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Reportagem

Poluição de sacos com milhões de bolinhas plásticas chega a praias do norte da Espanha

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Diversas praias do norte da Espanha, especialmente na região da Galícia, estão sendo invadidas por sacos com milhões de bolinhas plásticas. Conhecidas como “pellets”, elas servem como material para a indústria de produção de plástico e fazem parte de uma carga perdida, segundo as autoridades locais, no dia 8 de dezembro do ano passado.

Desde meados de dezembro, praias da Galícia foram invadidas pelas bolinhas de plástico.
Desde meados de dezembro, praias da Galícia foram invadidas pelas bolinhas de plástico. © Noia Limpa
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Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri

A primeira vez que o material foi visto na Espanha foi em 13 de dezembro, no município da Ribeira, na província de A Corunha, na Galícia. À RFI, Javier H. Rodríguez, jornalista de O Salto, conta que inicialmente “a prefeitura da Ribeira percebeu alguns sacos flutuando no mar e, depois disso, começaram a surgir testemunhos nas praias desses pequenos plásticos, de no máximo 5 milímetros de diâmetro”.

Posteriormente, as bolinhas foram associadas à perda de parte da carga de um navio com a bandeira da Libéria que estava em águas portuguesas. Além do contêiner que levava o material plástico, outros cinco contêineres foram perdidos, levando, como explica Rodríguez, itens como pneus e rolos de plástico filme.

O jornalista, que tem acompanhado de perto a evolução do caso, diz que não se tem notícia do que teria acontecido com os outros contêineres. “O único que se sabe é sobre o que chegou à Galícia, Astúrias e à costa da Cantábria”, relata, fazendo referência aos microplásticos.

Emergência nacional

A partir desta terça-feira (9), as três comunidades autônomas em questão ativam planos de emergência de nível 2, o que faculta o Estado espanhol a enviar reforços.

Na Espanha, a competência para a limpeza das praias é das prefeituras. Quando estas não têm os meios suficientes, solicitam recursos às comunidades autônomas (equivalentes aos estados no Brasil). Se esta ajuda ainda for insuficiente, cabe pedir ajuda ao Estado, como acontece agora.

Implicações políticas

As eleições galegas acontecem no dia 18 de fevereiro. A catástrofe ambiental que atinge algumas das praias da região está sendo utilizada como arma política.

De acordo com Rodríguez, há evidências de que a administração pública – local e nacional – tinha conhecimento do que aconteceu entre os dias 8 e 13 de dezembro, quando os plásticos começaram a ser avistados nas praias, mas nenhuma das partes se manifestou.

“Começaram realmente a tomar medidas quando já não havia como esconder. Viralizaram alguns vídeos da associação Noia Limpa, e os meios de comunicação começaram a pedir explicações. Se inicia aí uma briga política para encontrar quem é culpado”, diz.

Força do coletivo

O episódio está sendo chamado de “maré branca”, em referência a um outro incidente que ocorreu na região da Galícia, em 2002, quando um navio petroleiro naufragou. Na época, o caso ficou conhecido como “maré negra”.

Comovidas com os danos que os minúsculos plásticos podem causar à natureza e à população local, a sociedade civil e as entidades do terceiro setor estão fortemente mobilizadas na organização de limpezas nas praias.

“A população civil está se organizando por conta própria ou através das ONGs para fazer a limpeza. Vão com vassouras, acariciando a areia, varrendo a areia e jogando no lixo, tentando preservar as algas e fazendo o manuseio com luvas, por precaução”, comenta Rodríguez.

Jordi Oliva, cofundador da ONG Good Karma Projects – que lidera desde 2018 a investigação sobre a contaminação por “pellets” de plástico no mediterrâneo ocidental –, conversou com a RFI e explicou que “os ‘pellets’ atuam como imãs de toxinas no ambiente, prendendo e acumulando poluentes orgânicos persistentes (POPs) que, uma vez ingeridos pelos animais marinhos, podem afetar a cadeia alimentar”.

Além disso, os fragmentos plásticos podem afetar por obstrução mecânica os animais marinhos que o ingerem. Depois de engolir uma certa quantidade de plástico, o animal não consegue mais se alimentar e morre.

A ONG Ecologistas em Ação, que está trabalhando ativamente na retirada manual e comunitária dos plásticos, apresentou, nesta terça-feira (9), um processo contra a armadora do navio por "crimes contra o meio ambiente", solicitando à Justiça que imponha à empresa uma multa de € 10 milhões.

Na última segunda-feira (8), o Ministério Público espanhol anunciou a abertura de uma investigação relacionada ao despejo de “pellets” no mar e advertiu sobre "indícios de toxicidade".

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