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Historiadora francesa lança livro sobre humor de protesto publicado durante ditadura no Brasil

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A RFI conversou com a historiadora francesa especializada em Brasil Mélanie Toulhoat, que lança agora em abril o livro Rire de la dictature, rire sous la dictature (Rir da ditadura, rir sob a ditadura), resultado da conclusão de sua tese de doutorado na Universidade Sorbonne Nouvelle Paris 3 - USP. A pesquisa é dedicada ao humor gráfico e de protesto publicado na imprensa independente durante a ditadura militar no Brasil. 

A historiadora Mélanie Toulhoat.
A historiadora Mélanie Toulhoat. © arquivo pessoal
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A obra é publicada pela Presses Universitaires de la Sorbonne Nouvelle. "É um livro que sai da minha tese de doutorado, que fiz entre 2013 e 2019, entre a França e o Brasil, entre a Paris 3 e a USP. Eu passei muito tempo durante esses anos pesquisando no Brasil, no Rio de Janeiro , principalmente, mas também em São Paulo e Belo Horizonte. E esse livro é uma versão desse trabalho de investigação, de pesquisa de muitos anos sobre o papel político de várias formas de humor gráfico, a caricatura, a charge, o quadrinho, a gravura e alguns cortes e colagem de fotografias que foram publicadas em diversos jornais e revistas de oposição independente durante mais de 20 anos de ditadura militar", relata Mélanie Toulhoat.

Arquivos censurados

"Eu conversei com o Nani, o Ernani Diniz Lucas (1951-2021), que infelizmente faleceu durante a pandemia, mas que foi um grande cartunista e que me deu várias entrevistas para tentar entender o papel dele e de outros cartunistas durante o processo da ditadura militar no Brasil. E ele me deu acesso a uma pasta de desenhos censurados que estavam na casa dele, guardados há anos, e me autorizou a trabalhar a partir desses desenhos censurados, de quando ele trabalhava no jornal Pasquim", conta a pesquisadora francesa.

"Então, para mim, esse acervo privado de desenhos censurados foi algo super interessante para perceber as motivações da censura, a lógica sensorial, porque também tem uma certa materialidade nesses desenhos. Eles são riscados, têm cruzes vermelhas, dá para ver a marca física e gráfica da censura nesses desenhos", explica.

"Esse acervo foi muito importante, mas também trabalhei muitos arquivos públicos da imprensa independente brasileira. Fiquei lendo páginas e páginas de jornais, de revistas, para reproduzir o conteúdo gráfico de várias fontes, de várias origens e o acervo do Nani é um desses acervos sobre os quais eu trabalhei", detalha.

Longa escola de tradição gráfica

"O que eu tentei mostrar nesse livro é que a ação gráfica e política dos cartunistas durante a ditadura vem de uma longa escola de tradição gráfica, tanto no Brasil como na França. Que até que se cruzam, circulam e se misturam", diz Mélanie Toulhoat. "Essas influências, esses modelos transatlânticos, eles também tiveram um impacto nessa produção gráfica", sublinha.

"Eu também tentei mostrar na minha tese e no livro que não foi só o Pasquim que contribuiu com esse humor de protesto. O Pasquim foi um deles, um desses jornais, mas houve muitos outros. O Pasquim ficou mais famoso, digamos, o mais conhecido, mas eu tentei mostrar também uma diversidade tanto temática quanto geográfica, e de classe social, mas também de gênero [no humor gráfico da época]", explica a autora.

Muito além da Zona Sul do Rio de Janeiro

"Era preciso mostrar que a imprensa independente não era só uma, não era só um modelo, esse Pasquim da zona Sul do Rio de Janeiro, homens brancos de uma classe elitista. E sim, eu tentei mostrar que era muito mais diverso do que do que isso também em termos de temática, em termos de relação com as autoridades, com o proibido, com o autorizado", explica.

"Claro que, para a minha tese, tive uma dupla orientação, uma dupla historiografia, uma dupla formação intelectual entre a França e o Brasil. O período do meu doutorado foi marcado pelos atentados do Charlie Hebdo, na França, e pela eleição do Bolsonaro. O período todo abrangeu esses eventos e os aniversários do golpe militar etc. Então, esses eventos também alimentaram, de certa forma, a reflexão ou as problemáticas sobre o trabalho e sobre o papel político do humor gráfico e do desenho político na sociedade francesa", diz a pesquisadora.

*Para ouvir a entrevista na íntegra, clique no botão PLAY no alto desta matéria

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