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Saúde em dia

Covid-19: vacinação frequente é inviável a longo prazo, diz epidemiologista francês

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A chegada da ômicron, mais contagiosa, e a conclusão de que as vacinas agem por tempo limitado contra a transmissão do SARS-Cov-2, as infecções trazem novos questionamentos: como controlar a propagação do vírus evitando que os hospitais fiquem saturados?

Vacinar toda a população a cada três é inviável a longo prazo, diz infectologista francês.
Vacinar toda a população a cada três é inviável a longo prazo, diz infectologista francês. AP - Jacquelyn Martin
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Taíssa Stivanin, da RFI

O infectologista francês Benjamin Davido, consultor para as questões ligadas ao Covid no hospital Raymond-Poincaré, em Garches, na região parisiense, lembra que a proteção das vacinas a base de RNA mensageiro tem prazo de validade e precisa ser reforçada com frequência, principalmente com a chegada de uma nova cepa, como é o caso da ômicron. Estudos mostram que a proteção contra uma infecção pela ômicron dez semanas após a terceira dose, cai, em média de 75% para 45%.  

As vacinas evitam formas graves e mortes por um período ainda indeterminado, mas, não impedem a contaminação.  O laboratório Pfizer já anunciou que prepara um imunizante específico contra a variante. Além disso, diz o infectologista francês, há dúvidas sobre o nível de ativação da memória imunológica proporcionada pelo produto, essencial para proteger o indivíduo contra infecções.

“Não podemos vacinar toda a população a cada três meses, é impossível. Ainda mais em países com acesso restrito à vacinação, muitas variantes circulando e reticências em relação à imunização”, ressalta Davido.

Vacinas produzidas com proteínas recombinantes, utilizadas em produtos como a Novavax, por exemplo, também podem ser uma arma importante na luta contra a Covid-19, principalmente se atuam no reforço da imunidade celular, mediada pelos linfócitos T e seus subtipos. Elas utilizam uma tecnologia mais clássica, e seu impacto na resposta imunológica ainda precisa ser avaliado.

Ala sendo preparada para a variante do coronavírus ômicron no Hospital Civil em Ahmedabad, Índia, segunda-feira, 6 de dezembro de 2021.
Ala sendo preparada para a variante do coronavírus ômicron no Hospital Civil em Ahmedabad, Índia, segunda-feira, 6 de dezembro de 2021. AP - Ajit Solanki

Gestão a longo prazo

O infectologista francês lembra que as vacinas a base de RNA continuam sendo um avanço científico importante, mas a duração da proteção é um aspecto que não pode ser descartado na gestão da epidemia a longo prazo.

Ele também ressalta que a maioria dos pacientes hospitalizados são não vacinados ou tomaram a última injeção há mais de meses e têm fatores de risco. Por isso, diz, é fundamental proteger os mais vulneráveis, que continuarão a ser alvo do SARS-CoV-2 apesar do acesso à imunização, e ficarão mais expostos com a diminuição das medidas restritivas e dos lockdowns.

Para Davido, também é importante que a vacinação esteja aliada a tratamentos complementares. “Essa doença não é uma gripe, longe disso, mas teremos provavelmente ondas sazonais e as mesmas ferramentas que já temos contra a gripe: uma vacinação anual e antivirais para os pacientes que precisam e são mais frágeis. ”

O vírus, lembra, não desaparecerá. Haverá novas ondas e novas variantes devem surgir, embora uma epidemia,  “não dure para sempre”.

Fabricação da pílula anticovid criada pela Pfizer, que já foi autorizada para uso na União Europeia
Fabricação da pílula anticovid criada pela Pfizer, que já foi autorizada para uso na União Europeia Handout Pfizer/AFP/Archivos

Ômicron é mais leve?

A situação na África do Sul, onde a ômicron foi descoberta em novembro, e no Reino Unido, mostram que a nova cepa provoca menos hospitalizações. Pesquisas demonstram que é provável que ela atinja menos os pulmões.

Nesse contexto, a gestão da epidemia pode mudar, lembra o infectologista francês. “Uma questão que podemos colocar é se a ômicron não está reescrevendo a história natural dos vírus. Em geral existe uma atenuação da virulência ao longo das ondas epidêmicas. Em sua forma original, o novo coronavírus matou primeiro os mais vulneráveis e isso é uma espécie de seleção natural”, diz.

Benjamin Davido lembra que o vírus, para se propagar de forma eficaz, deve se adaptar e driblar a proteção adquirida pela vacinação e as mudanças de hábitos, que incluem o uso das máscaras e o distanciamento social.

Para isso o SARS-CoV-2 deve perder as características de um vírus letal e se transformar em um vírus com proteínas que o ajudem a aderir melhor às células do hospedeiro e contaminá-lo com mais facilidade.“Na realidade, uma das principais características de um vírus que se propaga nessa velocidade, e que já superou a delta e que já havia superado outras variantes, é a atenuação da virulência em detrimento da contagiosidade", explica.

Imunidade dupla

Essa foi, aliás, uma das hipóteses levantadas pelos cientistas, diz o infectologista, lembrando que a estratégia da vacinação foi acertada, com o objetivo de proteger as pessoas que correm risco de desenvolver formas graves. “Uma das possibilidades, e precisamos nos preparar para ela, é que a ômicron continuará a matar, todos anos, pessoas de determinados grupos.  Será necessário considerar que esse número é aceitável e conviver com essa ideia, dentro de uma estratégia de proteção e vacinação”

O infectologista francês não descarta a possibilidade, otimista, da aquisição de uma imunidade “dupla” que alie vacinação e infecções naturais. Há esperança, diz, que o SARS-CoV-2 se torne endêmico neste ano e essa seja a última onda. Isso significa que, a exemplo da gripe, ele se tornará um vírus sazonal, atingindo certas populações mais frágeis.“Dificilmente teremos um botão de liga e desliga. O vírus não vai desaparecer. É, provavelmente, um vírus que encontrará um alvo dentro da população e que veio para ficar."

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