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Macron ofereceria "vitória diplomática" a Lula se fosse à Cúpula da Amazônia, diz especialista

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Para o geógrafo, diretor de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS) e especialista em Amazônia, François Michel Le Tourneau, o presidente francês manda um sinal claro ao não comparecer à Cúpula da Amazônia, que começa nesta terça-feira (8). Por outro lado, Lula também usaria o evento, que reúne os países amazônicos, como demonstração de força para mandar uma mensagem aos negociadores europeus do já recalcitrante Acordo do Mercosul.

Líderes, da esquerda para a direita, a Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o governador do Estado do Pará, Helder Barbalho, a Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e o Conselheiro-Chefe da Presidência do Brasil, Celso Amorim, participam da Cúpula Amazônica no Centro de Convenções Hangar em Belém (PA) terça-feira, 8 de agosto de 2023.
Líderes, da esquerda para a direita, a Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o governador do Estado do Pará, Helder Barbalho, a Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e o Conselheiro-Chefe da Presidência do Brasil, Celso Amorim, participam da Cúpula Amazônica no Centro de Convenções Hangar em Belém (PA) terça-feira, 8 de agosto de 2023. AP - Eraldo Peres
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Segundo François Michel Le Tourneau, especialista em Amazônia, "a cúpula não vai trazer respostas imediatas". "É possível e capaz que uma melhor cooperação sobre o assunto permita mitigar um pouco o fenômeno, mas suas raízes estão na pobreza da região amazônica e também na disponibilidade de minérios. É pouco provável que seja fácil para uma cúpula articular novas soluções para velhos problemas", diz.

Sobre a ameaça dos garimpos ilegais aos territórios yanomamis, Le Tourneau afirma que "a cúpula pode ajudar um pouco", mas que "a questão do garimpo é universal na Amazônia, seja em terras yanomamis, onde é maior do que em outras áreas, mas também nos kayapós, nos mundurucus e também no meio da Guiana Francesa, a até em lugares onde não há povos originários. Então, com uma melhor cooperação, seria possível repelir talvez os garimpeiros, muitos deles brasileiros, mas ainda não vai ser o suficiente", avalia.

Para o especialista, o presidente francês Emmanuel Macron, que decidiu não comparecer à cúpula, apesar de ser muito esperado no evento, manda um sinal claro com seu gesto. "Vários assuntos estão embutidos nessa questão. A primeira e que a França é um país amazônico, pela Guiana Francesa, mas pelos estatutos da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), a França é unicamente um país observador", explica.

"Muitos países da América Latina não aceitam que a Guiana Francesa não é mais uma colônia, mas parte integrante do território francês, com toda a igualdade. Então tem esse primeiro problema para o Macron, mas também temos o presidente Lula que usa essa cúpula também para mandar sinais sobre o acordo entre a União Europeia (UE) e Mercosul, e não querendo mais aceitar as condições europeias ambientais sobre esse acordo. Obviamente, Macron não concorda com essa posição", reitera.

Le Tourneau também lembra a posição do presidente Lula sobre a Ucrânia. "O encontro em Paris que ocorreu no mês de junho não foi dos melhores, então somando tudo isso era difícil para o presidente Macron oferecer, de certa forma, essa vitória diplomática [para Lula] que seria a sua presença em Belém nessa cúpula amazônica", analisa o geógrafo.

Declaração de Belém será branda por desacordo entre países

"Em Belém aconteceram vários eventos, não só o dos chefes de Estado, mas também encontros de ONGs, etc [os Diálogos da Amazônia]. Talvez desses outros encontros saiam mais soluções do que do encontro principal, que visa um acordo, uma declaração final, que seja um consenso. Essa declaração vai ter que ser muito, muito branda, de certa forma, porque, por exemplo, não se pode banir o petróleo porque a Colômbia é contra, não se pode falar muito em desmatamento zero, porque outros países não concordam", detalha.

"Sairá uma declaração de intenção, com certeza, o que já não é nada mau e também um melhor entendimento entre todos os países da Amazônia, em torno de objetivos que são compatíveis", contemporiza. "Já é um primeiro passo, mas ainda está longe de ser a realização desses objetivos e, muito provavelmente, o objetivo da declaração também vai ser para poder cumprir esses objetivos de proteção do meio ambiente, para que os países amazônicos possam receber de países ricos, mais financiamento para a defesa da Amazônia. Veremos se esse apelo será entendido ou não por outros países europeus e os Estados Unidos. Até agora, não foi", afirma.

Para Le Tourneau, a maior ameaça que a Floresta Amazônica sofre hoje é "econômica". "No sentido em que um hectare de floresta viva vale menos do que um hectare desmatado. Enquanto esse mecanismo básico não for quebrado, a Amazônia estará em perigo", conclui.

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