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Um pulo em Paris

Morte de professor em atentado islâmico na França reflete tensão internacional

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Mais um professor morreu esfaqueado na França, nesta sexta-feira (13), em um caso que é investigado como provável ataque terrorista islâmico. O assassinato foi imediatamente associado ao contexto de tensão internacional, não só pela guerra entre Israel e o Hamas, mas também na Ucrânia e às campanhas de ódio e desinformação que circulam nas redes sociais.

Policiais diante da entrada do Liceu Léon Gambetta, onde um professor foi assassinado a facadas em Arras, no norte da França.
Policiais diante da entrada do Liceu Léon Gambetta, onde um professor foi assassinado a facadas em Arras, no norte da França. REUTERS - PASCAL ROSSIGNOL
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O autor do ataque na escola de ensino médio Léon Gambetta, de Arras (norte), é um ex-aluno checheno do estabelecimento, nascido na Rússia e rigorosamente monitorado pelos serviços de inteligência franceses. Identificado como Mohammed Mogushkov, 20 anos, ele estava inscrito no cadastro de extremistas do Ministério do Interior francês. O jovem chegou a ser interrogado na quinta-feira (12) por policiais que não tiveram razões para detê-lo. Hoje, depois de esfaquear três adultos, e nenhum aluno na escola, ele foi preso. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, visitou a escola de Arras durante a tarde. Ele explicou que o professor de Literatura assassinado com golpes no pescoço, Dominique Bernard, 57 anos, tentou evitar que o agressor entrasse no estabelecimento. Um irmão mais velho dessa família chechena já cumpre pena de prisão na França, condenado por um projeto de atentado desmantelado e apologia do terrorismo. Nas horas seguintes ao ataque, outros nove membros da família foram detidos para interrogatório. Mohammed teve seu pedido de asilo negado pelas autoridades, mas continuava no território francês.   

Durante visita à escola, Macron informou ter desmantelado um segundo atentado. A polícia prendeu um homem armado com uma faca nas proximidades de uma escola de Limay, a cerca de 60 km a noroeste de Paris.

Os franceses reagem a este novo atentado com tristeza, revolta e medo, principalmente professores e estudantes. Durante o ataque, o agressor gritou "Allah Akbar", que significa "Alá é Grande", uma expressão de fé de muçulmanos que foi usurpada como grito de guerra de jihadistas. 

Um elemento desconcertante é que este novo ataque, que deixou um segundo professor e um funcionário da escola gravemente feridos, acontece três anos depois do assassinato de Samuel Paty, um professor de história e educação moral e cívica que foi decapitado por outro jovem checheno, em 16 de outubro de 2020, num colégio a 30 km de Paris. 

Desde o ataque de sábado (7) dos extremistas do Hamas em Israel, vários professores de história contaram que estavam incitando os alunos a falar na sala de aula sobre o que estavam vendo nas redes sociais. Os professores dizem que precisam combater a desinformação diante da enxurrada de imagens de violência que circulam na internet, e ajudar crianças e adolescentes a discernir os fatos de vieses ideológicos, manipulados com imagens chocantes. O problema é que os professores se tornam alvos de extremistas. 

Nos últimos dias, o governo francês tomou uma série de medidas para tentar impedir que o conflito no Oriente Médio fosse importado para o solo francês. A França tem as duas maiores comunidades de judeus e muçulmanos da Europa. 

A segurança foi reforçada em sinagogas e escolas judaicas, que recebem 35 mil alunos em todo o país. Ninguém esquece que em 2012, o terrorista franco-argelino Mohammed Merad, então com 24 anos, cometeu uma série de ataques e matou a tiros um rabino e três crianças de 4, 5 e 7 anos de idade em uma escola judaica de Toulouse. Esse atentado, de crueldade absurda, traumatizou todo o país, não só os franceses judeus. 

Com o atentado de hoje numa escola da rede pública, o ministro da Educação reforçou a segurança em todos os estabelecimentos de ensino do país.

Manifestações de apoio a Israel e aos palestinos

No início da semana, houve uma manifestação pró-Israel que reuniu 16 mil pessoas em Paris. O governo proibiu manifestações pró-Palestina, depois de constatar mais de uma centena de atos antissemitas desde a declaração de guerra de Israel ao Hamas. Mesmo assim, atos de apoio aos palestinos têm acontecido em Paris e outras cidades francesas. A polícia dispersa os participantes, detém os mais exaltados e até expulsou do país pessoas em situação irregular.

A entidade que representa o culto muçulmano na França tem sido clara na condenação. O imã da mesquita de Bordeaux disse nesta sexta-feira, dia em que os fiéis se reúnem nos templos para ouvir pregações, que os muçulmanos "não devem se identificar com o Hamas, não podem apoiar massacres de crianças e idosos". 

Mas artistas judeus, escritores e outras personalidades têm reclamado de uma falta de apoio popular nas ruas ao que está acontecendo em Israel, diante dos crimes bárbaros cometidos pelos combatentes do Hamas. Eles assimilam essa baixa mobilização a uma forma de antissemitismo.  

Concretamente, há vários anos a França enfrenta um aumento constante de atos antissemitas, além de existir uma história política de discriminação aos judeus. No contexto atual, apenas o partido de esquerda radical França Insubmissa se recusou a usar o termo "terrorismo" para descrever a ação do Hamas e sugeriu que o governo de Israel tinha tanta responsabilidade quanto os extremistas pelo conflito. Esse posicionamento deixou o partido totalmente isolado.

Sem ambiguidade, no pronunciamento que fez ontem à noite em cadeia nacional de rádio e TV, o presidente Emmanuel Macron disse que "aqueles que confundem a causa palestina com a justificativa do terrorismo estão cometendo um erro moral, político e estratégico". 

Os primeiros franceses a serem repatriados de Israel expressaram seu "alívio" por estarem de volta a Paris, mas também um sentimento de "horror" com o "desastre", além da "apreensão" com o "antissemitismo".

Macron recordou que "o antissemitismo sempre foi o prelúdio de outras formas de ódio, um dia contra judeus, no outro contra cristãos, no outro contra muçulmanos". Por isso, ele exaltou a população "a permanecer unida e a não importar as divisões ideológicas vistas no exterior".

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