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Etnólogos franceses redescobrem imagens de Virgens Marias grávidas banidas pela Igreja

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O livro “Le Chemin des vierges enceintes” (“O caminho das virgens grávidas”) traz o resultado da investigação dos etnólogos Jean-Yves Loude, escritor, e Vivianne Lièvre, fotógrafa, em busca de esculturas de Nossa Senhora grávida. As imagens eram muito populares, mas desapareceram das igrejas católicas a partir do século 16.

O escritor Jean-Yves Loude acaba de publicar, junto com a fogógrafa  Viviane Lièvre, Le chemin des vierges enceintes pela editora Chandeigne.
O escritor Jean-Yves Loude acaba de publicar, junto com a fogógrafa Viviane Lièvre, Le chemin des vierges enceintes pela editora Chandeigne. © Viviane Lièvre/Éditions Chandeigne
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Vocês já viram estátuas da Virgem Maria grávida? Esta pergunta surpreendente levou os dois etnólogos franceses a refazer o caminho de Compostela em busca dessas representações, banidas do espaço público pela Igreja Católica a partir de 1563 e substituídas pelo dogma da Imaculada Conceição.

O resultado da viagem investigativa, que começou na França, terminou na Espanha, em Santiago de Compostela, mas passou principalmente por Portugal, está no livro “Le chemin des vierges enceintes”. A obra, ricamente ilustrada, foi lançada na França pela editora Chandeigne. Códigos QR e um link também dão acesso a mais de 400 fotografias feitas durante o percurso por Vivianne Lièvre.

Como na Via Sacra, a viagem foi composta por 14 etapas ou estações. Eles descobriram imagens de Virgens grávidas em catedrais, conventos e, principalmente, em capelas discretas e museus de vilarejos. “O livro é um guia de viagem, mas também um livro de literatura, uma investigação quase policial sobre o desaparecimento de uma figura muito cultuada entre o século XIII e o final do século XVI, até a conclusão do Concílio de Trento”, conta Jean-Yves Loude.

Discurso de exclusão das mulheres

Rapidamente, os autores associaram o desaparecimento histórico das estátuas ao discurso machista da Igreja, que excluiu as mulheres. “Mais uma vez um discurso de proibição sobre o corpo feminino. (...) Se calhar, é uma fonte do mal-estar na nossa civilização. Essa guerra entre homens e mulheres, a construção do discurso de exclusão das mulheres de todos os poderes”, acredita o escritor viajante.

A contrarreforma decidida pelo Concílio de Trento, devido ao movimento protestante, reformulou a imagem de Nossa Senhora, que “mudou de atitude. Passou a ser obediente, uma Deusa, afastada da realidade das mulheres”, diz Jean-Yves Loude.

As esculturas foram proibidas porque mostravam uma mãe de Deus excessivamente humana, com um ventre enorme e uma mão protegendo a barriga. Em Portugal e no Brasil, elas são conhecidas como Nossa Senhora do Ó ou da Expectação. Muitas foram destruídas. Outras, escondidas, voltaram a ser expostas com o tempo, mas comedidamente. O etnólogo diz que reencontrar as esculturas foi “uma revelação”, mas lamenta que “o problema é que não conhecemos a história delas”.

A viagem investigativa de Jean-Yves Loude e Vivianne Lièvre foi norteada pelo evangelho de Maria Madalena, que só foi revelado em meados do século XX. “Nós temos de inventar de novo a religião Católica com as mulheres e com todos os textos que foram escondidos”, propõe o escritor.

Clique na foto principal para ouvir a entrevista na íntegra.

 

 

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