Acessar o conteúdo principal
Saúde em dia

Saúde e meio ambiente: o aquecimento global pode afetar o sono?

Publicado em:

Um estudo publicado em maio pela revista One Earth, feito por um grupo de pesquisadores da universidade de Copenhague, na Dinamarca, mostrou que a alta da temperatura terrestre está relacionada à perda, em média, de 44 horas de sono em um ano. A previsão é de que cada um deles poderia dormir, anualmente, 58 horas a menos até 2099.

A alta das temperaturas provocada pelo aquecimento global poderá atrapalhar o sono a longo prazo, mostra estudo
A alta das temperaturas provocada pelo aquecimento global poderá atrapalhar o sono a longo prazo, mostra estudo Damien MEYER / AFP
Publicidade

Taíssa Stivanin, da RFI

A pesquisa foi realizada entre 2015 e 2017 e envolveu a análise dos dados de 47 mil pacientes de 68 países diferentes. Os participantes usaram um bracelete eletrônico de monitoramento do sono. Os cientistas em seguida compararam as informações fornecidas pelo aparelho com as condições meteorológicas locais.

A conclusão é que, a partir de 25º C, à noite, a probabilidade de não ter um sono repousante aumenta em 3,5 vezes. A temperatura ideal para dormir é de cerca de 19ºC. Acima desse valor, o corpo não esfria o suficiente e isso faz com que as pessoas durmam mais tarde e acordem mais cedo.

Até que ponto a alta das temperaturas pode afetar o sono e a saúde? A RFI pediu à psiquiatra francesa Sylvie Royant Parola, especialista em sono, que avaliasse os resultados publicados pelos pesquisadores dinamarqueses.

De acordo com ela, a temperatura externa extremamente elevada impede de dormir porque o cérebro não consegue, literalmente, esfriar. “O cérebro detesta o calor. Se ele não consegue abaixar a temperatura durante a noite, ele se manterá alerta, como se estivéssemos acordados”, diz. 

Para ela, o monitoramento de milhares de pessoas, em áreas geográficas diferentes, e ao mesmo tempo, é um dos aspectos mais inovadores do estudo, em termos epidemiológicos.

“Demonstrar, com gráficos, que quanto mais a temperatura é elevada, mais o sono é curto, é interessante. Como vamos dormir em determinadas condições se o aquecimento global se acentuar ao longo dos anos? ”, questiona. O clima quente e seco é o pior para dormir, ressalta a especialista.

A psiquiatra francesa alerta, porém, para o risco de conclusões precipitadas que correlacionem as mudanças climáticas ao sono e critica algumas das conclusões do estudo. “Será que esse cenário é algo que vai de fato se concretizar, e que vai fazer, como diz o estudo, que nosso sono seja modificado de maneira drástica? Ao ponto de gerar uma perda de horas de repouso? É um estudo prospectivo, ainda não temos nenhuma certeza de que as coisas vão evoluir dessa maneira”, reitera. Isso não desmerece a constatação, frisa, de que as altas temperaturas causadas pelo efeito estufa, no futuro, possam de fato diminuir o tempo de descanso noturno.

Sesta, uma aliada do cérebro

Existem soluções para ajudar o corpo quando a temperatura sobe demais e fica difícil dormir? Em países como a Espanha e a Grécia, por exemplo, muito quentes no verão, os moradores adaptam seus horários. Como as noites de sono são mais curtas, as sestas vespertinas já se incorporaram à rotina. Esse hábito pode ser muito benéfico para compensar noites mal dormidas, independentemente do aquecimento global, reitera a especialista francesa. 

Ela lembra que outros fatores já contribuem para que o sono do homem moderno seja afetado de maneira duradoura. O principal deles é a industrialização e a emergência de um modo de vida que impede que as pessoas descansem quando sentem necessidade. Isso fez com que a “dormidinha” do meio da tarde, por exemplo, caísse em desuso, mesmo em países quentes, impactando na qualidade do sono, menos profuno.

“Por diferentes razões, de ordem cronobiológica, temos dois momentos ideais para dormir: de noite, por volta das 3h da manhã, ou senão de tarde, no meio do dia”, explica. 

Como esse ritmo foi estabelecido? Uma hipótese é que nossos ancestrais pré-históricos não podiam dormir a noite toda, já que estavam expostos aos riscos dos predadores ou tribos inimigas, por exemplo. A chegada da luz elétrica, em 1879, rompeu definitivamente com nosso funcionamento natural, que dependia do sol, das estações e dos riscos ambientais.

Neste contexto, a sesta pode ser uma aliada importante para reestabelecer o que a psiquiatra francesa descreve como a fisiologia normal do sono. “Quando não dormimos o suficiente, estamos expostos a várias complicações, principalmente cardiovasculares. Mas há também consequências imunológicas. A imunidade pode cair, o metabolismo ser modificado, e o risco de desenvolver uma depressão é maior. ”

A conclusão é que o aquecimento global pode induzir a população a ter menos horas de sono, o quem já vem ocorrendo há décadas com a industrialização. Mas, é possível modificar os hábitos e evitar que a saúde seja afetada a longo prazo.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.