Copa do Mundo de Rugby: um teste para os Jogos Olímpicos de Paris 2024?
Organização, segurança, transporte… a Copa do Mundo de Rugby começa na próxima sexta-feira (8) e se estende até 28 de outubro na França. As partidas estão previstas em nove estádios distribuídos em diferentes cidades do país. A menos de um ano da abertura de Paris 2024, esta competição poderá servir de “ensaio” para os Jogos Olímpicos. A lembrança do desastre na final da Liga dos Campeões no Stade de France, em junho de 2022, permanece na memória de todos.
Publicado em:
Daqui a menos de um ano, a partir de 26 de julho de 2024, serão inaugurados os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em Paris. Mas bem antes deste prazo, a capital e outras cidades francesas acolhem, de 8 de setembro a 28 de outubro, um grande evento desportivo internacional: a 10ª edição da Copa do Mundo da Rugby League.
Esta é a segunda vez que a França sedia o evento, desde sua criação, em 1987. A primeira vez foi em 2007, e organizada em conjunto com o País de Gales e a Escócia.
Para a edição deste ano, são esperados cerca de 600 mil visitantes estrangeiros na França. Seja nos estádios e nos estabelecimentos que transmitem os jogos, seja nas “villages rugby”, espaços de encontro e celebração instalados nas cidades-sede, muitos serão os locais para acompanhar, torcer, festejar.
Mas a Copa do Mundo de Rugby também pode se revelar uma importante oportunidade para analisar possíveis falhas de todos os tipos com vistas à realização dos Jogos Olímpicos. “Poderemos testar como são geridos os fluxos de espectadores e o transporte”, exemplifica Carole Gomez, pesquisadora-associada do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris, na sigla em francês), especializada em geopolítica do desporto, e autora do livro “Géopolitics du rugby” (Edições Dunod, 2023).
“[O campeonato] será assistido, analisado, um evento que será objeto de diversos feedbacks e melhorias, se necessário” tendo em vista os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, ela ressalta.
Naturezas muito diferentes
A questão é que a Copa do Mundo de Rugby e os Jogos Olímpicos são duas competições esportivas de naturezas muito diferentes. Estes são certamente “dois megaeventos esportivos extremamente importantes, mas realmente diferentes”, insiste Carole Gomez.
A pesquisadora considera o exemplo da organização. Haverá “uma divulgação da competição em nove cidades para o Mundial de Rugby, enquanto, para os Jogos Olímpicos, se concentra principalmente na região de Paris”. “Também não se trata do mesmo calendário, nem o mesmo tipo de público e será importante ter isso em conta”, continua a especialista.
Nem o mesmo fluxo de visitantes, vale destacar. Enquanto a Copa de Rugby deve atrair 600 mil visitantes estrangeiros, são aguardados milhões de turistas internacionais para os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Assim como a França, o Japão já passou por esta preparação quando “sediou o Campeonato Mundial da União de Rugby, em 2019, antes dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos”, compara Gomez. E em ambos os países, o evento “foi uma espécie de 'ensaio geral' para esta grande competição internacional”.
O vexame no Stade de France
As autoridades francesas, tal como atletas e torcedores, se recordam das dificuldades de gestão e as cenas de caos no Stade de France por ocasião da final da Liga dos Campeões, em maio de 2022. Quase dois meses depois do episódio, em um relatório, o Senado francês apontou uma “série de disfunções” e “falhas de preparação”.
Ainda no ano passado, o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, já tinha mencionado o Mundial de Rugby como “um ensaio geral” para os Jogos Olímpicos, que exigirá a mobilização de “7 mil policiais e agentes de segurança por dia”.
Em seguida, o responsável interministerial dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024 e grandes eventos desportivos, Michel Cadot, indicou, durante uma mesa redonda na Assembleia Nacional sobre a organização da Copa do Mundo de Rugby, que “em questões de segurança, e outros assuntos, é até certo ponto um teste, um teste que deve ser bem-sucedido”.
