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"Retratos Fantasmas" estreia na França com Kleber Mendonça Filho de olho no Oscar

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Depois de uma série de pré-estreias concorridas, o documentário "Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho, entra em cartaz nos cinemas franceses nesta quarta-feira (1). Em entrevista à RFI, em Paris, o cineasta pernambucano fala sobre este documentário biográfico, elogia o modelo francês de salas de cinema e revela estar animado para participar da campanha do Oscar 2024, para o qual o longa foi pré-selecionado.

O cineasta Kleber Mendonça Filho.
O cineasta Kleber Mendonça Filho. © RFI
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"Retratos Fantasmas" vem recebendo críticas elogiosas desde que o filme teve sua estreia mundial no Festival de Cannes, em maio. Neste quinto longa-metragem de uma carreira premiada, Kleber narra, de forma afetiva, as transformações ocorridas em seu apartamento familiar, em Recife, e nas salas de cinema que frequentou na juventude no centro da cidade, hoje substituídas por supermercados ou igrejas evangélicas. 

RFI - Kleber, a gente já tinha referências de seu apartamento familiar de outros filmes. Neste documentário, você mostra quem era sua mãe, historiadora, seu irmão, a forma como você se construiu. Por que você resolveu fazer esse filme neste momento da sua vida e da sua carreira?

Kleber Mendonça Filho - É curioso porque eu não acho que no início, a gênese era falar de mim. Eu tinha um desejo muito grande de falar daquele espaço que era um espaço de amor, um espaço arquitetônico, um espaço que foi sendo alterado de acordo com os momentos de vida de uma mulher que morava com os filhos. E, sobretudo, aquele espaço, que é uma casa de família, foi um lugar onde eu fiz 12 ou 13 filmes. Filmes muito primitivos, inclusive, as primeiras experiências com equipamentos domésticos. Mas, por algum motivo, eu continuei filmando aquele lugar. Quando eu estava já muito envolvido com esse filme que se transformou no "Retratos Fantasmas", que é um filme sobre espaço também – o início do filme era sempre salas de cinema e o centro do Recife, um espaço de convívio humano –, eu descobri o coração do filme ao falar do apartamento.

Eu comecei a ver o meu material pessoal, minhas fitas e minhas fotos, e eu tinha a sala, cozinha, o banheiro e os quartos filmados de todos os ângulos possíveis, em situações completamente distintas e com equipamentos totalmente diferentes ao longo de 20 anos. Então, quando você fala de cinema, você fala de montagem e de tempo também. Foi assim que a ideia de filmar e de mostrar o apartamento surgiu. Claro que eu não poderia filmar o apartamento e ficar lacônico, não dizer de quem é esse apartamento. Naturalmente, eu falo de quem é o apartamento, eu digo que morei ali, essa era a minha mãe, esse era o meu irmão. Agora, uma vez que o filme está lançado, o realizador não tem mais jurisdição sobre o próprio filme. E muita gente tem falado que o filme é sobre mim. Mas eu acho que o filme é sobre o apartamento. Eu venho como parte da informação emotiva sobre o significado daquele lugar. Eu e minha família.

RFI - O aspecto arquitetural dos espaços ou também a questão do cinema como lugar de encontro?

KMF - Eu não me interessaria em fazer um filme sobre a arquitetura pura e simples. Por exemplo, as fotos em preto e branco do Art-Palácio, na semana da inauguração, são fotos de registro, elas são relativamente frias, não tem ninguém. São registros técnicos da obra que ficou pronta. Eu não sou contra esse tipo de registro. Mas eu não faria um filme apenas assim, porque eu acho que a verdadeira arquitetura, a verdadeira noção de espaço é sobre um apartamento e o sistema humano que existiu dentro daquele apartamento. No caso, minha família, meus amigos, conhecidos e o que o próprio cinema conseguiu fazer daquele apartamento.

Uma vez estabelecido isso, a gente vai para o centro da cidade, onde é basicamente a mesma ideia. Por questões de tempo, de dinheiro e de mercado, o centro da cidade vai sendo reconfigurado e a reconfiguração dele meio que rima com abandono. Tudo isso para mim é muito forte, como o espaço é ocupado ao longo dos anos. De repente, o Art-Palácio é só uma ruína hoje. O São Luís, por outros motivos, sobreviveu. Tudo isso é muito interessante. As forças, elas tentam se anular e ao tentarem se anular, você tem o drama humano que é a história.

RFI - Uma estreia na França tem significado particular para você?

KMF - Tem porque eu acho que a França é um modelo a seguir. Existe uma rede impressionante, eu diria, de salas, que na linguagem brasileira seriam salas alternativas. Mas na verdade são salas que participam do mercado, como qualquer sala considerada comercial. São salas muito bem equipadas, salas que formam o público. Você vai em cidades muito pequenas, onde você não esperaria ter uma sala assim e a sala está lá. Eu gosto muito desse sistema que existe na França.

As melhores sustentações de "Retratos Fantasmas" no Brasil são em salas formadoras de público e metade delas são públicas. A França já é naturalmente preparada para receber um filme como esse e eu tenho tido muita sorte. "O Som ao Redor", "Aquarius", "Bacurau" e agora "Retratos Fantasmas" tiveram lançamentos muito bons na França. É um filme de história que está fazendo uma turnê em espaços de história do próprio cinema.

RFI - "Retratos Fantasmas" está pré-selecionado para participar do Oscar. É um prêmio importante para você?

KMF - Eu estou indo para os Estados Unidos agora. O Oscar é um símbolo muito grande da indústria americana de Hollywood e que tem uma repercussão no mundo inteiro. Com certeza tem no Brasil. O "Retratos Fantasmas" é um filme muito prestigioso dentro da produção brasileira este ano. E eu fico feliz de ir aonde o filme está me levando, e falar do filme, defender o filme. Para mim é um prazer. Eu eu sempre digo que eu vou onde o filme vai. O Oscar vai me receber lá para fazer a campanha. Está tudo certo. Eu gosto disso.

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