foi nomeada membro do Parlamento de Zanzibar pelo partido presidencial tanzaniano Chama Cha Mapinduzi (CCM), ainda hoje no poder. Mais tarde, foi eleita para a Assembleia Nacional da Tanzânia. Hassan foi ministra várias vezes: em Zanzibar (Mulheres e Juventude, depois Turismo e Comércio) entre 2000 e 2010, e em nível nacional a partir de 2014, à frente da pasta de Assuntos Sindicais, no governo de Jakaya Kikwete.

Rosto da Tanzânia no exterior

Como vice-presidente, um papel secundário, tornou-se o rosto da Tanzânia no exterior, onde regularmente representava Magufuli. Em 2019, sob sua supervisão, o Ministério do Meio Ambiente proibiu o uso de sacolas plásticas.

Em 2016, houve rumores de que ela havia renunciado, devido a divergências com o chefe de Estado. A informação foi negada por um comunicado oficial. No ano passado, porém, em um discurso na presença de Magufuli, ela falou de uma certa incompreensão de sua ação na época.

Hassan vai liderar um país marcado pela gestão autoritária de Magufuli. Apegado ao combate à corrupção, ele lançou grandes projetos de infraestrutura, mas também amordaçou a oposição e liderou uma repressão aos defensores dos direitos humanos e à mídia. Em outubro, sua reeleição foi rejeitada pela oposição, que denunciou fraudes.

"Para aqueles que esperam uma ruptura com o estilo Magufuli, eu diria: 'prendam a respiração por enquanto'", comentou nesta quinta-feira o analista tanzaniano Thabit Jacob, pesquisador da Universidade Roskilde, na Dinamarca. Para ele, a primeira mulher presidente da Tanzânia governará "com uma base muito mais fraca, que será controlada pelo clã Magufuli e pela Inteligência". "Ela terá dificuldades para construir sua própria base e surgirão rivalidades entre facções", prevê o especialista.

Hassan será uma das poucas mulheres atualmente no poder na África, ao lado da etíope Sahle-Work Zewde, cujas funções são honorárias.

Com informações da AFP

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