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Reportagem

Município que vai sediar parte dos Jogos Olímpicos Paris 2024 recebe Diálogo das Cidades da ONU

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Num mundo majoritariamente urbano, respeitar e conviver com a diversidade se tornou um dos maiores desafios das metrópoles. Essa dificuldade é ainda maior em La Courneuve, no departamento de Seine-Saint-Denis, na região de Paris, onde 40,3% dos moradores são de nacionalidade estrangeira, especialmente da África e da Ásia. O município, que vai sediar parte das instalações olímpicas de 2024, recebe nesta segunda e terça-feiras (13 e 14) o terceiro Diálogo das Cidades da ONU, com participação de representantes de prefeituras de subúrbios brasileiros.

A terceira edição do Diálogo das Cidades acontece em La Courneuve, na região de Paris, entre os dias 13 e 14 de novembro de 2023.
A terceira edição do Diálogo das Cidades acontece em La Courneuve, na região de Paris, entre os dias 13 e 14 de novembro de 2023. © RFI Maria Paula Carvalho
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Por Maria Paula Carvalho, da RFI

Desde 2019, La Courneuve faz parte da Aliança de civilizações das Nações Unidas (UNAOC), uma rede internacional de territórios sensíveis aos desafios do diálogo social, da diversidade e da inclusão. "O objetivo é conviver com a multiculturalidade”, destacou Miguel Ángel Moratinos, secretário-geral Adjunto das Nações Unidas e Alto Representante (UNAOC). “Estou emocionado de estar aqui e ver como nossos valores podem ser aplicados na prática”, disse. “Somos uma só humanidade, com diversas culturas. A diversidade é uma riqueza e não uma ameaça”, afirmou.

A primeira edição do “Diálogo das Cidades” aconteceu em 2020, em Los Angeles. A segunda edição foi realizada em 2021, em Sevilha, na Espanha. Esses encontros permitem às prefeituras trabalharem em conjunto com a sociedade civil, com o objetivo de desenvolver cidades mais inclusivas.

A herança dos Jogos

Entre outros eventos, La Courneuve será o ponto de partida da maratona paralímpica em 2024. A cidade também faz parte do percurso da chama olímpica. 

Ao dar as boas vindas aos representantes de países como Estados Unidos, Gana, Senegal, Itália e Brasil, o prefeito da cidade, localizada no subúrbio de Paris, destacou que apesar das diferenças, a cidade "tem demonstrado capacidade de viver em harmonia, mesclando povos, misturando línguas, cores, músicas e prática religiosas”. De acordo com Gilles Poux, os Jogos Olímpicos serão mais uma oportunidade para desenvolver “valores de paz e coexistência”, além de trazer novas oportunidades para uma cidade onde 40% da população vive abaixo da taxa de pobreza. Poux ainda alertou que “onde há desigualdade, os serviços públicos ajudam a diminuir a discriminação”.

Gilles Poux, prefeito de La Courneuve (esquerda) e Miguel Ángel Moratinos, secretario-geral Adjunto das Nações Unidas e Alto Representante (UNAOC)
Gilles Poux, prefeito de La Courneuve (esquerda) e Miguel Ángel Moratinos, secretario-geral Adjunto das Nações Unidas e Alto Representante (UNAOC) © RFI Maria Paula Carvalho

O presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Paris 2024, Tony Estanguet, compartilhou sua experiência de ex-atleta para mostrar a força do esporte para a inclusão social. "O esporte ensina respeito, tolerância, excelência e amizade”, destacou. "Mais do que isso, é um vetor social, fortalecendo e unindo a comunidade, promovendo saúde, educação, cultura e igualdade”, acrescentou.

Estanguet ainda reiterou que ao receber 15 mil atletas, de cerca de 200 países, os Jogos Olímpicos deverão deixar uma herança. A Vila Olímpica, por exemplo, deverá ser transformada em 4 mil apartamentos para moradia popular.

