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Um pulo em Paris

França se prepara para um inverno com escassez de gás e cortes de energia elétrica

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É verão no Hemisfério Norte, mas nesse período típico de férias, os europeus já estão se preparando para um inverno que promete ser complicado com a inflação alta, os preços subindo e o temor de escassez de gás e energia elétrica. O governo francês faz um apelo para que os cidadãos já comecem a aplicar medidas que podem se tornar regras na metade deste segundo semestre.

Um central da gigante francesa da energia elétrica EDF, em Cordemais, no oeste da França, em 21 de março de 2019.
Um central da gigante francesa da energia elétrica EDF, em Cordemais, no oeste da França, em 21 de março de 2019. AFP/Archivos
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A Europa entrou há poucos dias no sexto mês de guerra na Ucrânia, um conflito que está tendo consequências para o mundo inteiro e que está longe de chegar ao fim. Na França, além de o conflito ter feito a inflação disparar e ter aumentado o preço dos alimentos, o valor da energia elétrica já está subindo, gerando incertezas sobre as perspectivas no segundo semestre.

A Europa é extremamente dependente do gás da Rússia, que, nesta semana, baixou de 40% a 20% a capacidade do fornecimento do produto através do gasoduto Nord Stream, alegando um problema técnico. Ao mesmo tempo, Bruxelas aprovou um plano que prevê uma diminuição de 15% no consumo de gás entre o mês de agosto deste ano e de 2023. 

No total, 45% do gás usado na União Europeia vem da Rússia. Muitos países são extremamente dependentes deste fornecimento, principalmente os países do leste europeu.

Na França, 24% do gás é importado da Rússia. Mesmo assim, a população francesa já sente no bolso o impacto de todas essas reviravoltas e o governo deve apresentar em setembro um plano para a redução de 10% no consumo geral de energia e combustíveis.

O porta-voz do governo francês, Olivier Verán fez um apelo nesta semana por um esforço coletivo da população francesa. Ele pediu que os cidadãos adotem "pequenos gestos cotidianos" que diminuam o consumo de energia, como tirar os aparelhos elétricos da tomada quando eles não são utilizados ou apagar a luz nas peças vazias da casa. Segundo ele, por enquanto, não há previsão de medidas obrigatórias.

Verán convocou também as empresas a diminuir o consumo de energia. Na quinta-feira (29),  representantes de grandes companhias dos setores digital e das telecomunicações se reuniram para pensar em medidas que reduzam em 10% dos gastos com eletricidade. 

Já a primeira-ministra da França, Elisabeth Borne, mobilizou os ministérios, órgãos e administrações públicas a fazer economias de energia. Ela determinou que nos prédios públicos com ar-condicionado está proibido que as peças sejam resfriadas quando a temperatura interior estiver a menos de 26°C, por exemplo. O mesmo vai valer para o aquecimento no inverno: os radiadores de prédios públicos só poderão ser ligados quando a temperatura estiver inferior a 19°C.

Medida polêmica: fechamento das portas de lojas

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, assinou uma circular, que passou a valer a partir de segunda-feira (25), determinando que as lojas com ar-condicionado mantenham as portas fechadas. Para ela, essa prática - comum no comércio da capital francesa - é "uma aberração", diante do contexto atual das mudanças climáticas e da crise energética.

A medida irritou os comerciantes parisienses que alegam que perdem clientes mantendo as portas das lojas fechadas. Eles correm o risco de pagar € 150 de multa. 

Outra solução para economizar energia que está sendo colocada em prática por muitas prefeituras é a diminuição da iluminação pública à noite. Na França, uma legislação de 2013 já proíbe a iluminação de vitrines e painéis publicitários entre a 1h e as 6h da manhã

Mas o que muitas cidades estão experimentando é a diminuição das luzes dos postes nas ruas. Há vários projetos em andamento. Em cidades menores como Saint-Nazaire, no oeste da França, praticamente todas as ruas ficam no escuro entre meia-noite e 5h da manhã. Em Paris, alguns bairros experimentam projetos de "iluminação inteligente", em que as luzes dos postes só se acendem quando detectam o movimento de pedestres, bicicletas e veículos. 

No entanto, muitos moradores afirmam que essa medida gera insegurança no trânsito, dificultando a circulação de motoristas. Além disso, as mulheres também reclamam, expressando um sentimento de insegurança e medo de que o assédio e as violências sexuais aumentem nas ruas das cidades que apagam as luzes durante a noite. Algumas ONGs feministas já preveem a deserção das mulheres dos espaços públicos e denunciam um ataque à liberdade de circulação das cidadãs. 

Risco de cortes de energia

Até o momento, as autoridades têm evitado utilizar um tom alarmista para não assustar a população. Mas muitos especialistas vêm alertando que é muito provável que haja cortes de eletricidade na França, principalmente se o inverno for rigoroso. 

O risco de apagões é ainda maior se a Rússia resolver definitivamente parar de fornecer gás à Europa: uma possibilidade o próprio governo francês já admite que existe. Em entrevista ao jornal Le Figaro, a ministra francesa da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, declarou que "a qualquer momento" Moscou pode tomar essa decisão. 

Segundo ela, a França já está vivendo dentro de uma filosofia de economia de guerra. Por isso, a ministra diz que o esforço deve ser coletivo visando uma mudança total de comportamento seja no modo de vida, de produção, e de mobilidade. "Essa é a chave para não ficar nas mãos de um inimigo geopolítico", defende Pannier-Runacher. 

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