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Após denúncia de assédio sexual contra brasileiro, Unaids passa por forte crise interna

A Unaids está sendo criticada pela má administração da crise interna provocada pela denúncia de agressão sexual contra o brasileiro Luiz Loures, ex-diretor adjunto da organização, em 2015. Um relatório publicado nesta sexta-feira (7) mostra a existência de uma “cultura da impunidade” crescente, detalhando a falta de posicionamento dos diretores.

Bandeira da Unaids, durante o Dia Mundial de luta contra a Aids
Bandeira da Unaids, durante o Dia Mundial de luta contra a Aids www.unaids.org
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O documento, feito através de dezenas de testemunhos e centenas de pesquisas feitas com os funcionários da agência da ONU, com base em Genebra, concluiu que o secretariado da Unaids “está em uma crise que ameaça seu trabalho”. “Os dirigentes e políticos no seio da Unaids não conseguiram prevenir as alegações de assédio, inclusive sexual, de intimidação e abuso de poder, nem reagir de forma correta”, dizem os especialistas.

Essas “falhas sistêmicas” são ilustradas, de acordo com o relatório, por uma direção que “tem dificuldades em aceitar as responsabilidades diante das impunidades que se alastram na organização”. Diversas pessoas descreveram uma “cultura do medo, da falta de confiança e das represálias contra os que denunciam os abusos de poder”.

Questionada sobre a possibilidade de demissão do diretor da Unaids, Michel Sidibé, a porta-voz da organização, Sophie Barton-Knott, disse que ele “está olhando para o futuro”. “Ele está plenamente consciente do trabalho que deve fazer, em todos os níveis da organização, e está determinado a dirigir essa transformação”, afirmou.

Em 2015, Loures foi acusado de ter abusado sexualmente de uma colega, mas acabou sendo absolvido em uma investigação interna das Nações Unidas. Em abril de 2018, no entanto, a Unaids foi obrigada a reabrir uma enquete por agressão sexual contra o ex-diretor-adjunto. Loures anunciou em fevereiro que não se recandidataria ao cargo e terminou suas funções no final de março de 2018.

Entenda o caso

Uma subordinada de Loures apresentou uma denúncia formal, alegando que o diretor-adjunto a assediou sexualmente desde que começou a trabalhar no organismo internacional em 2011 e que, depois, concretizou o abuso no elevador de um hotel de Bangcoc em 2015, onde a Unaids organizava uma conferência.

A investigação interna realizada pelo Escritório de Serviços de Supervisão Interna (IOS, na sigla em inglês), da Organização Mundial de Saúde (OMS), concluiu que não havia provas suficientes para confirmar as acusações.

Ativistas e especialistas legais questionaram, porém, a credibilidade da investigação, insistindo que não foram consideradas evidências circunstanciais importantes. "A ONU é completamente mal equipada para investigar esse tipo de coisa. Eles não deveriam estar apurando abusos sexuais", disse na semana passada Ed Flaherty, advogado que representou funcionários públicos internacionais por mais de duas décadas.

"A ONU não é uma autoridade soberana dotada de Direito para investigar ações criminosas", acrescentou, lembrando que, "quando há uma queixa de uma ação criminosa, a ONU deveria envolver outras autoridades".

Comentários sobre a aparência

Em novembro de 2016, a funcionária fez uma queixa ao diretor-executivo da Unaids, Michel Sidibé, afirmando que o assédio incluiria comentários sobre sua aparência e toques não-autorizados, segundo contou aos investigadores.

A funcionária relatou ainda que as conversas começaram com assuntos ligados ao trabalho, mas depois se tornou mais pessoal, embora nada de excepcional tenha sido discutido. Ela afirma que, no elevador, depois disso, Loures se projetou sobre ela, beijando-a e apalpando seus seios.

Quando o elevador parou em seu andar, ele tentou puxá-la, em uma aparente tentativa de levá-la para seu quarto, segundo ela. Loures negou o abuso e disse que, enquanto bebiam, a acusadora expôs detalhes sobre suas preferências sexuais.

O diretor da Unaids, Michel Sidibé, foi acusado de tentar abafar o caso, mesmo em se tratando de uma investigação oficial. A decisão de Loures de pedir para sair aconteceu um dia depois de o subdiretor do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Justin Forsyth, ter renunciado ao cargo, após uma denúncia de conduta inadequada com mulheres quando trabalhava na organização britânica Save The Children.

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