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Um pulo em Paris

Com Johnny Depp e poucas concorrentes mulheres, Festival de Cannes pena a se adaptar à era pós-MeToo

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O Festival de Cannes abriu nesta semana sob uma forte polêmica: a vinda de Johnny Depp, que voltou ao tapete vermelho após um controverso julgamento por difamação de sua ex-esposa. Considerado vaguardista e intelectual, o evento pena para se encaixar na era pós-Me Too: apenas sete diretoras concorrem ao principal prêmio.

O ator americano Johnny Depp, estrela do filme "Jeanne du Barry", da cineasta francês Maïwenn, durante sessão de fotos do Festival de Cannes, em 17 de maio de 2023.
O ator americano Johnny Depp, estrela do filme "Jeanne du Barry", da cineasta francês Maïwenn, durante sessão de fotos do Festival de Cannes, em 17 de maio de 2023. Vianney Le Caer/Invision/AP - Vianney Le Caer
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Na semana de abertura do Festival de Cannes, a imprensa francesa destaca um recorde: a seleção de sete mulheres do total de 21 concorrentes à Palma de Ouro, a principal premiação do evento. O número está ainda muito aquém das expectativas da era pós-Me Too, em que mulheres denunciam injustiças e exigem sua presença em espaços de poder.

Segundo o coletivo 50/50, que milita pela paridade no cinema francês, desde a primeira edição do Festival de Cannes, em 1946, até 2018, entre os 1.727 filmes em competição, 82 foram dirigidos por mulheres. Entre essas obras, apenas 5% são longas-metragens.

Outros dados relacionados ao evento mostram o quanto o cinema francês ainda é marcado por um sistema desigual. Em 76 anos de evento, apenas duas mulheres receberam a Palma de Ouro: Jane Campion, com o filme “O Piano”, em 1993, e Julia Ducournau, em 2021, com o longa “Titane”. A alemã Iris Knobloch, selecionada em 2022 para os próximos três anos, é a única mulher a presidir até hoje o festival.

Agressores no tapete vermelho

A escolha do festival de abrir sua 76a edição com o longa “Jeanne du Barry”, da cineasta e atriz francesa Maïwenn, foi alvo de uma forte polêmica. Com a decisão, os organizadores desenrolaram o tapete vermelho a Johnny Depp, um dos personagens do filme, acusado de violências e difamação de sua ex-esposa, a atriz americana Amber Heard.

A diretora do longa também não escapa das críticas. Maïwenn está sendo processada por ter agredido, em fevereiro, o jornalista Edwy Plenel, confundador e presidente do site Mediapart, em um restaurante de Paris. O motivo da agressão teria sido uma matéria publicada pelo veículo sobre acusações de estupros contra o diretor Luc Besson, ex-marido de Maïwenn.

Na quarta-feira (17), um coletivo de artistas publicou um manifesto no jornal Libération, criticando a decisão do Festival de Cannes de “apoiar agressores”. Segundo os 128 signatários, as escolhas dos organizadores do evento demonstram que as violências no setor cinematográfico "podem ocorrer sob total impunidade".

Um dos primeiros filmes a entrar em competição, “Le Retour” (O Retorno), da cineasta francesa Catherine Corsini, também suscitou divergências. A diretora é acusada de assédio moral, o que ela nega que tenha ocorrido.

Além disso, o longa traz uma cena de sexo entre dois personagens adolescentes, interpretados por menores de idade, que não foi declarada às autoridades, como manda o protocolo. O incidente levou Centro Nacional de Cinema da França a cancelar a verba pública destinada ao filme.

Fim da carreira cinematográfica de Adèle Haenel

A poucos dias da abertura da 76a edição do festival, a atriz francesa Adèle Haenel, um dos grandes talentos da nova geração de artistas da França, causou surpresa ao anunciar o abandono de sua carreira no cinema devido à “indulgência generalizada” do setor com agressores sexuaisEm uma carta enviada à revista Télérama, a artista de 34 anos critica a maneira como essa indústria “colabora com a ordem mortífera ecocida racista do mundo”.

Cannes não escapou da revolta da atriz que afirma que seus organizadores são complacentes com crimes que acontecem no cinema francês. Haenel também denuncia todos os que “se unem para salvar os Depardieu, Polanski, Boutonnat”, personalidades do setor envolvidas em escândalos sexuais.

A atriz foi uma das principais vozes do movimento #MeToo na França. Em 2019, ela tornou públicas as agressões sexuais das quais foi vítima por parte do diretor Christophe Ruggia, com quem trabalhou quando era adolescente. Um ano depois, ela protestou durante a cerimônia do César, que premiou o diretor franco-polonês Roman Polanski. Longe das telonas, Haenel afirma que se dedicará a projetos no teatro.

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