"A mesma luta": Rosa Gauditano apresenta em Arles fotolivro sobre a luta feminina durante ditadura
Publicado em:
Ouvir - 06:01
A fotógrafa brasileira Rosa Gauditano apresentou durante o festival Encontros de Arles, no sul da França, o fotolivro “A Mesma Luta”, um recorte de seu extenso trabalho sobre os movimentos sociais durante a ditadura.
Patrícia Moribe, enviada especial a Arles
O fotolivro “A Mesma Luta” se concentra na participação das mulheres nos movimentos sociais, de 1974 a 1984. “É um recorte de um trabalho maior que eu tenho nesses anos que trabalhei para um jornal da imprensa ‘nanica’ [independente], o jornal Versos", relata Rosa Gauditano.
Essa releitura sobre a ação feminina foi feita no meio da pandemia, em 2021. “Ele foi impresso em São Paulo, numa pequena gráfica, em autoedição. O Instituto Moreira Salles selecionou como um dos melhores livros do ano, em São Paulo e, no ano passado, ele ganhou o primeiro prêmio de livros autoeditados no Photo España, em Madri.”
Mundo gay paralelo
Ainda este ano, Rosa Gauditano participa da Bienal de São Paulo com o trabalho sobre o universo lésbico da capital paulistana em 1979. Feita para a revista Veja, a reportagem nunca foi publicada.
Durante um mês, Rosa frequentou dois lugares míticos de encontros de lésbicas, numa época em que os espaços LGBT ainda eram quase clandestinos, o Ferru’s bar e a boate Dinossauro. Ela pediu a permissão para as frequentadoras e só registrou as mulheres que concordaram. “Elas era muito perseguidas, ainda mais que hoje”, conta Rosa. “Aos poucos, cada dia que eu ia lá, encontrava uma, elas me apresentavam para outras e eu fui montando esse trabalho.”
Rosa Gauditano também é conhecida por ter acompanhado por mais de 30 anos os povos tradicionais no Brasil. “Comecei em 1989, quando eu fui fotografar o encontro de Altamira, no sul do Pará, que foi um encontro realizado por várias ONGs com os índios Kayapó do sul do Pará, que estavam protestando contra a Usina de Carajás, que nada mais era do que a usina de Belo Monte, que depois foi construída”, relata.
“Eu me dei conta de que eu não conhecia nada sobre os indígenas no Brasil e que a imprensa brasileira não publicava quase nada sobre os indígenas do Brasil. Era como se eles não existissem”.
O encontro motivou Rosa a fazer várias viagens e reportagens sobre os Yanomami e os Xavante, entre outros. Ela foi a primeira fotografa a registrar todos os rituais dos Xavante, que resultou no livro “Raizes do Povo Xavante”.
Ela fotografou ainda a posse do presidente Lula. “Eu acompanho os indígenas há mais de 30 anos e eles sempre foram colocados à margem em todos os governos brasileiros. E agora, com a mudança de governo, temos uma ministra indígena, Sônia Guajajara, que é uma mulher muito guerreira, que foi diretora da Associação dos Povos Indígenas do Brasil”.
“Foi a maior emoção da minha vida”, conta, sobre o momento em que o novo presidente subiu a rampa “de braço dado com o povo brasileiro, e especialmente com o grande líder, Raoni, que conheci no encontro de Altamira, em 1989”.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro