França se prepara para um inverno com escassez de gás e cortes de energia elétrica
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É verão no Hemisfério Norte, mas nesse período típico de férias, os europeus já estão se preparando para um inverno que promete ser complicado com a inflação alta, os preços subindo e o temor de escassez de gás e energia elétrica. O governo francês faz um apelo para que os cidadãos já comecem a aplicar medidas que podem se tornar regras na metade deste segundo semestre.
A Europa entrou há poucos dias no sexto mês de guerra na Ucrânia, um conflito que está tendo consequências para o mundo inteiro e que está longe de chegar ao fim. Na França, além de o conflito ter feito a inflação disparar e ter aumentado o preço dos alimentos, o valor da energia elétrica já está subindo, gerando incertezas sobre as perspectivas no segundo semestre.
A Europa é extremamente dependente do gás da Rússia, que, nesta semana, baixou de 40% a 20% a capacidade do fornecimento do produto através do gasoduto Nord Stream, alegando um problema técnico. Ao mesmo tempo, Bruxelas aprovou um plano que prevê uma diminuição de 15% no consumo de gás entre o mês de agosto deste ano e de 2023.
No total, 45% do gás usado na União Europeia vem da Rússia. Muitos países são extremamente dependentes deste fornecimento, principalmente os países do leste europeu.
Na França, 24% do gás é importado da Rússia. Mesmo assim, a população francesa já sente no bolso o impacto de todas essas reviravoltas e o governo deve apresentar em setembro um plano para a redução de 10% no consumo geral de energia e combustíveis.
O porta-voz do governo francês, Olivier Verán fez um apelo nesta semana por um esforço coletivo da população francesa. Ele pediu que os cidadãos adotem "pequenos gestos cotidianos" que diminuam o consumo de energia, como tirar os aparelhos elétricos da tomada quando eles não são utilizados ou apagar a luz nas peças vazias da casa. Segundo ele, por enquanto, não há previsão de medidas obrigatórias.
Verán convocou também as empresas a diminuir o consumo de energia. Na quinta-feira (29), representantes de grandes companhias dos setores digital e das telecomunicações se reuniram para pensar em medidas que reduzam em 10% dos gastos com eletricidade.
Já a primeira-ministra da França, Elisabeth Borne, mobilizou os ministérios, órgãos e administrações públicas a fazer economias de energia. Ela determinou que nos prédios públicos com ar-condicionado está proibido que as peças sejam resfriadas quando a temperatura interior estiver a menos de 26°C, por exemplo. O mesmo vai valer para o aquecimento no inverno: os radiadores de prédios públicos só poderão ser ligados quando a temperatura estiver inferior a 19°C.
Medida polêmica: fechamento das portas de lojas
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, assinou uma circular, que passou a valer a partir de segunda-feira (25), determinando que as lojas com ar-condicionado mantenham as portas fechadas. Para ela, essa prática - comum no comércio da capital francesa - é "uma aberração", diante do contexto atual das mudanças climáticas e da crise energética.
A medida irritou os comerciantes parisienses que alegam que perdem clientes mantendo as portas das lojas fechadas. Eles correm o risco de pagar € 150 de multa.
Outra solução para economizar energia que está sendo colocada em prática por muitas prefeituras é a diminuição da iluminação pública à noite. Na França, uma legislação de 2013 já proíbe a iluminação de vitrines e painéis publicitários entre a 1h e as 6h da manhã.
Mas o que muitas cidades estão experimentando é a diminuição das luzes dos postes nas ruas. Há vários projetos em andamento. Em cidades menores como Saint-Nazaire, no oeste da França, praticamente todas as ruas ficam no escuro entre meia-noite e 5h da manhã. Em Paris, alguns bairros experimentam projetos de "iluminação inteligente", em que as luzes dos postes só se acendem quando detectam o movimento de pedestres, bicicletas e veículos.
No entanto, muitos moradores afirmam que essa medida gera insegurança no trânsito, dificultando a circulação de motoristas. Além disso, as mulheres também reclamam, expressando um sentimento de insegurança e medo de que o assédio e as violências sexuais aumentem nas ruas das cidades que apagam as luzes durante a noite. Algumas ONGs feministas já preveem a deserção das mulheres dos espaços públicos e denunciam um ataque à liberdade de circulação das cidadãs.
Risco de cortes de energia
Até o momento, as autoridades têm evitado utilizar um tom alarmista para não assustar a população. Mas muitos especialistas vêm alertando que é muito provável que haja cortes de eletricidade na França, principalmente se o inverno for rigoroso.
O risco de apagões é ainda maior se a Rússia resolver definitivamente parar de fornecer gás à Europa: uma possibilidade o próprio governo francês já admite que existe. Em entrevista ao jornal Le Figaro, a ministra francesa da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, declarou que "a qualquer momento" Moscou pode tomar essa decisão.
Segundo ela, a França já está vivendo dentro de uma filosofia de economia de guerra. Por isso, a ministra diz que o esforço deve ser coletivo visando uma mudança total de comportamento seja no modo de vida, de produção, e de mobilidade. "Essa é a chave para não ficar nas mãos de um inimigo geopolítico", defende Pannier-Runacher.
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