Acessar o conteúdo principal
Um pulo em Paris

Seca e crise hídrica podem resultar na proibição de piscinas na França

Publicado em:

A França é o segundo país no mundo com a maior quantidade de piscinas particulares, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. No entanto, na era das mudanças climáticas, os franceses estão perdendo essa alternativa de lazer e refresco.

Em cerca de 22 departamentos franceses as autoridades locais proibiram a população de encher as piscinas neste verão.
Em cerca de 22 departamentos franceses as autoridades locais proibiram a população de encher as piscinas neste verão. © Pexels
Publicidade

 

Seca, escassez de chuva, incêndios, ondas de calor cada vez mais longas e intensas: uma série de fenômenos vêm se repetindo a cada ano e castigando a natureza. Na França, que vive mais um verão escaldante, cerca de 70% dos lençóis freáticos estão abaixo do nível normal.

Pelo segundo ano consecutivo, o país enfrenta restrições de consumo de água. Em cerca de 20 departamentos foram emitidos decretos proibindo o preenchimento de piscinas particulares e várias prefeituras estão proibindo a construção delas.

A França caminha em direção a um futuro sem piscinas nas casas? O governo não exclui essa possibilidade. Até o momento, a decisão de privar a população desse lazer para resolver a crise hídrica e a seca tem ocorrido de forma local, por meio das secretarias de segurança pública. Não há um plano a longo prazo que aponte qual será o destino das 3,6 milhões de piscinas particulares em todo o país.

Democratização das piscinas

Antes destinadas às classes ricas, as piscinas particulares passaram por um processo de democratização na França. A partir dos anos 60, a moda chegou ao país por influência norte-americana. Na época, ter uma piscina em casa era sinômino de riqueza. Nessa época, os equipamentos e as técnicas para a instalação delas vinham dos Estados Unidos, por isso, o investimento era alto.

Mas a partir dos anos 2000, o cenário começou a mudar e a classe média também começou a instalar piscinas nos seus quintais. Menores, menos glamourosas, nos lares mais populares, o objetivo da piscina não leva em consideração o design e o luxo, mas o papel do lazer familiar.

A moda se espalhou e a França conta hoje com uma piscina particular para cada 21 habitantes. Segundo a Federaçao Francesa dos Profissionais da Piscina, 44% dos proprietários de piscinas em casas hoje são operários, agricultores, profissionais de baixa e média renda – assalariados que nem sempre têm condições financeiras de viajar para o litoral durante o verão.

Além disso, a pandemia de Covid-19 contribuiu para o fenômeno. Entre 2020 e 2021, 244 mil novas piscinas foram instaladas em toda a França – um aumento de 22% em relação aos anos precedentes. O fenômeno fez o volume de negócios do setor - que atualmente emprega cerca de 61 mil pessoas - dar um salto de 32%.

Código francês do Meio Ambiente

A legislação sobre o uso de água em piscinas consta do Código francês do Meio Ambiente. Já a responsabilidade de emitir os decretos com as proibições é das Secretarias de Segurança Pública regionais no caso de uma localidade atingir o nível 2 de gravidade de seca (de um total de quatro).

Quem desrespeitar os decretos relativos ao uso de água para as piscina pode ter que pagar uma multa entre € 1 mil e € 3 mil (entre R$ 5,2 mil e R$ 15,6 mil). O controle nas residências é realizado por agentes Escritório da Biodiversidade e a Direção Regional de Territórios.

Atualmente, 77 dos 96 departamentos franceses enfrentam seca; 32 em estado de crise. Nesses, a água pode ser usada somente para ingestão, pela segurança civil e o setor da saúde.

Penalização das classes desfavorecidas

O debate sobre a proibição das piscinas também suscita uma polêmica: a penalização das classes populares. Com um poder aquisitivo menor, elas têm menos recursos para férias e viagens.

A Federação dos Profissionais da Piscina da França indica que, em média, uma piscina consome 15 m3 de água por ano – o que representa 0,12% do consumo na França. Um campo de golfe, por exemplo, consome 25 mil m3 de água por ano.

Políticos ecologistas, como o prefeito de Grenoble, Éric Piolle, não poupam críticas às permissões que proprietários de centros de golf obtêm para continuar irrigando os campos. “Quando todos fazem apelo por sobriedade, os hábitos dos mais ricos são protegidas”, denunciou Piolle recentemente na plataforma X (ex-Twitter).

Muitos representantes da esquerda francesa afirmam que a questão das piscinas na França é o retrato da injustiça com as classes mais desfavorecidas diante das mudanças climáticas. Um estudo recente do Laboratório das Desigualdades Sociais, revelou que os 10% mais ricos no mundo são responsáveis por quase metade das emissões de CO2 em todo o planeta.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.