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Saúde em dia

Consumo de alimentos ultraprocessados pode desencadear depressão, mostra pesquisa

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O estudo realizado pela epidemiologista francesa Tasnime Akbaraly, do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França), mostrou que o consumo de alimentos ultraprocessados pode aumentar o risco de desenvolver depressão. Mais de 280 milhões de pessoas sofrem da doença no mundo, segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde).

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bonbons ©pixabay/Herbert2512
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Taíssa Stivanin, da RFI

A associação entre os alimentos ultraprocessados e o desenvolvimento da depressão ainda é recente, segundo a epidemiologista francesa, que analisa a relação entre saúde mental e alimentação há mais de dez anos.

Mas, a constatação de que os produtos representam um fator de risco para doença deveria ser suficiente para guiar políticas públicas de prevenção, alerta.

"Existem fatores de risco para a depressão, como os genéticos, que já estão bem estabelecidos e documentados na literatura científica. Mas, no meu estudo, o importante era focar naquilo que pode ser controlado, como o modo de vida. Este é o caso da alimentação”, explica a pesquisadora. “Quando estamos deprimidos, mudamos também nosso comportamento alimentar.”

De acordo com o Ministério da Saúde, produtos ultraprocessados são formulações feitas de substâncias extraídas de alimentos ou derivadas deles, sintetizadas em laboratório. Os aditivos, realçadores de sabores ou aromatizantes integram esse grupo.

As substâncias presentes nos alimentos ultraprocessados podem favorecer o chamado “estresse oxidativo”, que é a dificuldade do corpo em eliminar o que é nocivo e lutar contra as inflamações.

Esse mecanismo pode estar associado à depressão. A doença é gerada por falhas na transmissão das informações de um neurônio para outro no cérebro, feita por impulsos nervosos, durante a sinapse (pontos de contato entre dois neurônios).

Essa disfunção afeta a produção e a captura de três neurotransmissores envolvidos no aparecimento da doença: a serotonina, a noradrenalina e a dopamina. 

O mau funcionamento desse mecanismo cerebral pode atrapalhar a regulação das emoções, o controle cognitivo e a construção da autoimagem, que caracterizam a depressão.

A epidemiologista francesa Tasnime Akbaraly
A epidemiologista francesa Tasnime Akbaraly © Divulgação

Análise de dados

Em sua pesquisa, Tasnime Akbaraly utilizou um banco de dados público de saúde britânico, disponível para cientistas de todo o mundo, conhecido como Whitehall II. Os participantes são funcionários públicos britânicos, entre 35 e 55 anos, recrutados entre 1985 e 1988.

Os 4.554 pacientes são acompanhados por uma equipe médica desde o início dos anos 1990. Desde então, eles respondem a questionários que incluem diversos aspectos de sua vida, como os hábitos alimentares e o consumo diário de produtos ultraprocessados.

Os sintomas depressivos dos participantes, suas eventuais recaídas e a necessidade de usar remédios para tratar a doença também foram avaliados pela equipe médica que os acompanha.

Ao acessar a base de dados, a epidemiologista francesa cruzou os milhares de dados disponíveis para descobrir se havia uma relação entre os participantes que tiveram depressão e o consumo de alimentos ultraprocessados.

Após a análise, ela constatou que os pacientes que declararam um episódio depressivo consumiam menos legumes e frutas e mais produtos com altos teores de gordura saturada. “Nossa hipótese, é a de que esses alimentos poderiam aumentar o estresse oxidativo.”

Muitas questões, frisa, continuam sem resposta e não puderam ser analisadas na pesquisa, mas são objeto de vários estudos. Entre elas, o impacto dos aditivos e das embalagens, por exemplo, que podem ser tóxicas e contaminar o alimento.

Diversas pesquisas também já mostraram que os alimentos ultraprocessados modificam a microbiota intestinal e influenciam o que os cientistas chamam de expressão do genoma.

Por isso, podem desencadear doenças em caso de predisposição genética, como o diabetes, por exemplo, ou patologias cardiovasculares ou autoimunes. 

Nocivos como o cigarro

A epidemiologista francesa também atua como subsecretária da prefeitura de Montpellier, no sul da França, e é encarregada de projetos para a primeira infância. Ela milita para que os alimentos ultraprocessados sejam considerados tão perigosos quanto o cigarro.

“Os hábitos alimentares, quando são bem adquiridos na infância, serão os mesmos na idade adulta. É extremamente importante visar esse público em termos de prevenção e de saúde pública”, alerta.

Segundo ela, apesar das evidências sobre o risco de consumir esses produtos, a adoção de medidas concretas demanda tempo. Os alimentos ultraprocessados, diz, deveriam ter uma regulação similar à do cigarro.

“Nós sabemos qual é o impacto dos alimentos ultraprocessados, cheios de açúcar e de gordura, no organismo. Mesmo assim, eles estão disponíveis em distribuidores instalados até em hospitais!", comenta com indignação. 

"Todo mundo ficaria chocado se colocássemos maços de cigarro nesses distribuidores, mas ninguém se incomoda quando colocamos barras de chocolate, mesmo sabendo que a má alimentação é a principal causa de morte em todo o mundo”, conclui.

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