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Radar econômico

Calote dos EUA causaria crise “pior que a do Lehman Brothers”

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Imprevisíveis, desastrosas, apocalípticas. Os adjetivos escolhidos por economistas para qualificar as consequências de um eventual calote da dívida dos Estados Unidos demonstram ao mesmo o quanto esta situação é improvável de realmente ocorrer, de tão grave que seria para a economia mundial. Para sair do impasse, republicanos e democratas têm dois dias para chegar a um acordo sobre o aumento do limite da dívida.

Calote provocaria instabilidade mundial a partir dos mercados financeiros.
Calote provocaria instabilidade mundial a partir dos mercados financeiros. REUTERS/Lucas Jackson
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Se isso não acontecer, na quinta-feira o país não será mais capaz de honrar os seus empréstimos, causando pânico nos credores do mundo inteiro, que veriam o preço dos títulos desabar, os juros disparar. O valor do dólar cairia, afetando as exportações de uma maneira generalizada. Toda essa bola de neve levaria o mundo a uma nova recessão, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.

O pesquisador Leonardo Weller estuda crises financeiras na Fundação Getúlio Vargas e acha que as previsões não são alarmistas: são realistas. “Só para se ter uma ideia, os títulos americanos que entrariam em defaut são o “benchmark” do mundo, o que significa que todas as carteiras do mundo têm este benchmark. Em caso de defaut, o problema não seria exatamente a falta de recursos para os credores, mas sim o fato de que o preço destes títulos cairia, porque todo mundo tentaria vendê-los ao mesmo tempo”, explica. “Haveria uma crise financeira imprevisível, sem precedentes. Seria provavelmente pior do que a crise do Lehman Brothers.“

Esta situação leva Christophe Destais, ex-conselheiro de Finanças da embaixada francesa em Washington e diretor-adjunto do Centro de Prospectivas e de Informações Internacionais, em Paris, a pensar no caso da Grécia – só que em proporções muito mais arrasadoras. Ele analisa as soluções possíveis para o impasse, na falta de um acordo.

“A dívida grega era de mais ou menos 130 bilhões de euros. A dos Estados Unidos é de 16,8 trilhões de dólares. Ou seja, não haveria substitutos possíveis para pagar este valor, a menos que o governo passe por cima da autorização legislativa para pedir empréstimos acima do teto”, observa. “Há um debate jurídico sobre isso. Alguns pensam que a Constituição garante não só a possibilidade, como a obrigação de o presidente dos Estados Unidos assegurar o pagamento da dívida. Este cenário não é de se descartar. Outra solução seria o Banco Central americano substituir os credores privados e ser, digamos, o FMI do governo americano, para assumir a parte da dívida que o governo não conseguir mais emitir no setor público.”

Há duas semanas, o país já vive uma situação de semi-paralisia, depois que o governo Obama não conseguiu aprovar o orçamento de 2014. Serviços federais estão prejudicados, como testemunha o pesquisador de saúde pública da Universidade de Massachusetts Em Boston, Eduardo Siqueira. Páginas importantes na internet administradas pelo governo, que ele precisa acessar, estão fora do ar. “Todos os meus colegas estão com este mesmo problema. Não conseguilmos nem acessar as páginas na internet. É um absurdo, está tudo parado. É algo que está afetando milhões de pessoas”, relata.

O economista Christophe Destais observa que os países em desenvolvimento ou emergentes, mais frágeis e com as reservas em dólar, seriam um dos maiores prejudicados por um eventual calote dos Estados Unidos. “Muitos países em desenvolvimento são vítimas do que chamamos de pecado original, ou seja, não podem se financiar nas próprias moedas. São obrigados a fazer empréstimos nas moedas de outros, mais confiáveis, e na maior parte dos casos esta moeda é o dólar. Eles seriam muito afetados pela perturbação no dólar.”

A chance de o calote, ocorrer, entretanto, parece ser mínima. Os economistas ouvidos pela reportagem acham que o governo e o Congresso vão acabar chegando a um acordo de última hora.
 

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