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Saúde em dia

Saiba como o estresse pode desencadear doenças de pele autoimunes

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Aquecimento global, crise econômica, guerras, mas também o luto ou grandes decepções amorosas: em termos conjunturais ou pessoais, o estresse faz parte das nossas vidas e pode gerar reações orgânicas variadas, inclusive na pele. Em entrevista à RFI, a dermalogista brasileira Carla Bortoloto, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Clínica e Cirúrgica (SBDCC) explicou qual é o papel do estresse no desenvolvimento das doenças autoimunes cutâneas.

Rupturas amorosas ou a perda de um ente querido, por exemplo, podem desencadear doenças de pele que se tornam crônicas
Rupturas amorosas ou a perda de um ente querido, por exemplo, podem desencadear doenças de pele que se tornam crônicas © shutterstock_Inside Creative House
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Taíssa Stivanin, da RFI

 A pele é o maior órgão do corpo e sofre alterações variadas, que podem ser provocadas pelo estresse, diz a especialista. "A perda de um ente querido ou separação de um casal, por exemplo, podem ser um "gatilho" e desencadear algumas doenças autoimunes", explica Carla Bortoloto. O termo autoimune significa que o sistema imunológico reage de maneira desordenada e ataca uma parte do corpo que funciona normalmente. Depois de instalada, essa condição se torna crônica e é dificilmente reversível sem tratamento ou medicação.

O estresse desencadeia um processo inflamatório, com liberação de citocinas específicas responsáveis pelo aparecimento dessas doenças. As principais são, além da psoríase (descamação da pele), o vitiligo (perda de pigmentação) e a alopecia areata (perda de cabelo), que atinge muitas crianças, explica a dermatologista. O tratamento associa diferentes medicamentos e o objetivo é aliviar os sintomas da fase aguda e mellhorar a qualidade de vida. 

De acordo com a especialista brasileira, pacientes que desenvolvem essas doenças têm predisposição genética - os genes envolvidos no processo, entretanto, não serão necessariamente "ativados" ao longo da vida. Mas, acontecimentos graves criam um terreno propício para que isso aconteça e para que patologias inflamatórias se manifestem. Medicamentos e doenças infecciosas também podem gerar distúrbios dermatológicos.

Gatilho é resultado de estresse pontual

Doenças autoimunes de pele indicam que o paciente tem tendência ao desenvolvimento de patologias similares, que podem afetar outros órgãos, lembra a médica. “Quando temos uma doença autoimune, a predisposição para desenvolver outra com essa característica é de 46%.Quem tem vitiligo tem uma chance maior de desenvolver diabetes do tipo 1, ou uma tireoidite, por exemplo”, explica Carla Bortoloto. Por isso, é essencial investigar a existência de outras patologias associadas, o que é bastante comum, diz a médica. As doenças de pele podem revelar outros problemas de saúde graves.

Estudos mostram que o estresse vivido no cotidiano não é responsável pelo aparecimento de doenças autoimunes cutâneas, lembra a médica. Essa associação foi demonstrada apenas em caso de eventos traumáticos específicos. "O estresse mais pontual e categórico, que a gente consegue relacionar, através da história clínica do paciente, está ligado ao luto ou à separação dos pais, como no caso de crianças, por exemplo”, reitera Carla Bortoloto. Além disso, não existem evidências científicas mostrando que a alimentação e o sono possam influenciar diretamente no aparecimento dessas patologias.

Envelhecimento

A tensão do dia a dia, entretanto, pode afetar a pele de outras maneiras. Além de piorar outras doenças pré-existentes, como o eczema atópico, por exemplo, ela acelera o envelhecimento da pele e provoca o mesmo efeito da radiação solar, do alcoolismo e do tabagismo na célula do colágeno. “O colágeno é uma proteína, de grande peso molecular, localizado na derme. Quando ele se liga a uma outra proteína da mesma espécie, ou seja, quando dois colágenos se juntam, formam uma ligação que é irreversível, chamada glicação”, explica Carla Bortoloto.

Na glicação, uma molécula de glicose se une à da proteína e a desestabiliza, fazendo com que ela “quebre” por conta da perda de elasticidade e de tonicidade, o que provoca o envelhecimento. “Para ocorrer a glicação, há a liberação de mediadores inflamatórios específicos para cada tipo de alteração”, detalha Carla Bortoloto. A boa notícia é que, em todos os casos, sejam estéticos ou clínicos, os tratamentos estão cada vez mais eficazes.

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