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Comitiva de indígenas brasileiros na Europa reforça campanha contra acordo UE-Mercosul

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A comitiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) iniciou nesta segunda-feira (11) uma visita de três dias a Paris, onde tem uma agenda de eventos e encontros para divulgar a campanha “Sangue Indígena: Nenhuma gota a mais”, que visa sensibilizar os europeus sobre as ameaças que pairam sobre as populações indígenas do país.

A líder indígena Ângela Kaxuyana.
A líder indígena Ângela Kaxuyana. Foto: RFI / Elcio Ramalho
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A passagem pela França é a antepenúltima etapa de um giro que começou pela Itália, em 21 de outubro, e vai terminar com visitas à Espanha e ao Reino Unido.

“O resultado tem sido positivo, porque nosso diálogo tem sido não apenas com os parlamentares, mas com toda a sociedade civil, a juventude, os movimentos sociais. A recepção tem sido muito calorosa e muito se manifestam em favor de nossa causa”, comenta Ângela Kaxuyana, uma das 11 lideranças indígenas que integram a delegação, que representa todas as regiões do país.

Depois de uma visita por Bruxelas, onde se encontraram e tiveram apoio do vice-presidente da Comissão Europeia, Franciscus Timmermans, a comitiva sentiu a necessidade de reforçar a campanha de sensibilização para empresários e grandes empresas que negociam com o Brasil.

“Queremos trazer um alerta muito importante que é uma responsabilidade de todos, da sociedade, seja do consumidor, dos parlamentares que têm a responsabilidade de elaborar e acompanhar as leis, mas também das empresas que precisam ter uma responsabilidade social”, diz Ângela. 

Nos encontros, os representantes da APIB têm insistido no pedido de que as autoridades dos países europeus não ratifiquem o acordo de livre comércio assinado entre a União Europeia e o Mercosul. O documento ainda precisa ser ratificado pelos países membros dos dois blocos econômicos. A campanha envolve também a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês), que reúne países como a Noruega, Islândia, Suíça e Liechtenstein e também negocia compromissos comerciais.  

“Esses acordos de livre comércio que envolvem o Brasil nos preocupam muito. Estamos falando de oferta de produtos que estão atingindo diretamente nossos territórios, como no caso da soja, carne de boi e milho. A assinatura desses acordos representa o avanço de conflitos, desmatamento e avanço da gravidade da violação dos nossos direitos enquanto povos indígenas”, defende.  

Os grupos empresariais de diferentes setores da economia foram os que mais demonstraram resistência à campanha contra a ratificação do acordo entre os dois blocos econômicos, por considerarem, segundo Ângela Kaxuyana, um obstáculo para o desenvolvimento e ampliação de negócios.

“Eles não se dão conta que esses avanços de negócios também são um avanço do genocídio dos povos indígenas. Quando se fala de uma demanda de importação grande de produtos como a soja, estamos falando de produtos oriundos de áreas de conflitos, vindos do trabalho escravo, e estão violando direitos não apenas dos indígenas, mas de toda a sociedade”, argumenta.

“Estamos sentindo uma resistência grande por parte das empresas e do comércio. Eles entendem que esse acordo ampliará o diálogo entre os países, dos negócios e do crescimento dos lucros. Nosso alerta é de que eles devem pensar na vida das pessoas. Ao negociar esses produtos, eles também estão negociando as nossas vidas, as nossas almas e o nosso sangue”, acrescenta.

Críticas contra Bolsonaro

Durante as reuniões, a comitiva indígena insiste junto a dirigentes de empresas e autoridades políticas na proposta de que cada país europeu crie um sistema próprio de rastreabilidade, transparência e punição das empresas que violarem os direitos dos povos originários. “É necessário que haja uma legislação mais dura para acompanhar a origem de fato dos produtos, de ter uma transparência de importação dos produtos”, explica.

A proposta defendida pela APIB também encontra eco favorável em diversos setores, segundo Ângela. “Tivemos demonstração de parlamentares de diversos países que manifestaram interesse de monitorar a comercialização desses produtos. Muitos partidos verdes de alguns países disseram que estão do nosso lado e entendem a importância de ter uma legislação específica para ter a rastreabilidade desses produtos”, garante.

Estamos somando também com as manifestações das próprias sociedades. Soubemos em Bruxelas que 68% da população é contra o acordo (UE-Mercosul). Isso também nos motiva para trazer essa mensagem de alerta”, afirma.

Neste giro, a comitiva diz ter recebido manifestações de solidariedade de muitos europeus que demonstram preocupação com o futuro dos povos indígenas diante das políticas adotadas pelo governo de Jair Bolsonaro.

“Além da visibilidade da nossa visita, está tendo muita manifestação de autoridades que apoiarão nossa causa. Também sentimos grande preocupação por parte dos parlamentares, aliados, tanto pelos setores do comércio e da sociedade civil. Preocupação com os ataques (contra as populações indígenas). Eles manifestam preocupação com esse governo não só para quem está no país, mas também para as relações de comércio, de política, e principalmente de respeito aos acordos internacionais que falam de direitos humanos”, completa.

Clique abaixo para conferir a íntegra da entrevista

 

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