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"No Brasil, há um sentimento falso de reconciliação nacional", diz escritor Julián Fuks

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O processo de adoção do irmão em meio à fuga dos pais da ditadura militar argentina, bem como sua chegada no Brasil, são os temas centrais de "A Resistência", premiado livro de Julián Fuks, traduzido para o francês e lançado no Salão do Livro de Paris. 

O escritor Julián Fuks em entrevista para a RFI Brasil.
O escritor Julián Fuks em entrevista para a RFI Brasil. RFI
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O romance, reconhecido com o prêmio Jabuti em 2016 e o prêmio Saramago em 2017, é o quarto livro do autor e o primeiro a ser traduzido para o francês. Filho de pais argentinos, o jornalista, escritor e doutor em Literatura pela USP, diz que o livro explora diversos tipos de resistência, daí seu nome. "Eu tinha vontade de falar de muitas resistências, não só à ditadura militar, mas também ao convívio familiar por parte desse irmão adotivo que é o centro do livro e a resistência do narrador em contar esse história."

Fuks também explica que "Ni partir, ni rester" ("Nem ir, nem ficar"), no título em francês, está próximo da auto-ficção. "São elementos autobiográficos evidentes, mas a ficção se constrói mesmo assim. Na tentativa de recuperar essas histórias, o ato de reconstruir com palavras essas histórias é sempre uma deturpação, uma transformação. É impossível conceber esse livro como uma autobiografia,  também porque fala muito mais de outros do que de mim. A história é muito mais centrada na figura do meu irmão, como se fosse uma busca identitária dessa figura do irmão, da questão da adoção, desse passado que é preciso refletir, buscar, devassar."

Brasil e Argentina lidam de formas diferentes com a história

O livro também aborda a decisão dos pais de Fuks de fugir da ditadura militar na Argentina em 1976 e ir viver no Brasil, um país que, então, também vivia uma ditadura. Livros de ficção sobre esse período da história são cada vez mais populares, no entanto, o questionamento e a reação a essas obras não é igual nos dois países. Segundo Fuks, isso se deve ao fato de que Brasil e Argentina terem culturas muito distintas na forma de lidar com a memória e a história do país. 

"A Argentina faz uma análise minuciosa do seu passado, insiste em olhar para aquilo que passou e refletir. Os responsáveis pelos crimes da ditadura na Argentina foram julgados e presos. No Brasil, a situação é muito diversa. Temos o que, no seu momento, teve muita importância: a anistia ampla, geral e irrestrita, mas que depois se tornou algo completamente infame porque os crimes da ditadura ficaram impunes," diz Fuks.

O autor continua, criticando a forma com que o Brasil lida com os anos da ditadura. Segundo Fuks, há um sentimento falso de reconciliação nacional que acaba tendo consequências no momento que o país vive hoje. 

"Há uma proposta de que devemos nos conciliar com nosso passado do jeito que ele está e aceitar que as coisas foram assim e pronto. E isso acaba resultando na reverberação constante desse autoritarismo. Hoje a gente vê pessoas defendendo o retorno da ditadura militar, defendendo a intervenção militar, como vemos no Rio de Janeiro. A gente percebe que há uma falta de reflexão sobre esse passado," explica. 

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