Sobre os esquemas de segurança a serem implementados, o Ministério do Interior informou no final de julho em seu site que será criado um “Centro de Comando Estratégico Nacional (CNCS, na sigla em francês) especificamente” para os Jogos Olímpicos e o Campeonato Mundial de Rugby.
Esta “estrutura temporária será ativada entre setembro e outubro de 2023 [período do evento d rugby] e depois entre maio e setembro de 2024 [quando ocorre o revezamento da tocha olímpica]”.
Consumo de álcool, entorpecentes e poluição sonora
Já quanto à força policial mobilizada, a rádio Europe 1 transmitiu informações que afirmam que até 80% dos agentes policiais poderiam ser acionados durante o campeonato de rugby. Procurado pela France 24, o Ministério do Interior antecipou que Gérald Darmanin realizará uma entrevista coletiva na quarta-feira (6), às 9h, quando deverá detalhar as medidas de segurança durante o evento esportivo.
A Polícia Nacional já indicou no X (antigo Twitter) que será “mobilizada em massa” nas cidades-sede “para garantir a segurança do público e dos jogadores”. Em seu site, é possível encontrar, desde julho, uma relação de leis e medidas a serem tomadas durante a competição no que diz respeito ao consumo de álcool, entorpecentes ou mesmo poluição sonora.
#JeudiPhoto | À J-8 du lancement de la Coupe du monde de rugby #RWC2023, nous sommes prêts !
— Police nationale (@PoliceNationale) August 31, 2023
Dans les villes hôtes, la police nationale sera mobilisée en force sur le terrain pour assurer la sécurité du public et des joueurs. pic.twitter.com/JKnhSl5y5N
Para Carole Gomez, a França deve “ser capaz de organizar a Copa do Mundo para que esta passe a fazer parte da diplomacia esportiva francesa. Quer dizer, dar uma imagem positiva do país ao mesmo tempo em que atua a nível esportivo”. Para Paris, trata-se também de “promover um certo número de debates oficiais e não-oficiais e se mostrar no centro do reator do desporto internacional”.
Além disso, a organização do evento é fruto de “uma política levada a cabo tanto pelo Ministério do Desporto como pelo Ministério dos Assuntos Estrangeiros, que visa fazer do desporto uma questão diplomática”, especifica a especialista.
Esta característica foi recordada pelo presidente Emmanuel Macron durante uma conferência de embaixadores no final de agosto. Referindo-se ao Mundial de Rugby, o chefe de Estado falou de um “evento diplomático, um evento de influência”, quando “muitos líderes, particularmente do Hemisfério Sul”, estarão em Paris.
Greves
A França deve responder às expectativas dos visitantes e torcedores em dois pontos principais. Em primeiro lugar, na qualidade do espetáculo. "Vamos lembrar desta competição pelas partidas, reviravoltas, atuações excepcionais. Mas isso não é responsabilidade do comitê organizador ou do país organizador", continua Carole Gomez.
No entanto, a boa impressão quanto a “capacidade de acolhimento, por meio de questões de fluidez, ambiente, transportes, acessibilidade e visita ao país” são papel da França.
Em relação aos transportes públicos, movimentos sociais já são aguardados na região de Île-de-France e em outras localidades do país durante o evento esportivo. Um aviso de greve foi apresentado por dois sindicatos da RATP para 8 de setembro, dia do início do torneio.
Também é esperada uma greve entre os controladores de tráfego aéreo. Um edital foi protocolado pelo maior sindicato da profissão, o SNCTA, para o dia 15 de setembro, pelo prazo de 24 horas. O suficiente para perturbar os céus da França, uma semana após o início do torneio. Em um comunicado publicado em seu site, o comitê nacional da SNCTA “apela à mobilização para fazer face à inflação e ao estabelecimento de negociações anuais obrigatórias”.
Pelo visto, muitos serão os desafios se a França quiser transformar o Mundial de Rugby em um ensaio realmente bem-sucedido para Paris 2024.
(Com informações da France 24)
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro