"Mundo não pode lidar com naturalidade com a desinformação", diz secretário
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Um ano depois da invasão da praça dos Três Poderes por bolsonaristas, em Brasília, o projeto de lei das Fake News (PL 2630) ainda não foi a votação no Congresso. O governo federal espera que o texto seja aprovado no novo período legislativo, que começa em fevereiro. A disseminação de desinformação é um tema que afeta a estabilidade política e econômica dos países, recorda João Brant, secretário de Políticas Digitais na Secom.
Em entrevista à RFI, o secretário de Políticas Digitais na Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) destacou que os ataques de 8/1 "resultaram de três ondas de desinformação", que afetaram a confiança de uma parte da população no processo eleitoral brasileiro.
"A regulamentação das plataformas digitais é necessária para que se possa avançar para um ambiente de garantia da integridade da informação", disse Brant à RFI. Enquanto o Congresso protela decisões nessa área, o governo tem buscado lutar contra conteúdos falsos em algumas frentes. No ano passado, a Secom lançou a campanha Brasil contra Fake, um portal sobre políticas públicas e ações governamentais, que pode ser consultado em caso de dúvida dos internautas.
A operação contra a desinformação a respeito de vacinas, liderada pelo Ministério da Saúde em parceria com outros órgãos competentes, conseguiu reverter a queda registrada nas campanhas de vacinação entre 2016 e 2023. "Fake news sobre vacinas afetam um direito fundamental, que é o direito à saúde", destacou o secretário, acrescentando que a imunização dos brasileiros melhorou no último ano.
Enquanto o Congresso não vota a regulamentação brasileira para as empresas de tecnologia e redes sociais, abertamente inspirada na Lei dos Serviços Digitais da União Europeia (Digital Services Act, em inglês), o PL 2630 vem sendo atualizado, para evitar que seja atropelado pelos avanços da tecnologia.
A futura regulamentação brasileira cria obrigações gerais de transparência e regras para moderação de conteúdo, propõe uma avaliação permanente dos riscos sistêmicos que podem afetar direitos fundamentais, individuais e coletivos. "Vimos no ano passado em relação às escolas, como há uma dificuldade das plataformas em proteger o ambiente de conteúdos que são violadores do direito de crianças e adolescentes, então esses elementos continuam válidos", garantiu Brant na entrevista à RFI.
Tema em discussão no G20
A defesa da integridade da informação é um tema em debate no mundo inteiro, inclusive no G20, atualmente sob presidência do governo brasileiro. Poucas legislações desse tipo foram aprovadas e testadas até agora. A Lei dos Serviços Digitais da UE, por exemplo, entrou em vigor em setembro do ano passado, mas algumas regras passarão a valer apenas a partir de 17 de fevereiro. "Eu acho que o Brasil está fazendo o debate a tempo, acompanhando as melhores práticas para ter uma boa legislação", aponta o secretário de Políticas Digitais da Secom.
Brant lembra que o Brasil aderiu à Parceria, informação e democracia, que é liderada pela França e tem outros 50 países envolvidos. Recentemente, o governo assinou uma declaração conjunta de intenções com a Alemanha nessa área, além de participar dos processos lançados pela secretaria-geral da ONU, pela Unesco e pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
"O que a gente quer, no âmbito do G20, é pautar o tema. O mundo não pode lidar com naturalidade com a disseminação de desinformação, de discurso de ódio e de conteúdos ilegais (...) um tema que afeta a estabilidade política e econômica dos países", disse Brant, "independentemente da posição política dos integrantes do grupo".
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