"Você não pode entender o Brasil sem entender a nossa violência", diz Patrícia Melo
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Com dez romances publicados, um prêmio Jabuti e traduções em várias línguas, Patrícia Melo se consolida como uma das maiores autoras brasileiras da atualidade. Em 2017, a editora Actes Sud lançou Feu Follet, a tradução francesa de Fogo-fátuo, lançado, no Brasil, pelo editora Rocco. Em Paris, onde participa de uma conferência na Sorbonne, Patrícia passou pelos estúdios da RFI Brasil para nos revelar um pouco da sua mente de escritora e dos seus métodos de trabalho.
Roteirista, dramaturga e, sobretudo, romancista, há quase 25 anos Patrícia Melo eletriza uma multidão de fãs, admiradores fiéis do seu texto direto, vertiginoso, que captura o leitor, deixando-o seu fôlego, da primeira à última página. Se um livreiro menos atento pode classificar seus livros como “literatura policial”, a obra de Patrícia vai muito além do crime, mergulhando na alma de personagens que nos revelam a violência do quotidiano brasileiro.
“A questão da violência é um denominador comum na minha obra. Quase todos os meus romances abordam, de uma maneira ou de outra , essa questão. Mas acho reducionista tachar a minha literatura de ‘literatura policial’. Existem escolas de literaura policial, como a inglesa e a americana. Eu nunca segui nenhum desses modelos. Eu sempre trabalhei de um modo livre. Agora, depois de vinte anos sendo chamada de autora de ‘romances policiais’, eu decidi fazer um livro policial, Fogo-fátuo, para poder merecer esse rótulo!”, explica Patrícia, rindo.
Segredos da profissão
Como muitos autores, Patrícia estuda seus temas antes de começar uma nova obra. A pesquisa, no entanto, pode se tornar um empecilho para o escritor, seja porque ela se alonga interminavelmente, ou porque ela se torna maior do que o próprio tema ficcional do livro.
“A pesquisa não pode ser maior do que a fabulação, do que a imaginação. Literatura é fantasia, fabulação, hipótese. Então, a pesquisa serve como um tecido para que você possa construir essa hipótese. Mas você não pode deixar esse tecido se tornar mais vistoso do que a própria estrutura do romance. A boa pesquisa é aquela que você não percebe. Você lê, sabe que deve ter havido uma pesquisa, mas ela está tão dissolvida na trama, na construção, que você lê, mas não a vê”, revela Patrícia.
A violência como tema
“A violência, da maneira como ela sempre foi vivida no Brasil, desde a colonização até a ditadura e o processo de redemocratização, ela é constitutiva da cultura brasileira. (...) A violência é um elemento constitutivo do nosso etos. O meu interesse é esse: você não pode entender o Brasil hoje sem entender a nossa violência, a histórica e a atual”, encerra Patrícia.
Livros de Patrícia Melo
- Acqua Toffana (1994)
- O Matador (1995)
- Elogio da Mentira (1998)
- Inferno (2000) – Ganhador do prêmio Jabuti
- Valsa Negra (2003)
- Mundo Perdido (2006)
- Jonas, o Cropomanta (2008)
- Ladrão de Cadáveres (2010)
- Escrevendo no Escuro (2011)
- Fogo-fátuo (2014)
- Gog Magog (2017)
Todos publicados atualmente pela editora Rocco.
Clique na caixa abaixo para assistir na íntegra à entrevista de Patrícia Melo.
EM Patrícia Melo
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