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O Mundo Agora

“Eleições antecipadas podem dividir ainda mais a nação”

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Não é o começo do fim. É só o fim do começo. Dilma, Lula e o PT foram derrotados por maioria acachapante. Só o núcleo mais duro do lulopetismo e minguados aliados de circunstância votaram contra o impeachment. Mas apesar de cada vez mais isolados, governo e petistas já estão avisando que vão brigar até o fim. No Senado e nas ruas. Usando todas as chicanas jurídicas e a feira livre de cargos e verbas para tentar salvar o soldado Dilma.

Manifestantes celebram aprovação do impeachment na Câmara.
Manifestantes celebram aprovação do impeachment na Câmara. REUTERS/Adriano Machado
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Proclamar essa guerra de trincheiras significa simplesmente paralisar o país durante os próximos seis meses que pode durar o processo na câmara alta. É o quanto pior melhor, sem pensar, nem no país e nem no seu futuro. Sem falar na avalanche de revelações e processos por corrupção da operação Lava-Jato que está por vir e que vai desestabilizar boa parte da classe política, oposição e situação juntos.

Qualquer governo que sairá desse vendaval vai ter que enfrentar uma das crises mais profundas da história nacional moderna. Crise econômica, social, política e moral. Mas como encontrar soluções factíveis nesse clima de faccionalismo exacerbado? Se Dilma conseguir se manter – hipótese hoje pouco provável –, será um “pato manco” pelo resto do seu mandato, sem nenhuma base parlamentar para governar. Os rompantes do ex-presidente Lula, prometendo restabelecer a “alegria” do povo gastando boquirroto as reservas que o país tem e não tem, é a via para uma falência generalizada da nação. Mais do mesmo, multiplicado por dois não é só bater num muro de concreto, como já aconteceu, é se encastrar nesse muro por anos a fio.

Mas um governo alternativo, sob a batuta do vice-presidente e do PMDB, também terá poucas condições de governabilidade. Não vai ser nada fácil administrar uma saída para o país, pendurado na balança da Justiça Eleitoral, dependente do mesmo tipo de alianças “fisiológicas” com dirigentes acusados de corrupção e tendo que enfrentar o boicote nas ruas de um lulopetismo raivoso e a ânsia de uma população cansada das ilusões populistas e gritando por resultados.

Não é por nada que nos dois campos já começam a aparecer estrategistas de salão. Opositores que acham que seria melhor deixar Dilma sangrando no governo até as eleições presidenciais de 2018 para liquidar de vez com o PT. Ou petistas arguindo que seria melhor abandonar o governo já para deixar a sangria para a oposição e voltar com Lula daqui a três anos. Esquecem que quem sangra é o país e o povo, sobretudo os mais pobres esmagados pela inflação, os salários em queda livre e o desemprego em massa.

A equação para resolver a crise brasileira depende fundamentalmente de uma só variável: uma profunda reforma política. Já existem muitas ideias econômicas razoáveis, combinando crescimento com modernização do aparelho produtivo e manutenção da justiça social. Mas o país vai ter que passar por um largo período de austeridade e sacrifícios para enxugar as sujeiras e irresponsabilidades do lulopetismo. Ter capacidade, política e gerencial, para aplicar um programa de resgate são outros quinhentos.

Como chegar lá? Muitos estão achando que a melhor maneira seria convocar novas eleições gerais. Só que com esse clima de enfrentamentos deletérios, um pleito nacional agora poderia dividir a nação mais ainda, criando um clima de violência e caos, propício para aventuras autoritárias. Aí sim o buraco não teria fundo. Alguma forma de reconciliação nacional vai ter que acontecer: um petismo renovado numa longa cura de oposição, poderia continuar representando – para o bem – um pedaço do espectro político brasileiro. Mas hoje, o beco parece tão sem saída que não tem outra senão o aparecimento de novas forças políticas e líderes democráticos jovens que – eles sim – poderão passar da administração da crise para a necessária reforma da economia e da política brasileira.

Como afirma o dito popular: “o Brasil não vai afundar no buraco porque é maior que o buraco”. Não se pode desperdiçar uma boa crise, e é melhor ser otimista. Os otimistas só sofrem no fim.

  • Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, faz uma crônica semanal às segundas-feiras para a RFI

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