Exemplo do Brasil

Rebeca Borges, medalhista olímpica pelo Brasil, começou na ginástica graças as atividades oferecidas pela prefeitura de Guarulhos, sua cidade natal, na periferia de São Paulo. O exemplo dela foi citado aqui na França por Eduardo Tadeu Pereira, diretor-executivo da Associação Brasileira de Municípios (ABM). O ex-prefeito de Várzea Paulista (2005-2012) participou de uma mesa redonda sobre o esporte como ferramenta de diálogo e inclusão. “A Rebeca vinha de uma família de sete irmãos, criada somente pela mãe e só teve a chance de ser descoberta graças ao serviço público da prefeitura de Guarulhos”, reiterou.

“La Corneuve, que é uma cidade periférica em relação a Paris, convidou uma série de cidades periféricas do mundo para participar desse debate sobre a importância da multiculturalidade, da diversidade cultural, no bojo da preparação dos Jogos Olímpicos de Paris”, explica Pereira. "A importância é a gente ter esta articulação para mostrar ao mundo que as metrópoles vão além das cidades centrais dessas metrópoles. Porto Alegre inclui Alvorada, Jundiaí inclui Várzea Paulista, Paris inclui Nanterre e La Courneuve, essa é a importância da nossa conversa aqui”, disse ele, em entrevista à RFI Brasil.

“Geralmente, os subúrbios e as periferias são locais para onde as pessoas com menos posses acabam indo. Então, enquanto os grandes centros urbanos das metrópoles são ocupados pelas pessoas que têm mais recursos financeiros, os imigrantes recém chegados acabam indo para as periferias, como Diadema e Osasco em São Paulo, ou cidades satélites de Brasília”, compara. “Os imigrantes acabam importando com a sua cultura, com a sua música, contribuições importantes para que essas cidades fiquem mais alegres, mais diversas, mais vistosas e melhores para viver”, cita.

Os Jogos Olímpicos incentivam as pessoas a praticarem esportes, o que é importante para a saúde das pessoas. Quando elas assistem à quebra de recordes, veem os atletas ganhando medalhas, isso as incentiva a praticar esportes e a superar suas capacidades atuais. Isso é importante para as crianças e para as pessoas da terceira idade”, conclui.

Eduardo Tadeu Pereira, diretor-executivo da Associação Brasileira de Municípios (ABM).
Eduardo Tadeu Pereira, diretor-executivo da Associação Brasileira de Municípios (ABM). © RFI Maria Paula Carvalho

Também presente na delegação brasileira, Estela Beatriz Farias Lopes, deputada estadual do Rio Grande do Sul e ex-prefeita de Alvorada, destaca as semelhanças e diferenças entre os continentes. “Obviamente há distinções de caráter social entre a pobreza na Europa e no Brasil, mas nós verificamos que há coisas semelhantes, como o exercício da palavra, de forma que os moradores possam ser escutados”, diz.

“La Courneuve é uma das cidades mais pobres do ponto de vista da renda per capita da França e eu venho de Alvorada, cidade com um dos mais baixos PIBs brasileiros, mas temos em comum essa escuta”, diz. “Este encontro é um marco, pois ele reforça o diálogo entre as cidades das periferias para alcançarmos um ambiente de paz, de convívio e de exercício dos direitos plenos de cidadania”, acrescenta.

Por fim, Estela Beatriz destaca que "os Jogos Olímpicos são um espaço de promoção desta diversidade e, ao mesmo tempo, de construção de um ambiente de paz, mais do que uma simples disputa esportiva. Afinal é isso que se vê desde a Grécia Antiga”, conclui.

Estela Beatriz Farias Lopes, deputada estadual do Rio Grande do Sul (PT) e ex-prefeita de Alvorada.
Estela Beatriz Farias Lopes, deputada estadual do Rio Grande do Sul (PT) e ex-prefeita de Alvorada. © RFI Maria Paula Carvalho

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