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Rendez-vous cultural

Exposição na França mostra as primeiras fotografias a cores do Rio de Janeiro

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Um arquivo inédito com imagens impressionantes daquelas que são, provavelmente, as primeiras fotografias a cores do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, em pleno século 19. O tesouro, presente na exposição "Rio em cores e em relevo", em cartaz no Museu do Novo Mundo, em La Rochelle, no oeste da França, saiu direto da coleção do mecenas Albert Kahn e teve curadoria do historiador francês Laurent Vidal, estabelecendo um diálogo histórico com a iconografia e a coleção do museu francês.

Exposição "Rio em cores e relevos", no Museu do Novo Mundo de La Rochelle, no oeste da França, traz as primeiras fotos a cores da capital carioca.
Exposição "Rio em cores e relevos", no Museu do Novo Mundo de La Rochelle, no oeste da França, traz as primeiras fotos a cores da capital carioca. © Divulgação/ Albert Kahn
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Em novembro de 1555, o navegador francês Nicolas Durand de Villegagnon inicia uma colônia francesa na entrada da então Baía de Guanabara, construindo o forte de Coligny. Mas por causa das infindáveis disputas entre católicos e protestantes (huguenotes) sobre a natureza da Eucaristia, a tentativa francesa - conhecida como a França Antártica - acabará em meio a conflitos internos, em 1559, e será destruída pelos novos e definitivos colonizadores: os portugueses.

Histórias como essa que ligam a França às Américas fazem parte do Museu do Novo Mundo de La Rochelle, no oeste da França. "Essa exposição nasceu de uma ideia do historiador Laurent Vidal de trabalhar, ao mesmo tempo, a fotografia antiga francesa do Brasil, fazendo uma conexão com a coleção de fotos do Museu do Novo Mundo. Considerei essa proposta bastante pertinente, e então buscamos imagens que pudessem servir de suporte para uma exposição do tipo", explica Mélanie Moreau, curadora da mostra e diretora de museus de Arte e de História da cidade de La Rochelle.

Conexões

"O arquivo do museu Albert Khan nos inspirou, desejando simultaneamente falar sobre a história da fotografia, além de mostrar as primeiras imagens coloridas do Rio e o passado desta cidade que ainda nos inspira, apesar de ter se transformado. Além da possibilidade de criar conexões com as temáticas do Museu do Novo Mundo", diz Moreau. "Na verdade, a ideia não é resgatar essa história, mas apresentá-la. O museu é voltado para as Américas do Norte e do Sul, e existe uma vontade verdadeira de explicar os períodos-chave que marcaram essa história, sejam as primeiras explorações francesas, ou o tráfico negreiro; e, no que diz respeito à América do Sul, o Brasil é um eixo muito importante", diz a curadora francesa. 

"Existe essa ideia de explicar que existiu uma tentativa de colonização francesa no Brasil do século 16, uma tentativa que não deu certo, e também o fato do país ter conhecido o tráfico negreiro relativamente tarde, sendo o Brasil um dos últimos países a abolir a escravidão, em 1888. Uma história que nos interessa, porque tem a ver com as temáticas abordadas pelo museu", aponta Moreau.

Olhar fotográfico da França sobre o Brasil

Para o historiador Laurent Vidal, "esse olhar tem uma verdadeira relação entre a França e a fotografia no Brasil". "O primeiro aparelho fotográfico que chegou ao Rio foi um daguerreótipo francês, em 1840. Em janeiro daquele ano um abade francês fez uma das primeiras fotos do Brasil, neste aparelho que havia sido inventado em 1839", lembra.

"A palavra 'fotografia' foi inventada por um francês residente no Brasil, na época na província de São Paulo. E essas fotografias que atualmente apresentamos aqui são as primeiras em cores do Rio de Janeiro", destaca Vidal. "E, entre esses fotógrafos, há muitos franceses ou descendentes de franceses, como Marc Ferrez, que realmente participaram da criação de um olhar francês sobre o Brasil", afirma o historiador.

Laurent Vidal destaca alguns momentos marcantes da exposição, "como as fotos em cores que mostram a exuberância da paisagem carioca e como a cidade nasce, a metrópole nascendo em torno desta paisagem". "Em segundo lugar, o acervo mostra o nascimento da metrópole moderna, com suas avenidas, os funcionários etc. E o terceiro ponto, que para mim é talvez o mais importante, são as imagens que mostram justamente aquilo que está desaparecendo, como o universo dos pequenos trabalhadores, o que remete a uma velha história, bem mais antiga, quase colonial. E também as fotos mostram a população preta na cidade. Uma população que, apesar de ser livre, é uma população marginalizada, é um olhar sutil sobre essa população", afirma.

Uma iconografia carioca

Além disso, o especialista destaca a importância da coleção para a "iconografia carioca". "Essas quase 200 fotografias eram desconhecidas, então é a primeira vez que são apresentadas ao público e é verdadeiramente um conjunto da obra. Forma uma fotografia sobre um Rio [de Janeiro] nascendo, em termos de metrópole moderna, e um Rio que desaparece. E o momento em que se passa de um lado para o outro é fascinante, verdadeiramente fascinante de ver. Eu acho que é um elemento importante na construção da memória carioca", sublinha.

Para a secretária de Patrimônio e Museus da prefeitura de La Rochelle, Anna-Maria Spano, "essa história da escravidão aproxima a cidade de La Rochelle ao Rio e ao Brasil, assim como o fato de serem cidades de vocação marítima". "Sou historiadora da cidade, e é muito interessante descobrir lugares que existiam antes e que desapareceram, descobrir o que ocupa atualmente seu lugar. Além disso, reconhecer essa história de transformação social das cidades", aponta.

Spano lembra ainda que as semelhanças entre as duas cidades não param por aí: "La Rochelle é também uma cidade de frente para o mar, no meio do Golfo da Gasconha. Sua história começa com o comércio marítimo no século 12, e é uma tradição que continua até os dias de hoje nesta grande marina [de veleiros], uma dos maiores da Europa. É também uma cidade de navegadores, de campeões que deram a volta ao mundo", lembra.

A exposição "Rio em cores e em relevo" fica em cartaz no Museu do Novo Mundo de La Rochelle até o dia 3 de abril de 2023.

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