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Projeto Relicário com gravação inédita de João Gilberto é lançado em CD

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Os fãs de João Gilberto poderão matar as saudades do ícone da Bossa Nova através de um álbum lançado nos principais serviços de streaming e em CD, nesta quarta-feira (26), com uma gravação ao vivo do cantor realizada em São Paulo, há 25 anos. Com 36 músicas, o trabalho inclui a faixa inédita “Rei sem coroa”. A RFI Brasil conversou com o compositor e letrista Carlos Rennó, que esteve presente ao show, décadas atrás.

Projeto Relicário tem gravação inédita de João Gilberto.
Projeto Relicário tem gravação inédita de João Gilberto. © divulgação
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“Eu lembro de estar na plateia assistindo uma vez mais a uma apresentação do João Gilberto. Eu sempre assistia a todos os shows do João para perceber as diferenças, às vezes sutis, das interpretações e execuções dele de uma mesma canção, de um mesmo samba”, diz Carlos Rennó em entrevista por telefone.

Lançado pelo Selo Sesc (Serviço Social do Comércio), o projeto “Relicário” estreia com essa gravação inédita do cantor e compositor João Gilberto, com o áudio remasterizado da histórica apresentação feita na unidade Vila Mariana, em 1998. “O lançamento do álbum reforça o compromisso do Sesc com a valorização do patrimônio imaterial do Brasil e com a democratização do acesso aos bens culturais e arquivos da instituição”, explica Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

À época, João Gilberto estava em turnê para celebrar os 40 anos da Bossa Nova, com shows agendados em Salvador, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Maceió. São Paulo recebeu três dias de apresentações, sendo a última em 5 de abril de 1998, que serviu de fonte original para o material do projeto Relicário. Conhecido por seu perfeccionismo, João havia feito apenas quatro pedidos para a apresentação: um banco, um tapete persa, uma mesa para violão e acústica perfeita.

“Show de João era sempre importante musicalmente e culturalmente. Um detalhe específico no caso desse show é que ele foi gravado com uma qualidade técnica à altura das exigências de João Gilberto”, lembra Rennó. “O João é daqueles artistas que sempre renovam o novo. Ouvir esse show agora é renovar a nossa percepção daquilo que foi novo nos anos 1930, 1940, 1950, 1960 e 1970”, completa. “A arte dele e este álbum comprovam uma vez mais a alegria e a beleza que assinalam as suas execuções”, afirma.   

 

Carlos Rennó, compositor
Carlos Rennó, compositor © divulgação

Canção inédita

Como costumava fazer em seus shows, João Gilberto mesclou sambas antigos e clássicos da Bossa Nova nas quase duas horas de apresentação. O destaque da gravação é a música inédita "Rei sem coroa", que nunca havia sido registrada em estúdio ou gravada oficialmente pelo artista. A canção é uma parceria dos compositores Herivelto Martins e Waldemar Ressurreição, inspirada na história do rei Carlos II, da Romênia, que virou residente do Copacabana Palace, após ter sido forçado a abdicar de seu trono durante a Segunda Guerra, em 1940.

“Além dos clássicos da Bossa Nova, um gênero que ele inventou pelo seu modo de tocar, ouvimos um período que eu chamo dos inventores originais e originários da MPB. Há repertórios de intérpretes como Orlando Silva e Ciro Monteiro e de compositores como Ary Barroso e Dorival Caymmi”, cita.

O primeiro título do projeto Relicário ganhou uma parceria especial: Bebel Gilberto, filha do intérprete, assumiu a supervisão artística do material. O álbum inclui clássicos da MPB como “O Pato”, “Wave”, “Carinhoso” e “Eu Sei que vou te amar”, reunindo músicas de compositores já citados, como Ary Barroso, Tom Jobim e Dorival Caymmi, além de Wilson Baptista e Herivelto Martins.

A faixa instrumental “Um abraço no Bonfá”, uma homenagem ao violonista Luiz Bonfá (1922 – 2001), é a única música de autoria própria de João Gilberto interpretada na apresentação no Sesc Vila Mariana.

O Sesc convidou o artista visual de arte urbana Speto para fazer uma versão do grafite realizado por ele, em 2020, em homenagem ao cantor. O desenho, feito originalmente na fachada de um edifício próximo ao Mercado Municipal, em São Paulo, agora estampa a capa do álbum. A pintura apresenta João Gilberto sentado com seu violão. De acordo com Speto, a imagem tem o mínimo de traços possível, uma referência ao minimalismo da Bossa Nova e de seu maior intérprete e compositor.

“É mais uma oportunidade para observar certos procedimentos do João ao interpretar canções do passado. Os cortes e trocas de palavras que ele aplica às letras originais. Uma série de supressões e substituições que mereciam um estudo à parte, dentro do projeto dele de contenção e economia estética, em que o intérprete se torna um coautor daquilo que canta”, explica. “João Gilberto não é só moderno, é eterno”, conclui Rennó.  

Para a capa do disco, o SESC convidou o artista visual de arte urbana Speto para fazer uma versão do grafite realizado por ele em 2020, em homenagem ao cantor, num edifício de São Paulo.
Para a capa do disco, o SESC convidou o artista visual de arte urbana Speto para fazer uma versão do grafite realizado por ele em 2020, em homenagem ao cantor, num edifício de São Paulo. © divulgação

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