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Reportagem

Rio integra Rede de Cidades Criativas da Unesco e aposta em tradição literária para atrair investimentos

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Beleza é fundamental, já dizia o poeta. Mas não é tudo. Eleito capital mundial do livro para 2025, o Rio de Janeiro  foi uma das 55 cidades escolhidas para integrar a Rede de Cidades Criativas da Unesco, onde representa a literatura. O título é permanente, o que faz do desafio de mostrar-se polo criativo e estimular a leitura uma missão igualmente permanente.

O título da Unesco lança uma espécie de farol sobre a cidade, ao mostrar para o mundo que o Rio tem ativos, artistas e escritores.
O título da Unesco lança uma espécie de farol sobre a cidade, ao mostrar para o mundo que o Rio tem ativos, artistas e escritores. AP - Bruna Prado
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Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro

A prefeitura do Rio, que se ocupou da campanha, agora quer que a chancela se traduza em mais investimentos e turismo e que interesse pesquisadores e leitores pelas históricas tradições literárias da capital fluminense. A expectativa é que o Brasil e seus livros ganhem destaque no mercado editorial internacional. E quem sabe essa visibilidade não se converta em mais prêmios internacionais para os escritores brasileiros? Terra de Machado de Assis, Lima Barreto, Cecília Meirelles e tantos outros nomes de peso, o Brasil nunca ganhou um Nobel da Literatura.

Essa é uma possibilidade, na avaliação de Douglas Resende, gestor cultural e coordenador de Relações Institucionais da Secretaria Municipal de Cultura do Rio. Em entrevista à RFI, ele diz que o título da Unesco lança uma espécie de farol sobre a cidade, ao mostrar para o mundo que o Rio tem ativos, artistas e escritores. É uma espécie de hall da fama, uma olimpíada do livro, afirma. A indústria criativa é parte importante do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas produzidas pela cidade.

Extrapolar vocação de cartão-postal

A antiga capital do império é sede da Biblioteca Nacional, da Academia Brasileira de Letras e do Real Gabinete Português de Leitura, o único depositário legal de obras portuguesas fora de Portugal. A prefeitura quer que o Rio extrapole a vocação de cartão postal e torne-se um destino literário. Ao apresentar a candidatura carioca ao título, destacou a importância da diversidade da população em sua rica herança cultural.

A influência de indígenas, africanos, europeus e imigrantes de várias nações está materializada nas expressões artísticas da cidade, que seria reflexo das literaturas do mundo. Até o carnaval ganhou destaque na lista de argumentos usados para convencer a Unesco. A maior festa do Brasil é pautada por obras literárias, biografias de grandes mestres da literatura, da música, do teatro e da vida cultural dos bairros. Tudo isso estaria por trás de parte importante da economia da cidade.

“É uma cidade que passa a ser considerada por ter uma infraestrutura cultural no campo da literatura importante, autores importantes, edificações importantes, produção importante, plano de investimento no campo específico importante", garante Resende.

Oportunidade de desenvolvimento

Não por acaso a ideia é usar a literatura como oportunidade de desenvolvimento e ferramenta para enfrentar grandes desafios da cidade, entre eles, segundo a prefeitura, a falta de acesso à leitura e à educação de qualidade, além dos impactos causados pela pandemia da Covid-19.

“(O título) pode atrair turismo específico, possibilidade de patrocínios a nível internacional (para a cidade)”, disse.

O fato de ter sido eleita capital mundial do livro em 2025 deve ajudar. A programação prevê investimento de mais de R$ 16 milhões no plano “Bibliotecas do Amanhã”, que inclui a modernização da rede municipal de bibliotecas e salas de leitura.

Outra novidade é a transformar a Bienal do Livro do Rio, que acaba de completar quatro décadas este ano, em uma experiência inovadora e de multimídia. Em sua próxima edição, a bienal sediará o Primeiro Congresso de Literatura Latino-Americano, o que deve criar um espaço inédito de encontro para profissionais do mercado literário.

Haverá ainda a Book Parade, intervenção literária urbana inspirada na bem-sucedida Cow Parade, em que artistas vão criar instalações com livros como elemento central e fonte de inspiração.

Também está prevista uma edição da “Noite dos Livros”, inserida no festival Paixão de Ler e inspirada no projeto anual de Madri, com maratona de 24 horas de palestras, competições, apresentações musicais, atividades infantis, workshops de teatro e mesas redondas.

Para garantir o acesso a livros de verdade e atrair leitores de várias faixas etárias e classes sociais, o programa “Livro nos Trilhos” vai espalhar obras literárias em estações de metrô, ônibus e trens.

Novos talentos no mercado editorial devem ser estimulados com a criação da “Academia Editorial Júnior”, que vai oferecer treinamento e capacitação a jovens promissores.

Dados oficiais mostram que para este ano o município prevê mais de R$ 70 milhões em investimentos em todas as áreas criativas da cidade, o que inclui literatura.

Cooperação internacional

A Rede de Cidades Criativas da Unesco, que inclui 350 cidades de mais de cem países, tem como objetivo facilitar a cooperação internacional entre as cidades-membros e fazer do investimento na criatividade motor de desenvolvimento urbano sustentável, inclusão social e cultural vibrante. A rede tem representantes de sete áreas criativas: Artesanato e Arte Popular, Design, Cinema, Gastronomia, Literatura, Artes Multimedia e Música.

"Se torna possibilidade de networking com outras importantes cidades literárias e cidade influente a nível nacional e internacional entre parceiros. Ou seja, é uma chancela que só tem a trazer mais benefícios para a cidade do Rio”, diz Resende.

Em pouco mais de três décadas, mais de 1.200 obras brasileiras foram publicadas em 45 idiomas. Entre os autores mais traduzidos estão Clarice Lispector, com 65 traduções, Machado de Assis, com 48, e Rubem Fonseca, com 25.

Mais recentemente, nos últimos cinco anos, “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior, foi traduzido em nove idiomas. O romance de José de Alencar, Iracema: lenda do Ceará, de 1865, foi a primeira obra ficcional brasileira traduzida para a língua inglesa, em 1886.

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