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Documentário experimental filmado em comunidade guarani concorre em festival latino de Paris

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“A Transformação de Canuto” é produto da cooperação entre dois cineastas, Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, ambos com ampla experiência no projeto Vídeo nas Aldeias. Premiado no Idfa de Amsterdã e no Festival de Brasília, entre outros, o documentário é um dos destaques da segunda edição do Festival Latino-Americano de Paris, que acontece de hoje até domingo (7).

Cena do filme "A Transformação de Canuto", de Ernesto de Carvalho e Ariel Kuaray Ortega.
Cena do filme "A Transformação de Canuto", de Ernesto de Carvalho e Ariel Kuaray Ortega. © Divulgação
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Por Patrícia Moribe

“Nosso filme é o resultado de mais de dez anos de uma parceria entre mim e Ariel, que somos diretores do filme, e é talvez a nossa primeira experimentação dentro do campo da ficção, dentro do universo guarani, de onde o Ariel é”, explica Ernesto de Carvalho, que conversou com a RFI em Toulouse, durante o festival Cinélatino. O longa agora concorre no Clap, em Paris.

“O filme conta a história de um homem que padecia de uma doença espiritual conhecida para os Mbyá-Guarani, que é a doença da transformação em onça, uma condição perigosa que pode acometer algumas pessoas. E a gente fala desse assunto, dessa história real, que aconteceu na aldeia onde o Ariel nasceu. Só que para a gente falar desse assunto, a gente acaba entrando em outras questões. Então, é um filme que no caminho conta várias histórias a partir da desculpa, digamos assim, de contar a história desse homem, Canuto”, relata o codiretor, que também é antropólogo de formação.

Rodado na fronteira entre a Argentina e o Rio Grande do Sul, o metadocumentário acompanha Ariel na encenação da metamorfose de Canuto em onça, com participação da comunidade Mbyá-Guarani local. “Propomos um jogo de cinema com a comunidade”, explica Ernesto, pois “é uma história sombria, delicada, perigosa”.

Ernesto de Carvalho fala sobre "A Transformação de Canuto", codirigido com Ariel Kuaray Ortega, em Toulouse (20/03/24).
Ernesto de Carvalho fala sobre "A Transformação de Canuto", codirigido com Ariel Kuaray Ortega, em Toulouse (20/03/24). © Cyril Etienne

O cineasta explica que foi uma experiência imersiva, que impactou a vida tanto dos diretores, quanto da própria comunidade. Um dos desafios “foi lidar com a violência do processo colonial, com a violência da resistência pelos territórios”. Ele enfatiza que o cinema também é uma forma de soberania. “Podemos até chamar de soberania audiovisual, de ter o direito de contar as próprias histórias, assim como ter o próprio território, sobreviver nele, ser respeitado. É um cinema em desenvolvimento, é a construção do cinema indígena”, acrescenta o cineasta. “Politicamente isso é muito importante”.

Cinema de transformação

Ernesto de Carvalho explica que o objetivo principal do filme é que seja visto ao redor, principalmente da comunidade. “Qualquer filme tem capacidade de transformar a política de representação de uma comunidade”. Mas os impactos são múltiplos, acredita. O fato de circular no exterior permite a discussão do tema, com debates estéticos e políticos.

“Os festivais de cinema continuam sendo espaços fundamentais para os filmes poderem existir, encontrar caminhos para o mundo, enfim, para podermos sobreviver de fazer cinema. São espaços que mutas vezes tornam o que a gente faz ser valorizado no lugar de onde a gente saiu", constata. 

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