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Egito força jornalista do Guardian a sair do país após matéria sobre coronavírus

O Egito forçou a jornalista Ruth Michaelson a deixar o país nesta quinta-feira (26) após ter publicado uma matéria sobre um estudo científico que mostrava que o país teria, provavelmente, muito mais casos de coronavírus do que o governo tem confirmado oficialmente.

O governo egito, do presidente Abdel Fattah Al-Sissi, acusou a jornalista de estimular o caos social com uma matéria sobre o coronavírus
O governo egito, do presidente Abdel Fattah Al-Sissi, acusou a jornalista de estimular o caos social com uma matéria sobre o coronavírus REUTERS - MOHAMED ABD EL GHANY
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De acordo com o jornal britânico The Guardian, a jornalista, que mora e trabalha no Egito desde 2014, foi aconselhada por diplomatas na semana passada que as forças de segurança egípcias queriam que ela deixasse imediatamente o país.

Ruth Michaelson publicou no último dia 15 uma matéria em que ouvia infectologistas da Universidade de Toronto que se debruçaram sobre os dados do país árabe e informações sobre o número de voos a áreas com grande contaminação. Os especialistas consideravam que o número de contaminados era provavelmente muito maior do que o governo do país anunciava.

No dia seguinte à publicação da matéria, a jornalista foi convocada para uma reunião de mais de três horas com representantes do governo egípcio, incluindo a chefe do Serviço de Informações Nacionais, que acusou Michaelson de usar um trabalho científico sem credibilidade para causar pânico.

Até quarta-feira (25), o Cairo havia confirmado 456 pessoas contaminadas pelo coronavírus e 21 mortes em consequência do vírus no país.

O estudo citado pelo The Guardian foi aceito para publicação pela revista científica Lancet Infectious Diseases Journal e estimava cerca de 6 mil casos no Egito. 

Egito revogou sua licença

Ainda segundo o jornal britânico, no dia 17 a repórter teve sua carteira de imprensa revogada. Na sequência, foi convocada para uma reunião no departamento responsável por vistos.

Michaelson, que também é cidadã alemã, disse que foi avisada pelas autoridades diplomáticas alemãs no Cairo de que não deveria comparecer à reunião sob nenhuma circunstância. "Eles disseram: 'Não acreditamos que seja seguro você ir a esta reunião. Você corre um alto risco de prisão e deve entrar em um avião '', contou a jornalista ao The Guardian.

Em seu Twitter, a ela criticou o tratamento dado pelo governo egípcio. “Informações precisas sobre esta pandemia são essenciais. Os cidadãos precisam ser capazes de confiar na forma como seus países lidam com essa ameaça à existência. Ao tratar os jornalistas dessa maneira, o regime egípcio mostrou que teme informações claras, assim como teme a doença.”

“O histórico atroz do Egito com relação à liberdade de imprensa foi repetido tantas vezes que é quase um clichê. Mas é assim que ele parece na prática”, concluiu.

De acordo com a organização Repórteres sem Fronteiras, a repressão contra jornalistas sob o governo do presidente Abdel Fattah Al-Sissi piorou desde que manifestações de oposição ao regime tomaram as ruas em 2019. Entre setembro e dezembro do ano passado, 22 jornalistas foram presos e apenas oito tinham sido liberados no período.

 

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