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Longa “Curral” exibido em Paris mostra persistência do coronelismo na política brasileira

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“Curral” é o primeiro longa-metragem de ficção do cineasta pernambucano Marcelo Brennand. O filme integra a programação do tradicional Festival Brasileiro de Paris e será exibido pela primeira vez na França neste sábado (3).

O filme Curral, de Marcelo Brennand, traz a manutenção do coronelismo na política brasileira
O filme Curral, de Marcelo Brennand, traz a manutenção do coronelismo na política brasileira © Divulgação
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“Curral” é um drama político que acontece no interior de Pernambuco, mais precisamente na cidade de Gravatá, e é muito contemporâneo. É uma ficção baseada em fatos reais registrados no documentário “Porta a Porta: a política em dois tempos”, realizado por Marcelo Brennand em 2008, durante a campanha pelas eleições municipais.

O longa, que ainda não estreou nos cinemas, já participou de vários festivais, foi premiado na Mostra Internacional de São Paulo, no ano passado, e recentemente recebeu o prêmio de melhor filme no Brooklyn Film Festival, nos Estados Unidos. Mas devido à pandemia, todos esses eventos foram online e a exibição em Paris é a primeira presencial. 

“Tenho muito expectativa de como o público francês vai receber ‘Curral’ e, como é o primeiro festival presencial que estou participando com o filme, para mim é uma emoção muito grande e um momento de muita expectativa de poder dialogar com o público. O cinema é uma arte coletiva. Essa troca com o público é muito importante. Online você não tem esse calor”, diz Marcelo Brennand.

O cineasta pernambucano Marcelo Brennand participa em Paris da exibição de seu primeiro longa de ficção "Curral", no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, neste sábado 3 de julho de 2021.
O cineasta pernambucano Marcelo Brennand participa em Paris da exibição de seu primeiro longa de ficção "Curral", no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, neste sábado 3 de julho de 2021. © RFI/A.Brandão

O filme já seduziu políticos franceses e por iniciativa da vereadora Geneviève Garrigos, além da exibição no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, será exibido, só para convidados, na Prefeitura de Paris, na próxima segunda-feira (5).

Coronelismo

Com uma estética documental, o longa denuncia o coronelismo, o voto de cabresto, ainda persistente no interior do nordeste brasileiro. “Quanto mais a gente fala do passado, mais atual o filme fica. O nome ‘Curral’ faz uma analogia à época da República Velha, dos antigos coronéis, quando cada coronel tinha o seu curral eleitoral. Hoje, sofisticaram o nome e falam de reduto eleitoral, mas na verdade são currais eleitorais”, salienta o cineasta.

Mas nos tempos atuais, a moeda de troca é a água, “um bem que deveria ser universal e é utilizado para comprar votos”.  O cineasta indica que “Curral” mostra como a política atual carece de ideologia. Os políticos novos vêm com um discurso novo, como se fossem outsiders, mas infelizmente acabam se aliando com a velha política. Depois do filme, você se pergunta onde é que está essa nova política.” Mas Marcelo Brennand não quis revelar o estado dessa nova política. “Tem que assistir o filme para ver se encontra”, afirmou.

Estreia nos cinemas em 2022

O momento de escassez de recursos para o audiovisual freou o “processo de efervescência e criativo” que o Brasil e Pernambuco viviam “com 170 longas sendo lançados por ano. De dois anos para cá, nós tivemos quantos projetos aprovados pela Ancine: 2, 3? Tem uma ruptura com a cultura muito grande nesse governo, constata Marcelo Brennand que vai aproveitar essa viagem à França para ir ao Festival de Cinema de Cannes, na próxima semana, tentar encontrar parceiros para financiar seus próximos trabalhos.

Pedindo desculpas por "politizar" a conversa, o cineasta lembra que a atual crise sanitária “negligenciada” pelo governo atrasou a estreia de “Curral”. O filme deveria ter sido lançado inicialmente no ano passado, durante a campanha eleitoral para as eleições municipais de 2020. O longa chega aos cinemas brasileiros provavelmente no ano que vem, ano eleitoral importante para o Brasil, e poderá influenciar o debate nacional.

“Coincidentemente, provavelmente ele vai ser lançado em um ano de campanha eleitoral para presidente, o que acho muito importante. Como dizia Tolstói, ‘você fala de sua aldeia para se comunicar com o mundo’. O filme, que se passa em uma cidade pequena, Gravatá, de 80 mil habitantes e 50 mil eleitores, é um reflexo, um microcosmo, do que acontece com o mundo. Ele mostra a carência que leva as pessoas a venderem seus direitos”, alerta Marcelo Brennand.

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